Ensino de Vanguarda na Engenharia Mecânica
Disponibilizar uma oferta formativa universal, que seja capaz de tornar os alunos uma referência além-fronteiras, e continuar na linha da frente perante as necessidades prementes da indústria são alguns dos principais objetivos do Departamento de Engenharia Mecânica (DEM) da Universidade de Coimbra. Assim, em entrevista, o diretor Adélio Gaspar destaca a importância da inovação como ferramenta-chave para superar os desafios emergentes.
Perspetiva Atual (PA): Passado mais de meio século desde a criação do Departamento de Engenharia Mecânica (DEM) da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, quais são os principais marcos ou mudanças que ocorreram no DEM ao longo dos anos e quais continuam a ser as maiores motivações da instituição?
Adélio Gaspar (AG): Estes 50 anos não representam somente meio século de existência, mas também um longo caminho percorrido em que, ao longo do tempo, os desafios foram vencidos e os obstáculos superados. Inicialmente instalado no Edifício das Químicas, no Pólo I, da Universidade de Coimbra, à semelhança do que terá acontecido com os outros departamentos, estabelecer um plano formativo capaz de fazer frente às necessidades da região e do país foi desafiante. Com o crescimento natural do Curso e seu consequente reconhecimento, em 1995 foram inauguradas as novas instalações no Pólo 2 da Universidade de Coimbra, com uma maior capacidade, quer pedagógica, quer científica, com blocos de salas para a lecionação das aulas, assim como blocos com espaços alocados especificamente a laboratórios para realização das atividades de investigação e desenvolvimento dentro dos centros de investigação, que, entretanto, se formaram. Não obstante, justifica-se referenciar dois grandes marcos a nível pedagógico na história do departamento, dos quais ainda estamos, nos dias de hoje, a recolher dados sobre os seus reais efeitos: o processo de Bolonha e a pandemia COVID-19 de 2020. Estes dois fatores mudaram significativamente o modo como se olha para o ensino, quer do lado do docente, quer do lado do aluno. Porém, como sempre, o DEM soube adaptar-se às circunstâncias e colocar-se, mais uma vez, à altura do contexto, mantendo-se assim, de forma consistente, na linha da frente no que diz respeito ao seu objetivo de prestar formação de qualidade na construção dos futuros quadros superiores da engenharia do país.
PA: Com uma nova direção, a curiosidade sobre a linha estratégica a adotar pelo DEM aumenta. Assim, como é que a renovada liderança do Departamento planeia orientar a oferta educativa disponibilizada? Neste caso, quais são os principais objetivos estratégicos delineados e de que forma esses planos visam satisfazer as exigências emergentes da indústria, da pesquisa e do mercado de trabalho na área de Engenharia Mecânica?
AG: Por existir uma nova direção no departamento não implica que se tenha de romper obrigatoriamente com o que foi feito até ao momento pelas anteriores direções, tendo em conta que, muito do que tem sido aplicado resulta de uma convergência global no que respeita à opinião do sentido que o destino do DEM deverá tomar a curto, médio e longo prazo. Assim sendo, a estratégia a seguir será sempre a de manter a excelência no nível do ensino e da investigação e desenvolvimento. A inovação nos métodos pedagógicos e a constante atualização dos conteúdos programáticos permitirão cada vez mais convergir para as exigências atuais dos cursos lecionados no departamento e, desta forma, equiparar com as necessidades imediatas do mercado de trabalho. Por outro lado, o contacto com a indústria é outro ponto crucial, quer na fomentação da cooperação institucional em atividades de investigação e desenvolvimento dos nossos centros de investigação, quer na constante avaliação da evolução do meio envolvente. De facto, à semelhança de outros contextos de índole altamente tecnológica, os conteúdos e exigências nas áreas lecionadas no DEM estão em permanente e célere atualização.
PA: Como é que o DEM promove e facilita a mobilidade internacional dos estudantes? Ou seja, quais são os programas de intercâmbio disponíveis e de que maneira contribuem para o enriquecimento académico e cultural dos alunos?
AG: A mobilidade internacional de estudantes é um ponto assente na atualidade do DEM, pois permite não só o intercâmbio de experiências entre alunos, levando para o país de origem um pequeno sabor do que é estudar em Coimbra, como o enriquecimento do conhecimento pela troca de experiências e cooperação a nível da investigação mais profunda. Atualmente, existem diversos programas de intercâmbio, sejam através de acordos institucionais, sejam através de projetos de cooperação internacionais. Neste momento, para além da mobilidade nacional e do comum Erasmus, estão ativos outros programas direcionados para países específicos como, Estados Unidos da América, Austrália, Brasil, China e Japão.
PA: Qual é a abordagem do DEM em relação à pesquisa e desenvolvimento de conhecimento e novas tecnologias? Existem áreas específicas que, neste momento, se assumem como uma prioridade para o Departamento? Se sim, pode enunciar algumas aplicações práticas dessas mesmas pesquisas?
AG: Do DEM fazem parte vários centros de investigação que têm como missão a exploração científica das necessidades do conhecimento existentes num contexto mais atual, quer com parcerias com empresas, quer através de financiamento competitivo ou programas nacionais da Fundação para a Ciência e a Tecnologia. A Investigação realizada no DEM é altamente multidisciplinar, sendo já uma referência em diversas áreas e, para além da procura da melhoria progressiva das soluções existentes para os problemas do quotidiano, existem também vertentes emergentes para as quais temos de estar, e estamos efetivamente, mais atentos. Destas vertentes, poder-se-ão destacar aquelas relacionadas com a descarbonização e sustentabilidade ambiental, nas quais a investigação se vira para as energias renováveis e meios de reaproveitamento e cogeração de energia. Ainda na mesma linha, a procura e utilização de sistemas de produção mais sustentáveis e amigos do ambiente também têm sido outra marca do DEM, considerando a batalha contra o desperdício e o aumento da eficiência destes mesmos processos. Por exemplo, neste caso, estaremos a falar tanto da própria melhoria do processo em sede de uma perspetiva de gestão ou a utilização de métodos de fabrico altamente eficientes, no que diz respeito ao uso de material, como a fabricação aditiva. Para além de permitir uma restrição no consumo de material necessário ao fabrico, permite ainda aumentar substancialmente o grau de liberdade no que diz respeito ao design e funcionalidade do próprio componente, sendo neste momento fortemente apontada, entre outras, para utilizações em biomecânica e na indústria de moldes.
PA: Como é que o DEM se esforça para promover a colaboração e fomentar parcerias com outros estabelecimentos de Ensino, indústrias e polos de investigação, tanto a nível nacional quanto internacional? Quais foram os principais programas e iniciativas desenvolvidos neste sentido e como contribuíram para a consolidação da instituição?
AG: A grande maioria das atividades científicas e tecnológicas desenvolvidas por docentes e investigadores do DEM são realizadas em parceria com outras Universidades, Centros de Investigação e/ou Empresas, do setor público ou privado, nacionais e internacionais, resultado de uma rede de colaboração criada ao longo dos anos, envolvendo instituições espalhadas pelo mundo. Essa rede de contactos permite que o DEM se envolva com facilidade em consórcios nacionais ou internacionais para concorrer a financiamento competitivo para o desenvolvimento da sua investigação. Os consórcios envolvem frequentemente empresas, contribuindo-se deste modo para a transferência do conhecimento gerado no DEM para o setor industrial. Existe uma forte colaboração com o setor industrial nacional em projetos de investigação ou de prestação de serviços. É importante notar que os alunos do DEM têm oportunidade de integrar os projetos desenvolvidos no âmbito destes consórcios, especialmente através da realização das suas dissertações de mestrado e teses doutoramento. De modo a facilitar a integração dos alunos no mercado de trabalho, estes podem optar, no âmbito da sua dissertação de mestrado, por fazer um estágio em ambiente industrial. Essa rede de contactos internacional, e os projetos que dela resultam, permite a consolidação do DEM através da obtenção de financiamento competitivo, essencial para a manutenção de instalações e equipamentos científicos e pedagógicos de ponta nos seus laboratórios, bem como o reconhecimento do DEM como instituição de referência no domínio da engenharia mecânica, por parte dos seus parceiros, contribuindo para a integração dos seus estudantes em atividades científicas e tecnológicas significativas para o futuro da engenharia.
PA: Quais são os principais planos e metas futuras do DEM para continuar a promover a excelência académica e a inovação na área? Como pretendem adaptar-se às mudanças contínuas no mundo das Engenharias e preparar os estudantes para os desafios e oportunidades do futuro?
AG: As principais metas do DEM para o futuro passam pela oferta formativa cada vez mais universal, capaz de tornar os nossos alunos uma referência em todo o mundo. Potenciar o DEM, um Departamento de visibilidade internacional, tornando-se escolha não só de alunos portugueses, mas também daqueles além-fronteiras, considerando-se o DEM uma escola de referência, quer a nível da formação, quer a nível das infraestruturas disponibilizadas. A excelência na formação é sempre garantida pela consulta constante dos parceiros industriais nacionais e internacionais, e de outros intervenientes importantes deste ecossistema, como por exemplo, a Ordem dos Engenheiros, que, através de uma visão mais global e perto do terreno, fornece uma ferramenta fulcral na análise da estratégia a seguir e quais os próximos passos, de modo estar sempre na linha da frente, no que diz respeito às necessidades prementes da nossa indústria. Por outro lado, temos de ser cada vez mais inovadores e estar na vanguarda com as escolas europeias das engenharias lecionadas no departamento, o que nos tornará cada vez mais capazes de enfrentar os desafios que poderão surgir no futuro.