Comemoração dos 40 anos do NGHD

40 Anos de contribuição para a qualidade da Gastrenterologia em Portugal

Em entrevista exclusiva, a presidente do Núcleo de Gastrenterologia dos Hospitais Distritais (NGHD), Dra. Isabel Medeiros, juntamento com um dos organizadores da XXXIX Reunião Anual, Dr. António Curado e o presidente eleito do próximo triénio 2025-2027, Dr. Paulo Caldeira, refletem sobre as conquistas e os marcos que consolidaram o Núcleo como um pilar fundamental na gastrenterologia em Portugal ao longo destes 40 anos, e projetam ainda quais os planos estratégicos para um futuro. Desde a informatização pioneira de relatórios de endoscopia até à formação contínua de profissionais, dá-nos a conhecer os desafios enfrentados e os ambiciosos projetos que moldam o futuro da especialidade.

Perspetiva Atual: O Núcleo de Gastrenterologia dos Hospitais Distritais está a celebrar 40 anos de existência. Que balanço faz destes anos e quais considera serem os marcos mais importantes da sua história? 

António Curado: O balanço é francamente positivo porque pode dizer-se que o NGHD cumpriu os seus desígnios iniciais: desenvolver os Serviços de Gastrenterologia dos Hospitais, na altura designados como Distritais; promover a qualidade da Gastrenterologia no todo do território nacional e afirmar os Serviços dos H. Distritais na comunidade gastrenterológica nacional. O NGHD contribuiu decisivamente para a qualidade da Gastrenterologia nacional.

Os principais marcos foram, entre outros, a informatização dos relatórios de endoscopia, na qual o NGHD foi pioneiro, permitindo a criação de uma larga base de dados de endoscopia, e a publicação de livros científicos editados e escritos por membros do Núcleo, dando azo a um protocolo com as Universidades do Minho e da Beira Interior para a sua distribuição entre os alunos.

PA: Nos últimos três anos, sob a liderança da atual Direção, que objetivos destacam como alcançados e que impacto tiveram na prática clínica e na formação dos profissionais? 

Isabel Medeiros: Foi mantida com grande sucesso a Reunião Anual, que agrega todos os Hospitais Distritais e seus membros, para actualização de conhecimentos nas áreas mais relevantes e com os profissionais de topo em cada área. São reuniões muito participadas quer pela área medica quer pela enfermagem de gastrenterologia, que mantem um dia para o Curso Anual de Gastrenterologia e Endoscopia Digestiva para Enfermeiros (CAGEDE).

Esta reunião é fundamental na formação dos futuros especialistas em Gastrenterologia, permitindo a apresentação dos seus trabalhos de investigação ou casos clínicos mais desafiantes, para discussão entre pares.

O NGHD manteve um forte incentivo à realização de estudos multicêntricos, permitindo um satisfatório retrato de muitas patologias e procedimentos médicos no nosso território.

Efetuamos estudos em parceria com a nossa congénere francesa ANGH, salientando-se a este propósito um estudo sobre a repercussão da pandemia SARS-Cov no diagnostico do cancro colorectal, pelo atraso na realização de exames endoscópicos ocorrido nesse período.

PA: A XXXIX Reunião Anual, realizada nos dias 29 e 30 de novembro no Centro Cultural e de Congressos das Caldas da Rainha, foi marcada por momentos de grande relevância. Quais foram os principais destaques deste ano? Pode falar-nos sobre os debates mais marcantes, formações e workshops pré-Congresso realizados?

AC: A Reunião teve por lema os Desafios da Gastrenterologia, pelo que foi possível fazer uma bonita revisitação do passado e uma perspetivação do futuro da Gastrenterologia, fosse na eliminação da Hepatite C até 2030, ou no prognóstico do cancro digestivo ou nas técnicas endoscópicas avançadas ou no futuro promissor do tratamento da Doença Inflamatória Intestinal.

A preceder a Reunião houve o Curso Anual de Gastrenterologia e Endoscopia Digestiva para Enfermeiros, com elevada participação, constituindo mais um fator para a afirmação da qualidade da Gastrenterologia nacional.

A par disso decorreu uma animada conferência, agitando ideias sobre as práticas correntes nas salas de endoscopia digestiva no que respeita aos resíduos hospitalares, fazendo-nos refletir sobre a Estratégia global na saúde, alterações climáticas e green endoscopy.

Mesa de abertura da XXXIX Reunião Anual do NGHD, com o Sr. Bastonário da Ordem dos Médicos

PA: Relativamente aos convidados deste ano, quais foram os nomes nacionais e internacionais em destaque e o que motivou a escolha destes profissionais para o evento?

AC: Todos os ex-presidentes do NGHD foram convidados a participar ativamente na Reunião. Esteve presente o Bastonário da Ordem dos Médicos na Cerimónia de Abertura, Dr. Carlos Cortes, abordando a problemática do exercício da Medicina em Hospitais periféricos. Houve uma Mesa Redonda sobres os Desafios futuros da Formação em Gastrenterologia com a presença do Presidente do Colégio da Especialidade, Prof. Luís Lopes. De destacar também a conferência do Prof. João Queiroz e Melo, precisamente sobre a sustentabilidade ambiental e a endoscopia digestiva. E tivemos o gosto de poder assistir a palestras de convidados estrangeiros (Francisco Martin, da Corunha e Isabelle Rosa-Hezode, de Paris).

PA: A investigação desempenha um papel fundamental na área da saúde e, como tal, gostaríamos de saber qual tem sido o papel do NGHD na formação e investigação em gastrenterologia nos hospitais distritais e se há algum avanço recente que gostariam de destacar?

IM: A direção cessante deu particular atenção à formação médica contínua dos seus sócios, mantendo o patrocínio científico e financeiro a uma Bolsa de Investigação, que premeia o melhor projeto a concurso

O NGHD foi ao encontro da necessidade de apoio à formação dos jovens internos da especialidade, criando uma Bolsa de Estágio, que os apoia na realização de estágios formativos em técnicas endoscópicas, quer em Portugal quer no estrangeiro

Apostou-se igualmente em cursos de formação em áreas carenciadas, considerados essenciais para a aprendizagem clínica e de investigação como foi o curso dedicado a Técnicas de Pesquisa Bibliográfica, que decorreu pela primeira vez este ano e dedicado aos internos mais novos.

Pretende-se alargar estes cursos a outras áreas, estando planeadas outras temáticas para cursos futuros como sejam cursos de Escrita de artigos, estatística ou de avaliação económica – custo-efectividade – da introdução de novos fármacos.

PA:O NGHD é reconhecido pelas suas parcerias estratégicas com outras Instituições de Saúde e Sociedades Médicas. Como é que essas colaborações têm impulsionado o desenvolvimento da gastroenterologia em Portugal?

IM: O NGHD é parceiro das restantes sociedades médicas, particularmente a Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia, Sociedade Portuguesa de Endoscopia Digestiva e Associação Portuguesa para o Estudo Fígado contribuindo para a divulgação das melhores praticas. É disso exemplo a promoção e implementação de programas de rastreio do cancro colorectal em muitos hospitais, actualmente a segunda causa de morte por cancro em Portugal.

Vários hospitais pertencentes ao NGHD dão diariamente o seu contributo para o aumento da cobertura geográfica e populacional do rastreio, contribuindo para o diagnóstico precoce deste tumor.

Outro exemplo relevante desta articulação prende-se com a implementação de medidas de microeliminação do Vírus da Hepatite C, em alinhamento com o objectivo da OMS de erradicar a Hepatite C em 2030. Enquadram-se neste âmbito as deslocações de vários médicos do NGHD aos estabelecimentos prisionais e junto das ETET (Equipas Técnicas Especializadas de Tratamento) ou outras organizações de âmbito nacional/regional.

PA: Quais têm sido as principais iniciativas no que diz respeito à prevenção, diagnóstico e tratamento das doenças gastrointestinais, e de que forma os profissionais especializados têm desempenhado um papel crucial na implementação dessas estratégias?

IM: Para além das medidas referentes aos programas de rastreio do cancro colorectal  e Hepatite C, dois flagelos em saúde publica, salienta-se o trabalho realizado em estreita colaboração com a Medicina Geral e Familiar (MGF) com a divulgação de orientações sobre as patologias mais frequentes, participação em reuniões de carácter regional e discussão estreita com os colegas de MGF, privilegiando um contacto de proximidade , muitas vezes mais eficaz na transmissão de conhecimentos e colaboração entre colegas.

Em primeiro plano, o Presidente eleito do NGHD para o triénio 2025-2027, Dr. Paulo Caldeira

PA: Olhando para o futuro, quais são os próximos desafios e projetos ambiciosos que nos possam revelar, para continuarem a deixar a vossa marca na saúde em Portugal?

Paulo Caldeira: Uma instituição como o NGHD tem que ter sempre uma perspetiva de futuro, acompanhar a evolução científica na sua área e promover a ligação e partilha de conhecimento entre os seus associados. Como principais projetos a manter, ou a desenvolver de novo, podemos destacar: Manter a aposta na Reunião Anual do NGHD, pois esta continua a ser o ponto alto da atividade da nossa associação. Procuraremos expandir a reunião e assegurar sempre a existência de 2 cursos satélites, na sequência do que já ocorreu este ano, nomeadamente o curso de enfermagem (CAGEDE) e um curso temático dirigido a internos e jovens especialistas.

Uma instituição como o NGHD tem que ter sempre uma perspetiva de futuro, acompanhar a evolução científica na sua área e promover a ligação e partilha de conhecimento entre os seus associados.

Procuraremos também ampliar a atribuição de bolsas de investigação e formação, dirigidas a internos e jovens especialistas. Esta é, talvez, a forma mais nobre que o NGHD possui de expandir o conhecimento científico, melhorar a prática clínica da gastrenterologia e devolver à sua comunidade os fundos que consegue angariar.

Queremos ainda continuar a estimular a produção científica do núcleo, seja retomando da realização de estudos clínicos multicêntricos, de âmbito nacional, seja na publicação de artigos, monografias, ou mesmo livros, com a chancela no NGHD.

Por fim, procuraremos promover, participar ou realizar ações públicas de educação para a saúde, com especial foco na prevenção, rastreio e diagnóstico precoce das doenças do tubo digestivo, fígado e pâncreas. Este tipo de atividade tem estado um pouco arredado das atenções no NGHD, mas consideramos fundamental aumentar a literacia em saúde. O Núcleo pode aproveitar a sua forte implantação em todo o território nacional para, em colaboração com associações e instituições locais, realizar sessões de formação e informação, reprodutíveis em todo o país.

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