A Ciência e a transferência de tecnologia ao serviço do futuro da sensorização, computação e das comunicações

Com polos em Aveiro, Coimbra e Lisboa e quase mil investigadores, o Instituto de Telecomunicações (IT) garante “condições únicas” para a continuidade de carreiras científicas e para o futuro da investigação nas áreas da Futura Geração das Comunicações Móveis (6G), da Inteligência Artificial (IA) e da Comunicação e Computação Quânticas. Segundo José Carlos Pedro, Presidente do IT, o Instituto “expandiu-se tanto na diversidade de componentes da sua missão, como em novas áreas científicas, e em diferentes polos e delegações no país”. O IT mantém vagas continuamente abertas para a integração de novos investigadores.

Perspetiva Atual – O Instituto de Telecomunicações (IT) conta com três décadas de existência e é resultado de uma colaboração entre nove instituições académicas. Que marcos considera terem sido determinantes para o posicionamento do IT como uma referência no panorama científico nacional e internacional?

José Carlos Pedro: O Instituto de Telecomunicações (IT) nasceu em 1992, com a missão de impulsionar a investigação em telecomunicações em Portugal. Ao longo de mais de três décadas, essa missão expandiu-se, tanto em novas áreas científicas como em diferentes polos e delegações no país. Hoje, o IT é reconhecido como um centro de investigação de referência em Tecnologias da Informação e da Comunicação (TIC), com significativo impacto na sociedade e na economia.

O Instituto é parceiro de várias instituições de ensino superior, entre as quais o Instituto Superior Técnico, a Universidade de Aveiro, a Universidade de Coimbra, a Universidade do Porto, a Universidade da Beira Interior, o Politécnico de Leiria e a Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, além de dois associados empresariais. Este modelo colaborativo tem permitido alcançar resultados notáveis, apoiados por uma comunidade diversa de cerca de 980 membros, que inclui investigadores, doutorandos, mestrandos e bolseiros.
Ao proporcionar o acesso a laboratórios avançados e recursos essenciais, o IT garante condições únicas para a continuidade de carreiras científicas e para o desenvolvimento de investigação de elevado nível no país, participando inclusivamente em estudos que contribuem para a produção de políticas públicas no sector.
O IT é reconhecido como Laboratório Associado desde 2001, como Centro de Tecnologia e Inovação (CTI) desde 2018, tendo sido distinguido pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) como Unidade de Investigação e Desenvolvimento (I&D) de excelência.

©Instituto de Telecomunicações

PA: Anualmente, o IT participa em mais de 170 projetos, dos quais cerca de 30 a 40 possuem financiamento europeu. Poderia destacar alguns projetos em curso?

JCP: O IT apresenta uma relevante atividade científica, acolhendo projetos de investigação que são, em simultâneo, conquistas pessoais dos investigadores que os lideram. Para responder a esta dinâmica, o IT mantém em permanência vagas abertas para contratação de novos investigadores.
Só nos últimos quatro anos, o Instituto integrou 469 projetos, financiados por entidades nacionais e internacionais proeminentes. Entre os nossos financiadores contam-se o Plano de Recuperação e Resiliência (Next Generation EU), a Agência Nacional de Inovação (ANI), o COMPETE2030-FEDER, a Huawei Technologies, a European Space Agency (ESA), a Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), a Comissão Europeia, com destaque especial para as prestigiadas bolsas do European Research Council (ERC). Até à data, o IT já acolheu três destas bolsas, duas de iniciação e uma de consolidação, um sinal claro do mérito dos seus investigadores e da qualidade do ambiente científico que o Instituto proporciona.

Os projetos em curso abrangem áreas diversas de grande impacto. Entre eles estão o PTQCI, que integra a estratégia nacional para a implementação de infraestruturas de comunicações quânticas seguras, desenvolvido em parceria com o Ministério da Defesa e com a indústria de Espanha, Itália e Áustria. Na área da inteligência artificial e ciência da informação distingue-se o DECOLLAGE, que procura desenvolver modelos de linguagem mais inteligentes. Na área de criptografia e informação quântica, deve mencionar-se o projeto LESYNCH que visa desenvolver novas técnicas para estudar canais de comunicação com perda de sincronização, como pode ser o caso de alguns dígitos poderem ser eliminados na mensagem final, dificultando a sua comparação com a mensagem inicial.

©Instituto de Telecomunicações

PA: O IT possui redes de colaboração que abrangem parcerias estratégicas com empresas como a Altice Labs e a Nokia. Como se estrutura e gere o trabalho numa organização de tão ampla dimensão e diversidade?

JCP: Ao contrário de muitas outras unidades de investigação científica que se integram nas instituições académicas a que pertencem, o IT constitui-se como uma instituição privada sem fins lucrativos, ou seja, uma entidade com estatuto jurídico totalmente independente. Tal condição confere-lhe uma autonomia de gestão e financeira significativamente maior, mas também exige um corpo próprio de serviços administrativos de apoio, como as divisões de recursos humanos, de gestão financeira, de gestão de projetos e de gestão de infraestruturas, entre outras competências essenciais ao desenvolvimento da sua atividade.

Com o objetivo de alcançar um equilíbrio adequado entre a liberdade de investigação e a coesão institucional, o IT, embora tenha como órgão máximo de gestão uma Direção, delega responsabilidades de gestão às Comissões de Gestão dos seus três polos (Aveiro, Coimbra e Lisboa), uma dinâmica que se tornou imprescindível a uma maior eficácia e eficiência na gestão de uma estrutura multipolar, como é o caso do IT.

Este estatuto jurídico de instituição privada sem fins lucrativos, cujo custo inerente é a necessidade de um suporte administrativo mais robusto, traduz-se, contudo, num benefício significativo: a flexibilidade na gestão, frequentemente limitada pela rigidez de uma administração pública pesada e lenta, que, aliada à ligação do IT à indústria e ao setor privado, reforça a sua vantagem competitiva.

©Instituto de Telecomunicações

PA: Considerando a associação do Instituto a várias universidades, qual é o papel que os estudantes desempenham no âmbito da investigação?

JCP: No IT, estudantes de mestrado e doutoramento encontram um ambiente singular para desenvolver as suas teses, integrados em projetos científicos de ponta. Acompanhados por investigadores de referência e professores universitários, em estreita articulação com as instituições de ensino superior, os alunos têm a oportunidade de explorar plenamente o seu potencial académico e científico.

Deste encontro entre talento jovem e experiência consolidada têm surgido várias spin-offs, que transformam a investigação científica em inovação, e, consequentemente, em valor económico.
Para muitos destes estudantes, o percurso culmina numa entrada quase imediata no mercado de trabalho, reflexo direto da qualidade da formação e da sólida ligação entre o IT, a academia, a sociedade e a indústria.

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