Herança Centenária: Reinventar o Ensino com Tradição

O Colégio de Ermesinde está a inovar o seu projeto educativo através da integração de um modelo pioneiro que combina, de forma harmoniosa, a prática religiosa com o desenvolvimento cognitivo de inteligências múltiplas. Assim, a instituição reforça o compromisso com a formação integral dos alunos, equilibrando os valores cristãos com uma abordagem pedagógica diversificada, enquanto perspetiva o futuro.

As origens do Colégio de Ermesinde remontam há 275 anos, sendo propriedade da Diocese do Porto, que administra o Colégio, homologamente ao Colégio de Gaia, em Vila Nova de Gaia, e ao Colégio de São Gonçalo, em Amarante. Inserida na pastoral diocesana, um dos grandes objetivos da escola é “formar jovens cristãos para o mundo”, explica o Padre Samuel Guedes, ecónomo geral da Diocesano e Diretor do colégio.

Edificado pela Ordem dos Agostinhos, chamados “Eremitas Descalços de Santo Agostinho”, em 1749, é, desde essa altura, um polo de referência cultural e educacional na freguesia do município de Valongo. Durante o cerco do Porto, aquando da Guerra Civil Portuguesa, em 1832, foi ocupado pelas tropas miguelistas e tornou-se num Hospital de Sangue. Mais tarde, em 1894, a Congregação do Espírito Santo instalou-se no edifício e fundou o “Colégio do Espírito Santo”, que devolveu o cariz religioso e católico à instituição.

A instituição nasce oficialmente como Colégio de Ermesinde em dezembro de 1912, por despacho do Presidente da República Manuel de Arriaga. Graças à sua localização privilegiada, no edifício anexo ao histórico Santuário de Santa Rita, houve, desde sempre, uma sinergia intrínseca com a vertente religiosa. Desde convento, até colégio, passando por quartel de tropas, este é, sem dúvida, um lugar onde a fé e o ensino têm caminhado lado a lado, mantendo viva a herança espiritual e cultural, patente desde a sua construção e perpetuada pelas gerações que por lá passaram.

“Ciência e disciplina, liberdade e responsabilidade” são os pilares sobre os quais assenta a identidade da instituição. Com um projeto educativo que visa integrar harmoniosamente a dimensão humana, espiritual e intelectual dos alunos, a escola pretende formar pessoas com capacidade crítica, reconhecendo a sua individualidade e convertendo-as em potenciais transformadores da sociedade com uma visão cristã da vida. Portanto, privilegia-se uma formação integral e indissociável, que complete o aluno a nível moral, cognitivo e relacional.

NOVO PROJETO EDUCATIVO

Começou, no início deste ano escolar, um período de debate sobre a adoção de um projeto educativo pioneiro que pretende, além de adaptar a dimensão católica apostólica romana aos jovens, abrir espaço para o desenvolvimento de inteligências múltiplas. O objetivo primordial é estimular a capacidade dos alunos de desenvolver diferentes tipos de habilidades cognitivas – desde a linguística, até à interpessoal ou musical –, permitindo uma abordagem educacional diversificada e inclusiva, que atenda às necessidades de cada jovem. “Existe o estigma de que o 1.º Ciclo deve ser adaptado, maioritariamente, em torno de disciplinas tidas como mais importantes, que, neste caso, seriam ‘Português’ e ‘Matemática’, enquanto outras, como, por exemplo, ‘Educação Física’ ou de índole artística, são consideradas secundárias”, explana a coordenação pedagógica do Colégio de Ermesinde, Pedro Alves e António Valdemar Ribeiro. “Com este novo projeto educativo pretendemos desmistificar essa lógica e mostrar, a quem nos procura, que promovemos o desenvolvimento integral dos estudantes desde os primeiros ciclos de estudos”, considera.

Normalmente, um aluno a frequentar o 1.º Ciclo, tem uma carga horária de 25 tempos letivos, dos quais sete são de ‘Português’, outros sete são de ‘Matemática’ e três são de ‘Estudo do Meio’; excetuando a disciplina de ‘Inglês’, os restantes tempos para as outras componentes de currículo são vistos, frequentemente, como atividades de enriquecimento curricular. Na tentativa de contrariar essa matriz anacrónica, serão formalizadas, no plano curricular, disciplinas de componente artística, “que irão permitir trabalhar a dinâmica corporal, bem assim como a gestão funcional da motricidade humana”, revela a coordenação pedagógica.

“Queremos, realmente, que os nossos alunos detenham um conjunto de valências que lhes permita desenvolver determinadas áreas de influência, além das mais clássicas, como o raciocínio lógico-formal e a linguística”, ressalta a Coordenação Pedagógica. Este projeto será complementado com períodos de monitorização das aprendizagens, que permitirão avaliar de forma adequada o desenvolvimento das competências de cada jovem.

A vertente extracurricular também é visada neste plano educativo, havendo a intenção de diversificar a oferta de atividades, de forma a abolir a necessidade dos encarregados de educação de procurar apoio em entidades externas. “Estamos confiantes de que vamos construir um projeto educativo em que o aluno sentirá, ao longo dos anos que passar connosco, que está a ser constantemente testado. Queremos fomentar o desenvolvimento dos vários tipos de inteligências e de competências cognitivas fulcrais para um desenvolvimento integral. Queremos que os nossos alunos sejam capazes de responder às exigências de uma sociedade em constante mudança, preparados para serem agentes de transformação”, concluem.

TRABALHO SÓCIO-CARITATIVO

“A cidadania e a religião moral-católica andam de braço dado no nosso colégio”, explica o Diretor. Como tal, a instituição procura incutir aos alunos a “capacidade de serem solidários”, virtude que, inicialmente, pode parecer intrínseca, mas necessita de um fomento contínuo, a par de um ambiente propício, para que possa ser desenvolvida plenamente, tornando-se prática no quotidiano dos jovens.

No âmbito da iniciativa Pacto Educativo Global, lançada pelo Papa Francisco, em setembro de 2019, com o propósito de “reavivar o compromisso com as novas gerações e renovar a paixão por uma educação mais aberta e inclusiva, capaz de ouvir com paciência, de diálogo construtivo e de compreensão mútua”, o Colégio de Ermesinde tem levado a cabo diversas ações que promovem a empatia e o espírito comunitário dos estudantes, propiciando uma educação humanista e solidária, alinhada com os principais valores propostos por este Pacto.

Assim, a instituição estabeleceu três compromissos basilares que visa continuar a promover: colocar a pessoa no centro, envolver a família e abrir-se aos outros. Neste sentido, os elementos da comunidade educativa – alunos, professores e encarregados de educação – participam, todos os anos, na campanha nacional de recolha de alimentos do Banco Alimentar contra a Fome.

Em dezembro de 2023, os estudantes do 3.º Ciclo e do Ensino Secundário, enquadrados no projeto Jovens Promotores de Saúde, dinamizado pelo Departamento de Educação para a Saúde da Liga Portuguesa Contra o Cancro – Núcleo Regional do Norte (que pretende dotar os jovens de competências que lhes permitam desenvolver atividades de educação para a saúde), deslocaram-se à sede da instituição para entregarem o donativo referente ao “Outubro Rosa”. Com orgulho e missão de compromisso, o Colégio de Ermesinde voltou a associar-se a esta causa.

No fim do ano letivo, no mês de junho, aconteceu a VI Gala Solidária, organizada pelos Jovens Promotores de Saúde do Colégio de Ermesinde, com o mote “Agir para Prevenir… Conhecendo o Código Europeu Contra o Cancro”, cujo valor arrecadado com a venda dos bilhetes reverteu inteiramente a favor da Liga Portuguesa Contra o Cancro. Esta estreita colaboração com o Núcleo Regional do Norte da Liga tem-se revelado extremamente benéfica para os estudantes que, através da consciencialização, desenvolvem o seu sentido de responsabilidade social.

Não obstante, foi ainda realizada entregas de produtos de higiene a várias instituições sociais. “Esta é a identidade que queremos dar aos nossos colégios, é o foco”, assume o Padre Samuel Guedes. “Dar, ajudar e concretizar não chega; tal como Jesus Cristo fez, temos de nos entregar totalmente a estas causas”, relembra.

OLHOS POSTOS NO FUTURO

Apesar da atual direção do Colégio de Ermesinde ter assumido funções há um ano, o desenho do futuro já começou cautelosamente a ser traçado e, este mês, avançaram com a remodelação completa do Pré-Escolar. “Em princípio, as obras estarão concluídas no Natal e, em janeiro, as crianças já poderão começar a usufruir da parte nova”, revela o Diretor. “A ideia é que, quando abrirem as matrículas para o novo ano, os pais já possam visitar e conhecer a nova infraestrutura”, acrescenta, reforçando o compromisso da instituição em corresponder às expectativas dos encarregados de educação, fornecendo um ambiente moderno e bem preparado desde os primeiros anos de escolaridade.

Além disso, foi também levado a cabo um investimento significativo em informática e tecnologia. Desta forma, os estudantes dispõem de um computador/tablet, possibilitando um ensino híbrido através dos manuais físicos e digitais. “Não queremos descontinuar o uso dos manuais físicos, nem pretendemos que a tecnologia se sobreponha à vertente científica”, continua, “o objetivo é uma aprendizagem ativa, complementada com recursos digitais”.

No presente ano letivo, o Padre Samuel Guedes considera que deram “um passo atrás para, mais tarde, dar meia dúzia à frente”, ressaltando a estratégia ponderada levada a cabo. E exemplifica com a consolidação da componente artística do projeto educativo, através da melhoria das instalações escolares na vertente musical. “As instalações escolares já estão devidamente equipadas, com espaços acústicos e instrumentos, para dar início a este projeto, mas, primeiro, há que entusiasmar os alunos desde pequenos para a música, e é esse trabalho de preparação e estímulo que, atualmente, está a ser realizado pelo corpo docente”.

Os primeiros passos desta visão para o futuro do Colégio de Ermesinde evidenciam a determinação da instituição em preparar os alunos para um futuro promissor, equilibrando tradição e inovação para atender às necessidades de uma comunidade escolar em constante mutação. Numa altura em que é urgente deixar para trás os preconceitos fundamentalistas, esta assume-se como sendo “Uma Escola Para Ti”, que valoriza a indivi dualidade e o potencial de cada estudante.

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