Um ano de transformações: ULS do Oeste avança com novos serviços

A Unidade Local de Saúde do Oeste (ULSO) entrou em funcionamento em 2024, com a agregação do Centro Hospitalar do Oeste ao Agrupamento de Centros de Saúde do Oeste Norte e Sul. No balanço deste primeiro ano, a Presidente do Conselho de Administração, Elsa Baião, aponta a evolução da telerreabilitação, a realização de vídeo-consultas nos cuidados primários e a maior articulação entre os cuidados hospitalares como as principais conquistas. A ULSO pretende alargar os serviços e reforçar a colaboração de proximidade com autarquias e outras entidades locais.

Perspetiva Atual: Há um ano, a ULS do Oeste dava os primeiros passos na agregação do Centro Hospitalar do Oeste com o ACES Oeste Norte e o ACES Oeste Sul. Desde então, enquanto Presidente do Conselho de Administração, quais acredita terem sido os maiores progressos e obstáculos desta Unidade Local de Saúde?

Elsa Baião: A criação e expansão das ULS representa, de facto, um marco na tentativa de modernização do SNS, com o objetivo de promover uma gestão mais integrada e eficiente dos recursos de saúde. Contudo, o sucesso deste modelo depende de um equilíbrio delicado entre a gestão integrada dos cuidados de saúde e a mudança cultural que exige. Refira-se que a criação das ULS tem apenas um ano, exigindo uma mudança de paradigma e de cultura institucional, que necessita de tempo para amadurecer. Os maiores progressos no último ano prendem-se com as sinergias que conseguimos desenvolver para benefício do utente, nomeadamente o desenvolvimento de percursos integrados dos doentes, as consultas descentralizadas, o trabalho conjunto dos cuidados hospitalares, primários e continuados na reconciliação terapêutica, a criação da equipa de integração de cuidados, a telemonitorização de doentes crónicos, as vídeo-consultas nos cuidados primários, o incremento da consulta do dia para a doença aguda nos cuidados de saúde primários, o incremento dos rastreios, a internalização de exames e a criação da equipa comunitária de cuidados paliativos. O desafio passa por assegurar que este modelo, que dá agora os primeiros passos, implemente no curto prazo uma efetiva integração de cuidados, com maior proximidade aos utentes, melhorando a articulação entre profissionais e equipas, com a participação dos cidadãos, das autarquias e parceiros locais.

PA: Na última entrevista dada à Perspetiva Atual, foi mencionado o objetivo de amplificar o projeto de telerreabilitação, na área da Fisioterapia, incluindo o tratamento de patologias do membro inferior e a sua implementação nos cuidados primários. A expansão do serviço já foi concretizada?

EB: A ULS Oeste ampliou em agosto de 2024, aos cuidados de saúde primários o projeto de telerreabilitação, iniciado nos cuidados hospitalares em 2020. De igual modo, o número de patologias foi expandido, abrangendo agora condições subagudas, para além da patologia crónica do ombro, inicialmente disponível. Recentemente, ficaram acessíveis exercícios para o membro superior, específicos para o punho e mão, para o membro inferior, coluna, mobilidade geral e treino cognitivo. Estes exercícios incluem fortalecimento muscular, mobilidade, equilíbrio, e exercícios para melhorar as funções mentais e cardiorrespiratórias. A telerreabilitação tem demonstrado ser eficaz para pessoas portadoras de próteses de joelho ou anca, bem como no treino do equilíbrio. Oferece inúmeras vantagens para a mobilidade geral na população idosa, promovendo o equilíbrio e prevenindo quedas, uma das principais causas de hospitalização entre os idosos. O programa de telerreabilitação da ULS Oeste evitou que os utentes precisassem se deslocar até às unidades de saúde, resultando numa economia total de 62.560 km não percorridos e numa poupança de 12.513,24 kg de CO2, segundo o Oeste Sustentável – Agência Regional de Energia e Ambiente.


PA: A tecnologia tem desempenhado um papel crescente na área da saúde. As “vídeoconsultastêm sido uma inovação bem recebida pela comunidade nos cuidados primários? Considerando o impacto positivo na acessibilidade e no atendimento, essa solução pode transformar o futuro dos cuidados de saúde?

EB: As vídeo-consultas apresentam-se como uma solução de telesaúde que permite a aproximação de recursos diferenciados às pessoas que deles necessitam. Temos designado desta forma, por forma a que seja claro para as pessoas que as consultas se realizam no Centro de Saúde, com a presença da equipa que conhecem e em quem confiam. Assim, é possível suprir dificuldades de acesso que existiam anteriormente, com realização de consultas de recurso que permitem dar resposta às necessidades expressas pelos utentes, nos seus pedidos de consulta, mas também promover de forma proactiva, a intervenção dos serviços de saúde na promoção das consultas de vigilância, especialmente para os grupos de risco e vulneráveis: para pessoas com diabetes, doenças crónicas, ou vulnerabilidade pela idade mais avançada. O facto de as consultas se desenrolarem no Centro de Saúde e com apoio dos profissionais presentes no local, aliado à experiência e competências técnicas dos profissionais que se encontram remotamente, têm feito com que as pessoas se sintam progressivamente mais confiantes no modelo e nas abordagens propostas e intervenções adotadas.

PA: Paralelamente, foi também criada uma equipa de integração de cuidados primários, de modo a interligar mais facilmente o hospital à comunidade. Que melhorias têm sido observadas?

EB: A Equipa de Integração de Cuidados nasceu dos contributos dos profissionais da ULS aquando da sua constituição. É uma equipa multidisciplinar que procura promover uma cultura de integração de cuidados entre todos os colaboradores da ULS Oeste, estimular a adoção de boas práticas na integração de cuidados, promover a cultura de segurança da pessoa doente no seu contexto natural, disponibilizar assessoria técnica aos profissionais mediante a referenciação de situações concretas e contribuir para o desenvolvimento contínuo de registo e monitorização do processo de integração de cuidados com base na melhor evidência científica disponível. Foram dados os primeiros passos na melhoria da articulação entre níveis de cuidados aquando da alta hospitalar, tendo sido identificados os modelos de articulação e de facilitação do contacto que permita assegurar o regresso ao ambiente natural com suporte adequado das equipas de família ou, das equipas transversais de apoio na comunidade e com envolvimento das instituições do setor social que atuam neste âmbito. Foram identificados processos críticos em que a articulação entre cuidados não estava acautelada e em que são necessários canais de comunicação diretos e melhor informação prestada aos cidadãos, para que utilizem os circuitos adequados à sua situação de saúde. Foi adequado o momento de referenciação da pessoa vulnerável internada e com necessidade de referenciação para a Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados. A Equipa de Integração de Cuidados não se pretende substituir à articulação direta entre os profissionais e serviços, atuando antes como eixo que permita a circulação fluida do utente ou doente entre os diferentes níveis de cuidados ou valências. No entanto, tem tido intervenção direta em casos concretos e está aberta à referenciação interna quando são identificados desafios específicos, como forma de facilitar a articulação de cuidados.

PA: A ULS do Oeste tem promovido bastantes ações de sensibilização. Em março, assinalou-se o dia Mundial da Incontinência Urinária e no âmbito da comemoração do Mundial da Saúde Oral, a equipa do Serviço de Saúde Oral do Centro de Saúde da Lourinhã dirigiu-se ao Agrupamento de Escolas D. Lourenço Vicente. De que forma a sensibilização contribui para a evolução da medicina e a educação da comunidade?

EB: Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), as doenças orais atingem quase metade da população mundial, sendo a cárie dentária a doença mais prevalente em toda a população, afetando cerca de 2,5 mil milhões de pessoas.

No concelho da Lourinhã, estima-se que aproximadamente 21.236 adultos e 3.404 crianças/adolescentes, desde o pré-escolar, 1º, 2º,3º ciclos e secundário, sejam abrangidos pelo Programa Nacional de Promoção de Saúde Oral, desenvolvido pela Higienista Oral e Médica Dentista do Centro de Saúde da Lourinhã. Este programa desempenha um papel fundamental na prevenção e tratamento das doenças orais, promovendo o acesso a cuidados de saúde e criando hábitos de higiene oral e alimentação saudável.  A promoção da saúde oral é essencial para reduzir a incidência de cáries e outras patologias orais, melhorando assim a qualidade de vida da população. O acesso a consultas regulares, rastreios e tratamentos preventivos adequados permite não só evitar complicações futuras, mas também garantir um impacto positivo na saúde oral e geral dos cidadãos. As iniciativas na comunidade permitem reduzir as barreiras e preconceitos no acesso e na utilização dos serviços, ao mesmo tempo que imprimem na população mais jovem os hábitos adequados para uma boa higiene oral.

PA: A Unidade Local de Saúde do Oeste vai iniciar, em breve, a substituição da cobertura em fibrocimento do Hospital de Peniche. Considera que as infraestruturas são um dos pilares fundamentais para a segurança e qualidade dos cuidados de saúde?

EB: As infraestruturas hospitalares constituem um fator fundamental na prestação de cuidados de saúde, quer sejam equipamentos ou instalações. A inovação tecnológica, associada à permanente necessidade de renovação de equipamentos obsoletos, é uma constante preocupação dos agentes responsáveis pelo funcionamento das unidades de saúde, uma vez que delas depende a célere e correta realização dos diagnósticos, bem como a segurança dos intervenientes, sejam profissionais de saúde, sejam utentes. Os edifícios onde decorrem as prestações de cuidados de saúde são locais complexos, em que é necessário conjugar condições de funcionamento, através de centrais térmicas, sistemas de climatização e instalações elétricas, com outras muito sensíveis e de grau de assepsia elevado, como sejam blocos operatórios, quartos de isolamento, neonatologia, entre outros. Acresce que sendo edifícios que funcionam 365 dias e 24 horas por dia, é crucial a atenção permanente, não só em termos de inovação, como de manutenção. No caso concreto do projeto de substituição da cobertura em fibrocimento na Unidade Hospital de Peniche, tem um valor bruto total de 803 mil euros, com prazo de execução de 180 dias, prevendo-se que empreitada decorra até ao final do presente ano. Este investimento assegura uma enorme valia, quer em termos de saúde publica, como em termos de sustentabilidade ambiental pública.

PA: A recomendação de ligar para o SNS 24, antes de levar uma criança à urgência, tem sido eficaz na orientação dos pais? Quais têm sido os principais benefícios dessa abordagem no atendimento pediátrico?

EB: A triagem prévia é uma metodologia valiosa na orientação dos pais e cuidadores, no propósito de garantir que as crianças recebem o atendimento adequado em tempo oportuno e no local apropriado à sua situação clínica. O ambiente hospitalar e o serviço de urgência em particular, concentram muitos microrganismos, aumentando o risco de contágio. Garantindo como benefício principal a segurança das crianças, a deslocação e a permanência desnecessária no hospital é de evitar, quando clinicamente não seja justificada. Por outro lado, a sobrecarga dos serviços de urgência contribui para atrasos na observação, causando um aumento no tempo de permanência, logo maior risco.

Neste sentido, com a adesão ao projeto «Ligue Antes, Salve Vidas», a ULS Oeste planeia e concretiza a resposta assistencial, garantindo sempre a prestação de cuidados de saúde adequada à condição clínica das crianças, seja nos cuidados de saúde primários, e/ou nas unidades hospitalares, articulando e priorizando com a triagem prévia do SNS24. Na ULS Oeste, no 1º trimestre de 2025, comparativamente ao ano 2024, o número de atendimentos (triagem) teve uma redução de 21,12% (-2.742) atendimentos, o que reflete igualmente uma redução do número de situações de doenças ligeiras (verdes e azuis). Reduziu-se assim o tempo de espera e de permanência nos serviços de urgência, resultando, por um lado, em menos sobrecarga dos serviços e das equipas, e por outro, na melhoria da capacidade para manter a qualidade dos serviços prestados, tanto na urgência, como nas outras atividades inerentes à pediatria, e salvaguardando que todas as crianças recebem o cuidado necessário, no momento clinicamente apropriado e no local certo, dentro da ULS.

PA: Por último, quais são os planos futuros da ULS do Oeste para melhorar os serviços prestados à população e como pretendem envolver a comunidade nesse processo?

EB: Em Portugal, no presente, estamos perante uma significativa mudança no perfil demográfico e epidemiológico, com o envelhecimento da população e o aumento das doenças crónicas. Considerando a diversidade de cuidados prestados pelo SNS, a dispersão territorial das unidades de saúde, a autonomia técnica dos profissionais, os custos crescentes e as expectativas de uma sociedade mais informada e exigente é, portanto, expectável que o SNS seja uma organização cada vez mais complexa. Tal complexidade justifica a necessidade de criar uma estrutura propensa à dinamização da integração de cuidados e assim dar uma resposta assistencial articulada entre as unidades de saúde do SNS, doentes e parceiros locais, garantindo o funcionamento em rede. Nessa perspetiva, é crucial potenciar uma maior proximidade das instituições de uma determinada área geográfica. Tal desígnio visa melhorar a participação dos cidadãos, das comunidades, dos profissionais de saúde e das autarquias, maximizando o acesso e a eficiência do SNS, materializada na criação de uma única entidade que agregue todos estes fatores e potencialize a sua ação como um todo. É este o objetivo subjacente à criação da Unidade Local de Saúde do Oeste. Este modelo organizacional envolve a partilha de recursos humanos e materiais entre os vários stakeholders, para além da implementação de fluxos de comunicação integrados, mais sistemáticos e simplificados. Neste contexto, é essencial envolver as autarquias, lares de idosos, unidades de cuidados continuados, instituições privadas de saúde, associações de utentes, escolas e outros stakeholders regionais, num projeto comum, que previna a doença e promova a saúde, para além de monitorização de doentes crónicos. Estas instituições estão próximas da população, colaborando na complementaridade de recursos e na promoção de estilos de vida saudáveis, como seja através da promoção do exercício físico, da alimentação saudável ou de palestras sobre temas relacionados com a saúde. O objetivo é capacitar cada vez mais o cidadão, funcionar em rede e em complementaridade com a comunidade em que estamos inseridos.

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