CITAB, um centro multidisciplinar focado nas cadeias de produção agrícola e na sustentabilidade agroambiental e biológica
O Centro de Investigação e Tecnologias Agroambientais e Biológicas (CITAB), com sede na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, comemorou recentemente 15 anos de existência. João Santos, atual Diretor do CITAB e professor do UTAD, revela os principais desafios do Centro e as suas maiores qualidades.
Fundado em 2007, o Centro de Investigação e Tecnologias Agroambientais e Biológicas (CITAB) é um dos seis centros de investigação sediados na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD). A Direção do CITAB é composta pelo seu atual Diretor, João Santos, e pelos Vice-Diretores, Professores Amélia Silva e Henrique Trindade.
Segundo a Direção do CITAB, a atividade científica do Centro divide-se em duas linhas temáticas principais, uma dedicada à sustentabilidade agroalimentar, florestal e dos ecossistemas face às alterações ambientais e climáticas, bem como às correspondentes estratégias para a mitigação e/ou adaptação às mesmas; e uma outra dedicada à tecnologia e inovação aplicada às cadeias agroalimentares, florestais e sistemas biológicos, numa perspetiva de promoção da bioeconomia. A primeira linha temática encontra-se ainda dividida em duas “tarefas”, uma de monitorização integrada dos impactos climáticos e ambientais e a outra de sustentabilidade agroalimentar e dos ecossistemas florestais. Já a segunda linha temática tem como “tarefas” o desenvolvimento de tecnologias e processos inovadores para a valorização de produtos e coprodutos de base biológica. João Santos revela que os 290 membros que compõem a equipa do CITAB encontram-se distribuídos de forma “mais ou menos” equitativa pelas duas linhas temáticas.
Além dos seus 12 laboratórios, o CITAB tem também à sua disposição um conjunto de outras infraestruturas de investigação e tecnologia, bem como o centro de interpretação do Jardim Botânico da UTAD. A variedade de áreas de estudo confere ao CITAB o título de “centro multidisciplinar”.
Recentemente, o CITAB estabeleceu também uma parceria com o centro de investigação GreenUPorto, da Universidade do Porto, formando um novo laboratório associado. “Formamos um consórcio com a designação Inov4Agro, que é um dos cerca de 40 laboratórios associados existentes em Portugal financiados pela FCT”, revela João Santos.
Relativamente à produtividade do CITAB, o Diretor mostra-se satisfeito com os resultados obtidos, dado o número de artigos indexados na base SCOPUS ter vindo a aumentar significativamente nos últimos anos. Atualmente, a equipa científica do CITAB encontra-se envolvida em 18 projetos de I&D internacionais e 53 nacionais.
Em termos de sustentabilidade financeira, João Santos revela que muito mudou ao longo dos últimos anos. Anteriormente, a FCT tendia a ser a maior fonte de receitas e de apoio financeiro ao funcionamento dos centros de investigação. Atualmente, apesar de a FCT ainda representar uma parte muito significativa do financiamento, 40% do financiamento anual do CITAB é já proveniente de projetos com empresas e da prestação de serviços ao setor privado. “Os centros de investigação estavam muito sustentados nos projetos FCT, mas o CITAB conseguiu encetar um esforço considerável e redirecionou o seu financiamento para outras fontes”, declara. “O CITAB é um centro que tem uma forte componente de aplicação da sua investigação e isso é bem patente no elevado financiamento que obtém do setor privado. É, também, uma clara demostração da aplicabilidade da investigação que produzimos ao mundo empresarial.”
O CITAB assume também a responsabilidade por dois programas doutorais internacionais, o AgriChains, que já acolheu 57 estudantes e formou 26 doutorados, e o programa doutoral Campus do Mar, que já soma 70 estudantes em Portugal. Segundo João Santos, para além destes programas doutorais, o CITAB tem também uma participação muito ativa em mais três cursos de doutoramento da UTAD: Ciências Químicas e Biológicas, TechAgro, e Ciências Agronómicas e Florestais. “Os colaboradores não doutorados do CITAB são estudantes de doutoramento que, muito em breve, serão, esperamos nós, também membros integrados do Centro”, revela. “Para ser membro integrado é necessário ter grau de doutor e cumprir alguns requisitos mínimos de produtividade científica, garantindo uma elevada qualidade dos recursos humanos.”
A Direção do CITAB refere também a importância de outras duas estruturas: a Comissão Externa de Acompanhamento (CEA) e a Comissão de Stakeholders (CS). Segundo João Santos, a CEA é formada por quatro especialistas internacionais nas áreas científicas de atuação do CITAB e com uma “visão de vanguarda”, que aconselham sobre as prioridades de investigação futura do Centro. “Esta comissão ajuda-nos a direcionar as estratégias do nosso centro”, afirma. “É um processo muito importante porque nos permite aferir se as linhas de investigação que estamos a desenvolver e a orientação que estamos a dar à investigação no CITAB é a mais adequada aos desafios atuais e emergentes.” Já a CS representa a ligação com o setor empresarial. “São personalidades do setor empresarial com uma carreira muito longa em diversos domínios de relevância para o Centro”, informa. João Santos refere que esta comissão é de grande relevância para o ajuste regular da investigação do CITAB às reais necessidades das empresas. De acordo com o Diretor, as grandes empresas estão “genuinamente interessadas em obter informação”, sendo que muitas possuem departamentos de investigação e procuram seguir os resultados dos estudos científicos mais recentes nas suas decisões. O Professor revela que, para além dos projetos desenvolvidos em parceira com a indústria, algumas empresas têm vindo também a solicitar ações de capacitação dos seus quadros: “Nós geramos conhecimento e tecnologia e depois colocamos isso ao serviço das empresas.”
Quando questionado sobre os principais desafios enfrentados pelos investigadores e pelo próprio CITAB, João Santos não hesita em afirmar que um dos grandes obstáculos é encontrar profissionais altamente qualificados e disponíveis para encetar uma carreira científica, visto que as profissões ligadas à investigação são cada vez mais menosprezadas, em muito devido à elevada precariedade do sistema científico nacional. “A estabilidade profissional é, com frequência, demasiado limitada e a prazo.”
Já em relação ao CITAB, a Direção do Centro explica que um dos seus maiores desafios é também uma das suas maiores qualidades – o facto de ser um centro multidisciplinar. “O grande desafio do CITAB, ao longo dos anos, foi conseguir coordenar as atividades de investigação dentro de um centro tão diverso”, começa. “É uma tarefa muito exigente para todos, porque temos investigadores com sensibilidades muito diferentes e com formações de base totalmente distintas. Conseguir colocar essa diversidade de pessoas a trabalharem num mesmo projeto, com os mesmos objetivos, requer um esforço muito grande de coordenação, mas também o esforço dos próprios investigadores para tentar encontrar pontos de colaboração e sinergias.” Por outro lado, afirma que esta mesma característica é também uma das mais-valias do Centro. “Um centro multidisciplinar potencia uma visão mais integrada e holística, que permite compreender os sistemas agroflorestais na sua totalidade.”
Relativamente ao futuro do CITAB, os objetivos estão bem estabelecidos pela Direção do CITAB. Aumentar a produtividade científica e o seu impacto, ampliar a internacionalização com instituições âncora e programas widening, expandir a extensão à comunidade, a prestação de serviços e o apoio à decisão, alargar parcerias com stakeholders e um maior financiamento captado do setor público e privado estão na linha da frente das preocupações e objetivos da Direção do Centro.