Inovação e Excelência, um retrato do Departamento de Química
Em entrevista, Artur Valente, diretor do Departamento de Química da Universidade de Coimbra (DQUC) explica como os cursos pioneiros da instituição, a juntar ao corpo docente qualificado, às instalações bem preparadas e à constante colaboração com a indústria e instituições internacionais têm garantido uma elevada empregabilidade dos recém-formados, contribuindo significativamente para avanços na área.
Perspetiva Atual (PA): Quais os fatores que distinguem o Departamento de Química (DQ) na formação das suas áreas de saber em Portugal?
Artur Valente (AV): O DQ ministra os cursos de Licenciatura em Química e em Química Medicinal, os Mestrados em Química, Química Forense, Química Medicinal e no Ensino da Física e da Química, e ainda o Programa Doutoral em Química. As licenciaturas em Química Medicinal e o Mestrado em Química Forense foram inovadores aquando da sua implementação e tiveram como desiderato responder aos desafios das necessidades da sociedade e indústria. O corpo docente altamente qualificado e a existência de instalações laboratoriais e equipamentos modernos permite que em todos os cursos os nossos alunos adquirem competências experimentais no manuseamento das técnicas mais modernas, aliado a uma componente teórica que lhes permite responder aos desafios diários de resolução de problemas, aquando no mercado de trabalho, e ainda num comportamento ético e responsável. A qualidade desta formação consubstancia-se com a empregabilidade total dos nossos alunos na indústria e laboratórios diversos, quer na área da qualidade quer na área da produção, na área da investigação e desenvolvimento, e como professores do Ensino Básico e Secundário.
PA: Com a recente mudança de direção no Departamento de Química da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, qual tem sido a linha estratégica da nova gestão? Neste caso, poderia destacar algumas das ações já levadas a cabo em prol do reconhecimento e consolidação da instituição?
AV: Os Cursos de Química nas Universidades portuguesas, incluindo os da UC, passam por um período desafiante, devido ao pouco interesse que esta área do saber, que é central ao desenvolvimento e sustentabilidade da nossa sociedade, tem vindo despertar nos mais jovens. Desta forma, o DQ tem como prioridade atrair mais jovens para os diferentes cursos lecionados no Departamento de Química, dando-lhes uma sólida formação, o que lhes permite entrar no mercado de trabalho após três meses da conclusão do curso e com empregabilidade total de acordo com os dados do Instituto de Emprego. Assim, a prioridade desta direção tem sido encontrar canais de divulgação (Instagram, YouTube, etc.) da nossa formação, assim como continuar a fazer divulgação nas Escolas, desde o Ensino Primário ao Ensino Secundário. A atração de alunos internacionais é, também, uma prioridade do Departamento de Química. A dinâmica do Departamento também se faz na adaptação da oferta formativa através da lecionação de Cursos não conferentes de grau e novas disciplinas, tais como a Química Verde, com vista a adaptarmo-nos aos desafios societais e responder à necessidade de contribuirmos para uma sociedade sustentável. O Departamento de Química é uma instituição centenária. Mesmo assim, com um passado que nos orgulha, o presente e o futuro tendem a sorrir-nos. A cada vez maior interação com Empresas, através de projetos em colaboração ou a prestação de serviços, o número de patentes registadas, o número de publicações científicas da autoria dos nossos docentes e investigadores contribuem para a confirmação desse reconhecimento.
PA: Qual é a importância da vertente de Investigação para o Departamento de Química e como é que os resultados das investigações têm contribuído para o avanço do conhecimento científico?
AV: A Investigação e a transferência de saber são um pilar do Departamento de Química, na medida em que não há Universidade se esta não contribuir para o desenvolvimento do conhecimento. A Investigação realizada no Departamento de Química está enquadrada em dois centros de investigação: o Centro de Química de Coimbra e a Unidade de Química-Física Molecular. O Centro de Química de Coimbra é o maior centro de investigação, albergando mais de 100 investigadores, tendo sido avaliado com Excelente pela Fundação para a Ciência e Tecnologia.
A investigação realizada no Departamento de Química desenvolve-se em áreas tais como a Química Médica e Biológica, Catálise, Química Orgânica e de Polímeros, Química Computacional e Fotoquímica. Tendo por base uma forte componente de investigação fundamental, uma parte substancial da atividade dos diferentes grupos está relacionada com projetos de colaboração com empresas. Não menos importante, e espelho da qualidade de investigação aqui desenvolvida, é o número bastante significativo de Spin-Offs que foram criadas tendo como origem o Departamento de Química.
PA: Reconhecendo a importância de fortalecer presença internacional do Departamento de Química, que medidas têm sido implementadas para promover a mobilidade internacional dos alunos e pessoal docente?
AV: A Internacionalização do Departamento de Química é uma realidade há décadas. A internacionalização verifica-se num sem número de colaborações científicas com investigadores das mais prestigiadas universidades internacionais, na presença de docentes no corpo editorial de imensas revistas científicas de prestígio e na mobilidade de docentes e estudantes no âmbito do programa Erasmus+. Um outro ponto importante da internacionalização do Departamento de Química é a existência de um conjunto significativo de acordos de co-tutela de alunos de doutoramento, bem como a existência de Cursos de Mestrado e Doutoramento Europeus. Salienta-se ainda que o Departamento de Química recebe anualmente alunos Erasmus bem como alunos de mestrado e doutoramento estrangeiros para efetuarem trabalho de investigação nos diferentes grupos de investigação. O Departamento de Química é também um local de eleição para a organização de Congressos Nacionais e Internacionais. Nos próximos meses cerca de um milhar de investigadores nacionais e estrangeiros reunir-se-ão no nosso Departamento no âmbito de quatro congressos distintos. Tal só é possível pelo prestígio alcançado pelos nossos docentes e investigadores e reconhecido pela comunidade internacional.
PA: Há três anos que o Departamento de Química possui um canal de YouTube, no qual disponibilizam palestras em streaming. Evidentemente, esta iniciativa é um reconhecer da importância do digital enquanto ferramenta de ensino contemporânea, mas tem também contribuído para a difusão do conhecimento além das fronteiras físicas da Faculdade?
AV: Este é um ponto muito relevante que teve como origem a necessidade de adaptação a uma nova realidade criada pela pandemia. De facto, para um canal digital de nicho, pois trata-se da disponibilização de conteúdos de Química, o número de visualizações demonstra que esta iniciativa vai além das fronteiras físicas da UC. O retorno que temos recebido de comunidades científicas estrangeiras, de entre as quais gostaria de citar a brasileira, é muito relevante. Assim, iremos, a partir do próximo ano letivo, aumentar o número de conteúdos disponibilizados, a começar pelos seminários de “30 minutos de Química” onde estudantes de doutoramento falam sobre as suas pesquisas, e que tem tido uma adesão e um sucesso muito significativo.
PA: Quais serão as principais prioridades e iniciativas que pretendem implementar para promover e impulsionar o desenvolvimento académico, científico e institucional do Departamento nos próximos anos?
AV: Temos prioridades a diferentes níveis. O edifício do Departamento de Química celebra 50 anos da sua inauguração, sendo necessário, por isso, a modernização de laboratórios e equipamentos didáticos. Um outro objetivo é o aumento de alunos inscritos no mestrado do Ensino da Física e da Química, assim como continuarmos os esforços para aumentar a atratividade dos cursos de Química. Ao nível da investigação, além de dar continuidade e iniciar novos projetos de caráter fundamental, que fazem parte do DNA do DQUC, pretendemos continuar a colaborar com as empresas nacionais quer através da prestação de serviços especializados quer através da contribuição para uma maior competitividade, pelo desenvolvimento de produtos e serviços de valor acrescentado.
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