Perspetiva atual de António Fontaínhas, presidente do Conselho de Reitores das Universidades Portuguesa (CRUP)
Perspetiva Atual (PA) – Quais os principais desafios impostos pela pandemia de COVID-19 às instituições de ensino superior?
António Fontainhas (AF): Desde a primeira hora que as instituições do ensino superior souberam responder aos desafios e procurar soluções para os problemas gerados pela pandemia, colocando-se ao serviço do país. A crise confirmou a importância do ensino superior na produção e difusão de conhecimento, na formação de profissionais qualificados e na capacitação das organizações, constituindo uma base sólida para responder a qualquer crise. Importa agora avaliar de que forma as universidades têm condições para dar continuidade ao trabalho desenvolvido, o que exige reforço dos apoios sociais dos estudantes e dos meios financeiros para garantir o seu funcionamento.
O ensino superior desempenha um papel determinante, seja pelo seu contributo na qualificação da sociedade, seja pelo seu papel na produção e disseminação de conhecimento para compreender e enfrentar os novos desafios societais. Se o futuro requer uma aposta no conhecimento, não há conhecimento sem um sistema de ensino superior forte e dinâmico. Por isso, espera-se que o plano de recuperação económica e social tenha em atenção as fragilidades do ensino superior, priveligiando entre outros aspetos a modernização das infraestruturas e dos equipamentos letivos e científicos.
PA: Sabendo que o vírus tem afetado, principalmente, as regiões com maior densidade populacional, o modelo de abertura das universidades às aulas presenciais será ponderado de forma individual?
AF: Todas as instituições têm feito um esforço para garantir o regresso pleno às atividades presenciais, exigindo planeamento e organização do espaço e das atividades, com projeção de vários cenários. De momento, importa garantir a conclusão do presente ano letivo, de forma a que todos os estudantes prossigam estudos ou terminem os seus cursos para ingressar no mercado de trabalho. Em paralelo, as instituições estão empenhadas na preparação do próximo ano letivo, cabendo a cada uma a responsabilidade de garantir as condições para trazer de novo os estudantes aos campi, tendo em atenção a sua localização geográfica e densidade populacional.
PA: Perspetivas para o próximo ano letivo em vetores como a internacionalização do ensino?
AF: Hoje o número de estudantes internacionais nas instituições de ensino superior tem um peso decisivo nas suas receitas próprias, além de ser um fator de notoriedade e de modernidade do país. Mas, importa sublinhar que nesta crise foi determinante a capacidade do sistema científico, altamente internacionalizado, para produzir conhecimento científico e tecnológico nas diversas áreas científicas. Foi evidente que perante a diversidade dos problemas gerados pela crise, diferentes áreas de conhecimento foram convocadas para encontrar respostas, de forma colaborativa e pluridisciplinar, integrada em redes internacionais.
PA: Quais as maiores preocupações do CRUP enquanto representante das universidades portuguesas?
AF: A crise revelou a urgência de reforçar as políticas de ciência e de ensino superior, com prioridade para alguns eixos de ação, designadamente promover a ação social, a diversificação e inovação pedagógica envolvendo modernos meios digitais, mas importa também modernizar e capacitar os espaços e equipamentos de ensino e de investigação. Num primeiro momento, é vital promover a ação social, face ao esperado impacto negativo da pandemia na economia e na sociedade, implicando uma quebra de rendimento das famílias e o aumento do desemprego, com potenciais efeitos na procura de ensino superior. Por outro lado, na eventualidade, realista, de as receitas próprias, nomeadamente, as provenientes de propinas diminuírem, desde logo pela diminuição do número de estudantes internacionais, a sustentabilidade financeira das instituições ficará seriamente comprometida, podendo algumas entrar em rutura financeira.
PA: Que mensagem deixa à comunidade universitária no regresso às aulas?
AF: Nesta crise, as instituições de ensino superior, deram uma resposta exemplar para os problemas, colocando-se ao serviço do país, mas também revelaram competência no uso das tecnologias de comunicação para o ensino a distância tendo, no prazo de uma semana, transitado para o ensino não presencial, garantindo a todos os estudantes a atividade letiva bruscamente interrompida. Na fase de regresso à atividade presencial, importa manter a mesma atitude, a mesma cultura de responsabilidade.