Cuidar do coração é cuidar da vida
Iniciado em 2001 por Jorge Humberto Correia Guardado, o UCARDIO reúne uma equipa multisciplinar num propósito comum: acompanhar cada doente de forma integral, com atenção à prevenção, educação em saúde, gestão de fatores de risco, promoção do bem-estar e apoio psicológico. Um ano após a sua última entrevista à Perspetiva Atual, o Diretor Clínico regressa para avaliar o percurso percorrido, os avanços na investigação e na aposta em inteligência artificial, além de perspetivar os próximos desafios.
Perspetiva Atual: O Centro Clínico Unidade Cardiovascular (UCARDIO) resulta da evolução do consultório de cardiologia, iniciado em 2001 pelo Dr. Jorge Humberto Correia Guardado, estando inserido atualmente na SPAMEDIC, empresa dedicada à gestão de cuidados de saúde. De que forma a expansão e modernização do UCARDIO tem contribuído para o desenvolvimento dos cuidados cardiovasculares?
Jorge Guardado: Em primeiro lugar, a expansão do UCARDIO permitiu consolidar uma oferta abrangente de especialidades e subespecialidades em cardiologia. Para além da cardiologia clínica, dispomos hoje de Cardiologia de Intervenção, Arritmologia | Electrofisiologia Cardíaca e Laboratório de Ecocardiografia Avançada. A esta estrutura juntam-se ainda especialidades complementares essenciais à abordagem integrada do doente, como cirurgia vascular, pneumologia, psiquiatria, reumatologia, ginecologia, entre outras.
Essa diversidade permite uma abordagem multidisciplinar e integrada: muitos doentes com problemas cardíacos têm comorbilidades, e o UCARDIO está estruturado para garantir que o diagnóstico e o tratamento sejam pensados de forma global, não fragmentada.
Adicionalmente, a modernização do centro, através da aquisição de tecnologia de ponta e da introdução de técnicas especializadas, em particular a Ecocardiografia de Sobrecarga (Esforço ou Farmacológica), permitiu oferecer exames de elevada sensibilidade e especificidade, muitas vezes disponíveis apenas em contexto hospitalar. Com isso conseguimos fazer diagnósticos mais precisos e precoces das Doenças Cardiovasculares (coronária, valvular, miocardiopatias, insuficiência cardíaca e arritmias), o que se traduz em tratamentos mais precoces, adequados e melhores resultados clínicos.
Em termos de qualidade de serviço, obter a certificação NP EN ISO 9001 demonstra o nosso compromisso com elevados padrões de segurança, eficiência e satisfação dos utentes. Essa certificação reforça a fiabilidade dos processos clínicos, administrativos e de atendimento, contribuindo para um ambiente onde o doente é tratado com rigor e consistência.
Outro contributo importante e marca do nosso ADN advém da filosofia de proximidade e continuidade de cuidados: cada utente tem habitualmente um médico responsável, mas em caso de urgência ou indisponibilidade, há flexibilidade para ser atendido por outro especialista, assegurando rapidez e resposta contínua às necessidades.
A evolução do UCARDIO permitiu consolidar um modelo de “medicina integrada” que combina prevenção, diagnóstico, tratamento com o acompanhamento global do doente. Isso representa um valor significativo para a comunidade, sobretudo num contexto onde as doenças cardiovasculares exigem frequentemente uma abordagem complexa e multifatorial.
Este conjunto de fatores tem elevado a qualidade dos cuidados prestados aos nossos doentes e afirmado o papel do UCARDIO como um ator relevante na saúde cardiovascular.

PA: Para além da cardiologia, o UCARDIO reúne várias especialidades médicas, dispõe de uma rede complementar de bem-estar e meios complementares de diagnóstico. Esta combinação multidisciplinar permite ao UCARDIO oferecer um cuidado mais completo e centrado no utente?
JG: Desde o início procurámos que o UCARDIO fosse muito mais do que um serviço de cardiologia isolado. A aposta numa combinação de várias especialidades médicas, junto de uma rede de bem-estar e meios complementares de diagnóstico, permite-nos oferecer aos utentes um cuidado verdadeiramente holístico e centrado na sua saúde global.
Por um lado, a presença de especialidades associadas, tais como medicina interna, pneumologia, cirurgia vascular e outras áreas complementares, possibilita a avaliação e o tratamento das doenças associadas ou concomitantes às patologias cardiovasculares. Isso assegura que, quando um doente procura ajuda para o coração, todo o seu perfil médico é considerado, incluindo fatores de risco, comorbilidades e aspetos de saúde relacionados.
Por outro lado, a integração de meios complementares de diagnóstico e serviços de bem-estar, como ecografia avançada, exames não invasivos, acompanhamento sistemático e estratégias preventivas, permite-nos acompanhar o utente de forma contínua, identificar precocemente potenciais riscos cardiovasculares e intervir antes do surgimento de doença significativa.
Esse modelo multidisciplinar e integrado traduz-se num cuidado mais completo, eficiente e humano: o utente sente-se acompanhado não apenas no tratamento de uma doença, mas no seu bem-estar global e na prevenção de futuras recorrências e resultados a longo prazo.
Nesse sentido, o UCARDIO afirma-se como estrutura capaz de prestar cuidados cardiovasculares e médicos de proximidade, com qualidade, rigor e humanidade.
PA: O corpo clínico do UCARDIO é constituído por 44 médicos e 21 Técnicos Superiores de Saúde. Em termos de equipa, como são selecionados os profissionais que integram o Centro Clínico e que critérios são essenciais para assegurar a qualidade e a excelência dos serviços prestados?
JG: O corpo clínico do UCARDIO representa hoje uma estrutura significativamente mais abrangente do que a equipa que opera diretamente na nossa clínica em Riachos. Contamos com um conjunto alargado de especialistas distribuídos por toda a nossa rede, incluindo as regiões de Lisboa, Setúbal, Montijo e Costa da Caparica. A partir do UCARDIO Riachos, coordenamos toda esta operação, garantindo uniformidade de processos, coerência técnica e continuidade de cuidados.
“O futuro do UCARDIO está ancorado em três eixos estratégicos: expansão, inovação e investigação clínica”
A seleção dos nossos profissionais baseia-se num conjunto de critérios rigorosos que sustentam a qualidade diferenciada do UCARDIO. Procuramos médicos e técnicos com formação sólida, experiência em contexto clínico exigente e atualização permanente face às guidelines nacionais e internacionais. Além da competência técnica, valorizamos a capacidade de integração em equipas multidisciplinares, a adesão a padrões éticos elevados e um compromisso real com a humanização e a proximidade no atendimento, elementos que caracterizam a identidade UCARDIO.
A expansão da nossa atuação reforça a importância deste rigor. O UCARDIO dispõe hoje de um corpo clínico amplo composto por 65 elementos, integrado e distribuído estrategicamente no território onde temos as nossas parcerias. A seleção criteriosa dos nossos profissionais e a supervisão centralizada da qualidade e rigor permitem-nos garantir um serviço consistente, seguro e verdadeiramente centrado no utente, independentemente da unidade onde este é acompanhado.
PA: O UCARDIO conta com uma extensa rede de parceiros. Poderia explicar de que modo estas colaborações apoiam o trabalho desta instituição e que resultados têm permitido alcançar?
JG: A rede de parceiros do UCARDIO tornou-se um elemento estratégico e fundamental para a nossa capacidade de oferecer cuidados cardiovasculares de elevado nível. Esta estratégia amplia a nossa expansão geográfica, reforça a nossa capacidade técnica e permite-nos disponibilizar serviços diferenciados em contextos diversificados, desde cuidados de proximidade até ambientes hospitalares complexos.
As parcerias estabelecidas com entidades como a Santa Casa da Misericórdia do Entroncamento, nas Clínicas do Grupo Affidea (Tomar, Entroncamento, Costa da Caparica, Lisboa Oriente, Montijo, Setúbal e Baixa da Banheira), no Heart Center do Hospital Cruz Vermelha Portuguesa (HCVP), entre outras, permitem integrar equipas, protocolos clínicos, meios complementares de diagnóstico e de intervenção sob um modelo comum de qualidade. Este alinhamento assegura que, independentemente do local onde o utente é observado, beneficia de padrões uniformes de rigor, eficiência e segurança.
Este formato também potencia ganhos de escala e partilha de conhecimento. Conseguimos articular diferentes especialidades, integrar tecnologia avançada, formar equipas em conjunto e promover uma resposta mais completa e atempada às necessidades dos doentes. Além disso, a proximidade entre unidades permite uma gestão mais eficiente dos fluxos assistenciais, encaminhando cada caso para o nível adequado de complexidade sem perda
de continuidade.
Os resultados são evidentes: maior acessibilidade, redução de tempos de resposta, melhoria da capacidade diagnóstica e terapêutica, maior conforto para o utente e uma atuação clínica mais integrada e multidisciplinar. A nossa rede de parceiros não só fortalece a operação do UCARDIO como eleva a qualidade dos cuidados cardiovasculares prestados à comunidade, cumprindo a nossa missão de promover saúde com excelência, proximidade e responsabilidade.

PA: O coração é um órgão central para a vida, responsável por auxiliar cada função do corpo humano, visto que sem ele, nada existe. Considerando esta importância vital, poderia mencionar algum avanço significativo recente que tenha ajudado na prevenção, no diagnóstico ou no tratamento de doenças cardíacas?
JG: A cardiologia tem registado, nos últimos anos, avanços muito expressivos que revolucionaram a prevenção, o diagnóstico e o tratamento das doenças cardiovasculares. No UCARDIO, temos integrado estes progressos de forma concreta, tanto na prática clínica como na investigação que desenvolvemos.
Um dos avanços mais relevantes é a evolução da medicina personalizada e da estratificação de risco baseada em dados, que permite identificar precocemente doentes com maior probabilidade de desenvolver doenças cardiovasculares. Modelos preditivos, ferramentas digitais e scoring clínico avançado têm permitido intervenções preventivas mais precisas e eficazes.
Destaco igualmente os progressos na imagiologia cardiovascular, especialmente a ecocardiografia avançada, os testes de sobrecarga e as técnicas de avaliação funcional que hoje utilizamos rotineiramente no UCARDIO. Estes exames aumentaram a nossa capacidade de diagnosticar patologia estrutural e coronária numa fase inicial, com maior sensibilidade e melhor capacidade de decisão clínica.
No campo terapêutico, assistimos a melhorias significativas com novos fármacos para insuficiência cardíaca, dislipidemias e anticoagulação, bem como com dispositivos minimamente invasivos para arritmias e outras patologias estruturais.
Paralelamente, temos reforçado a nossa atuação na investigação clínica, participando em projetos e estudos que permitem aos nossos utentes ter acesso a tecnologias, terapêuticas e metodologias inovadoras. Este trabalho de investigação contribui não só para o avanço científico, mas também para elevar continuamente a qualidade dos cuidados que prestamos.
Assim, estes progressos aliados ao nosso compromisso com a investigação aplicada e na transição digital para a IA, têm reforçado o posicionamento do UCARDIO como uma unidade moderna, inovadora e alinhada com a evolução da cardiologia contemporânea.

PA: A X Reunião Clínica UCARDIO 2025, intitulada “Corações que Inspiram, Dados que Transformam”, realizou-se no dia 25 de outubro e trouxe à Biblioteca Municipal de Torres Novas palestras e debates sobre uma década de avanços em cardiologia, investigação e experiências clínicas centradas no paciente. Quais foram os critérios que levaram à escolha deste tema e que objetivos a reunião esperava atingir com esta escolha?
JG: A escolha do tema “Corações que Inspiram, Dados que Transformam” para a X Reunião Clínica UCARDIO 2025 refletiu dois vetores essenciais da nossa atuação: a humanização do cuidado e a crescente importância dos dados, da tecnologia e da investigação clínica na cardiologia atual.
“Corações que Inspiram” simboliza o foco absoluto no utente. A Reunião Anual UCARDIO 2025 procurou reforçar que cada avanço clínico existe para servir pessoas reais, cada uma com um percurso, necessidades específicas e desafios próprios. Por isso, incluímos sessões centradas em experiências clínicas, boas práticas e modelos de proximidade que definem o ADN do UCARDIO.
“Dados que Transformam” destaca o papel determinante da informação clínica, da inteligência artificial, das ferramentas de estratificação de risco e da análise de outcomes na melhoria contínua do cuidado.
Os resultados são evidentes: maior acessibilidade, redução de tempos de resposta, melhoria da capacidade diagnóstica e terapêutica, maior conforto para o utente e uma atuação clínica mais integrada e multidisciplinar. A nossa rede de parceiros não só fortalece a operação do UCARDIO como eleva a qualidade dos cuidados cardiovasculares prestados à comunidade, cumprindo a nossa missão de promover saúde com excelência, proximidade e responsabilidade.
Nos últimos anos, temos integrado estes recursos no nosso trabalho diário e também na nossa atividade de investigação clínica, que se tornou um pilar estratégico do UCARDIO. Através da investigação, estudamos novas abordagens de diagnóstico, avaliamos a eficácia de terapêuticas e participamos no desenvolvimento de conhecimento científico que contribui para a evolução da cardiologia.
A definição deste tema teve três objetivos principais: refletir os avanços técnico-científicos e tecnológicos da última década; dar destaque ao papel da investigação clínica como motor de inovação e melhoria da prática assistencial; promover a integração entre tecnologia, ciência e humanização, que constitui a visão de futuro do UCARDIO.
A reunião cumpriu o propósito: reforçou a importância de aliarmos conhecimento, dados e investigação a uma prática centrada no doente, consolidando o UCARDIO como uma instituição que lidera pela inovação, pela qualidade e pela responsabilidade clínica.
PA: Ainda relativamente ao evento, a conferência III teve como foco a Conjugalidade, Erotismo e Sexualidade. Qual é a relevância destas dimensões para a saúde cardiovascular e que impacto podem ter no bem-estar dos doentes?
JG: A escolha deste tema não foi casual e é já um contínuo das edições anteriores. A conjugalidade, o erotismo e a sexualidade fazem parte da vida humana e têm impacto direto no bem-estar emocional, psicológico e físico dos indivíduos. Estas dimensões, muitas vezes negligenciadas em contexto clínico, assumem particular relevância em cardiologia porque estão diretamente relacionadas com fatores como qualidade de vida, níveis de stress, vínculo afetivo, autoestima e estabilidade emocional.

Do ponto de vista clínico, sabemos hoje que relações afetivas saudáveis e sexualidade equilibrada contribuem para menor risco cardiovascular, menor incidência de depressão e ansiedade e melhor adesão às terapêuticas.
A abordagem destes temas em conferência, de forma aberta e científica, teve como objetivo reforçar que o cuidado cardiovascular é abrangente e deve integrar a dimensão emocional e relacional do doente. Promover uma visão holística da saúde implica reconhecer que o coração não é apenas um órgão físico: é também influenciado por afeto, intimidade, vínculos e bem-estar psicológico.
“A evolução do UCARDIO permitiu consolidar um modelo de “medicina integrada” que combina prevenção, diagnóstico, tratamento com o acompanhamento global do doente”
PA: A cardiologia transcende o diagnóstico e tratamento de doenças cardíacas, envolvendo também a prevenção, o bem-estar e o acompanhamento integral do doente. Que mensagem o UCARDIO pretende transmitir acerca da abrangência desta especialidade e relativamente à sua importância para a saúde e qualidade de vida dos utentes?
JG: A mensagem central que queremos transmitir é simples, mas fundamental: a cardiologia é uma especialidade que vai muito além da doença. É uma área que integra prevenção, educação em saúde, acompanhamento contínuo, gestão de fatores de risco, promoção do bem-estar e apoio psicológico. No UCARDIO, defendemos que tratar um coração é tratar uma pessoa por inteiro.
Trabalhamos segundo um modelo de “medicina integrada e de proximidade”, que combina especialidades complementares, meios de diagnóstico avançados, programas de prevenção, acompanhamento longitudinal e uma forte componente de humanização. A saúde cardiovascular não se limita à intervenção quando existe patologia; começa muito antes, nos hábitos, nas escolhas de vida, na literacia em saúde e no apoio próximo ao utente.
Assim, queremos reforçar que a cardiologia é uma disciplina estruturante para a qualidade de vida. Prevenir um enfarte, controlar uma arritmia, orientar um estilo de vida saudável ou acompanhar um doente crónico são formas diferentes de garantir que cada pessoa pode viver mais anos, mas sobretudo viver melhor. Essa é a essência do trabalho do UCARDIO.
PA: Quanto ao futuro, quais são os planos do Centro Clínico Unidade Cardiovascular para os próximos anos? Há alguma iniciativa planeada que possam partilhar com os nossos leitores?
JG: O futuro do UCARDIO está ancorado em três eixos estratégicos: expansão, inovação e investigação clínica.
Em primeiro lugar, estamos a estruturar a expansão da nossa rede, reforçando a presença nas regiões onde já atuamos (Lisboa, Setúbal, Montijo, Costa da Caparica e Médio Tejo), também ao ampliar parcerias com entidades públicas e privadas. Continuaremos a consolidar a gestão de cardiologia nas unidades parceiras, como a Santa Casa do Entroncamento com o Grupo Affidea e o Hospital Cruz Vermelha Portuguesa.
O segundo eixo é a inovação tecnológica. Prevemos investir em imagiologia avançada, plataformas digitais de acompanhamento do doente, ferramentas de monitorização remota e soluções de análise de dados que reforcem a qualidade diagnóstica e a eficiência clínica. A telemedicina e a monitorização contínua serão áreas de desenvolvimento prioritário.
O terceiro eixo, que consideramos estruturante, é o reforço da investigação clínica no UCARDIO. Estamos a preparar novos projetos de investigação aplicada, estudos em áreas como insuficiência cardíaca, arritmias e prevenção cardiovascular, e parcerias com centros académicos e instituições científicas. O objetivo é aproximar cada vez mais a prática clínica da produção de conhecimento, permitindo aos nossos doentes acesso a terapêuticas e tecnologias emergentes.
Por fim, continuaremos a promover iniciativas científicas e formativas como a Reunião Clínica UCARDIO, criando espaços de debate, atualização e partilha entre profissionais de saúde. Queremos estar na linha da frente da inovação, sem nunca perder o foco na humanização do cuidado.
O futuro do UCARDIO assenta, assim, num compromisso claro: crescer, inovar e investigar, mantendo sempre como prioridade a qualidade dos cuidados e o bem-estar dos nossos utentes.


