Centro Médico-Cirúrgico da Artrose aposta em novos tratamentos para alívio da dor e artrose
O Centro médico-cirúrgico da artrose é uma unidade diferenciada, criada pelo cirurgião ortopedista José Alexandre Marques e colaboradores, que nasce da necessidade de implementar a nível nacional, uma unidade que privilegia a implementação de tratamentos inovadores, incluindo procedimentos minimamente invasivos ou não-invasivos, além de opções cirúrgicas, nas doenças do foro ortopédico. É de salientar a utilização de novos métodos terapêuticos designados de ortobiológicos, os quais promovem a regeneração biológica dos tecidos afectados tanto por trauma desportivo como mais frequentemente pelas doenças degenerativas das articulações (artrose), dos tendões (tendinose), da cartilagem ou mesmo em situações onde existe compromisso do nervo periférico, que se reflecte por dor crónica.
Perspetiva Atual: O que é, e como surge este novo Centro Médico-Cirúrgico?
José Alexandre Marques: Fazendo uma análise da distribuição etária da população portuguesa, verificamos que o aumento da longevidade se reflete no aparecimento de várias incapacidades, como, por exemplo, a perda progressiva da mobilidade global e da capacidade de locomoção, frequentemente associadas a dor crónica. O processo de envelhecimento tem uma componente genética determinada e é de carácter progressivo. Contudo, este processo pode ser condicionado e retardado por vários factores ambientais, como o exercício físico, alimentação adequada, socialização ou acções de treino cognitivo.
A nível do aparelho músculo-esquelético, existem hoje tratamentos que podem melhorar o processo degenerativo, podendo também ser usados na recuperação após traumatismos desportivos. É precisamente nestas áreas que o Centro da Artrose apresenta soluções terapêuticas, tanto no tratamento como na prevenção do processo degenerativo ou pós-traumático. O objetivo é melhorar a dor e a função articular, evitando ou adiando cirurgias das doenças músculo-esqueléticas. Contudo, este tipo de tratamentos pode também ser associado a procedimentos cirúrgicos, habitualmente de mini-invasibilidade, melhorando os resultados finais.

Médico-Cirúrgico da Artrose
PA: Em que consistem esses tratamentos?
JAM: Existem algumas opções terapêuticas utilizadas na última década, que foram recentemente melhoradas e comprovadas por vários estudos clínicos contínuos; isto reflectiu-se no aparecimento de novos tratamentos ortobiológicos. Resumidamente, os tratamentos ortobiológicos são terapias que utilizam substâncias biológicas naturais do próprio corpo do paciente, que têm o potencial de estimular a regeneração, reparação ou mesmo a cicatrização de tecidos músculo-esqueléticos: osso, músculo, tendão, cartilagem ou ligamentos. Por este motivo, são cada vez mais uma opção na ortopedia, medicina desportiva, fisiatria e muitas áreas da medicina.
Podemos apontar as principais opções de tratamentos ortobiológicos:
O Plasma Rico em Plaquetas (PRP) é obtido após uma centrifugação de sangue do próprio paciente, contendo uma alta concentração de plaquetas e substâncias regenerativas, que promovem o crescimento e regeneração dos tecidos, processo necessário na reparação das lesões músculo-tendinosas, ligamentares, articulares e mesmo do nervo periférico.
“É precisamente nestas áreas que o Centro da Artrose apresenta soluções terapêuticas, tanto no tratamento como na prevenção do processo degenerativo ou pós-traumático”
As células-mãe mesenquimais tratam-se de uma solução aquosa que tem origem num aspirado da medula óssea concentrada (BMAC – Bone Marrow Aspirate Concentrate) ou então após um processo de centrifugação/filtração obtida por aspiração da camada de gordura corporal (tecido adiposo), onde existem estas células com alto poder de regeneração e que se podem transformar em células de outros tecidos: osso, cartilagem ou músculo. Frequentemente são usadas para tratar lesões de cartilagem presentes na artrose ou para recuperar de lesões desportivas músculo-tendinosas e ligamentares.

sanguínea
Como opções de origem não biológica, podemos referir a aplicação de ácido hialurónico concentrado, produzido habitualmente em laboratório, que é um constituinte natural da cartilagem, permitindo “lubrificar” e aumentar as propriedades viscoelásticas tanto do líquido articular, como dos ligamentos e tendão peri-articular. O ácido hialurónico concentrado desempenha um papel importante na melhoria da função articular.
O colagénio também é um constituinte natural da cartilagem, ligamentos e tendões, desempenhando um papel relevante no reforço das articulações. Não excluímos a utilização pontual e selectiva de anti-inflamatórios derivados de cortico-esteróides, de aplicação local dirigida por ecografia, vulgarmente designados de “infiltrações”, úteis para interromper a inflamação crónica e a dor, melhorando rapidamente a mobilidade, fundamental no início do processo de reabilitação, e sem efeitos secundários consideráveis.
Os tratamentos ortobiológicos não têm riscos de aplicação, permitindo a melhoria clínica desejada, sem necessidade de utilizar medicamentos como os anti-inflamatórios, com os seus efeitos adversos. Contudo, os ortobiológicos não são sempre eficazes, pois têm limitações nas fases mais avançadas da doença, considerando também as variações individuais na qualidade do plasma ou medula colhido.

abdominal após uma cirurgia artroscópica do joelho
PA: Como está constituída a equipa médica?
JAM: Reunimos uma equipa de médicos incluindo diferentes especialidades: ortopedia, medicina desportiva, fisiatria e patologia clínica. Além do gosto pela área de intervenção, onde o domínio da utilização da ecografia é absolutamente fundamental para esta área de intervenção dos ortobiológicos, incluímos colegas com domínio nas diferentes áreas da intervenção cirúrgica. Associadamente, a presença de uma equipa de reabilitação é fundamental para optimizar o efeito deste tipo de procedimentos.
PA: Quais as áreas de actuação deste Centro Médico-Cirúrgico?
JAM: As áreas de intervenção são a globalidade do aparelho músculo-esquelético; ou seja, nas regiões anatómicas do membro superior, membro inferior e coluna, tanto a nível das lesões desportivas, lesões degenerativas ou do nervo periférico.

ecográfico
PA: O que tem de inovador?
JAM: Eu diria que a inovação é mudança de paradigma de actuação; passámos para uma fase onde a intervenção cirúrgica fica muitas vezes para segundo plano, uma vez que conseguimos obter bons resultados e a satisfação dos pacientes, sem a necessidade de realizar uma cirurgia. Obviamente há limites; o objectivo dos ortobiológicos é apresentar opções para evitar a evolução da degradação articular progressiva, conhecendo as suas limitações.

PA: Pode dar exemplos concretos de tratamentos?
JAM: Sim, claro. Por exemplo, as habituais tendinites do ombro ou cotovelo, muitas vezes com roturas tendinosas identificadas por imagiologia, têm uma excelente resposta, complementada com a reabilitação. Outros exemplos são a aplicação em rotura/lesões do menisco do joelho, na cartilagem do joelho, anca ou tornozelo, de plasma rico em plaquetas, resultando na melhoria clínica. Conseguimos evitar a tradicional cirurgia, como é exemplo a remoção do menisco. A nível de coluna lombar, punho ou mesmo compressões do nervo periférico, são áreas também a referir.
PA: Qual o grau de satisfação dos doentes?
JAM: É muito positivo. Habitualmente, estes tratamentos são pouco conhecidos, ficando os pacientes surpreendidos com opções de tratamento, mas mais ainda com os resultados. Após esclarecidos do objectivo e reservas, os pacientes aceitam e quase sempre há melhorias, reflectindo-se no grau de satisfação do paciente e do médico. Termino referindo que, no nosso ponto de vista, este tipo de tratamentos serão cada vez mais a opção e com potencial de virem a surgir novas opções ainda mais eficazes, ainda que por vezes possam ser associadas a procedimentos cirúrgicos de mínima agressividade.
“Eu diria que a inovação é mudança de paradigma de actuação; passámos para uma fase onde a intervenção cirúrgica fica muitas vezes para segundo plano, uma vez que conseguimos obter bons resultados e a satisfação dos pacientes, sem a necessidade de realizar uma cirurgia”

