“A ATARP tem sido um agente de mudança e progresso no setor da saúde”
A Associação Portuguesa dos Técnicos de Radiologia, Radioterapia e Medicina Nuclear (ATARP) é das associações profissionais mais antigas da área das Tecnologias da Saúde, e das poucas fundadas antes do 25 de abril de 1974. Em entrevista, a Dra. Joana Fonseca Fernandes, presidente da ATARP, destaca os 55 anos de história da associação, o impacto transformador na formação e inovação dos profissionais de Radiologia, Radioterapia e Medicina Nuclear, e os desafios que moldarão o futuro da profissão em Portugal.
Perspetiva Atual: Olhando para trás e fazendo um balanço destes 55 anos, quais considera serem os marcos mais importantes na história da associação e como eles moldaram a sua relevância atual no setor da saúde? Joana Fernandes: A ATARP tem desempenhado um papel essencial na evolução das profissões de Técnico de Radiologia, Radioterapia e Medicina Nuclear. Ao longo destes 55 anos, consolidou-se como uma referência ao promover a formação contínua, defendendo em simultâneo os direitos dos cidadãos.
Entre os marcos mais relevantes destaco a adaptação à evolução tecnológica, com a criação de cursos e eventos que permitem a atualização das competências. Hoje, centenas de profissionais beneficiam destas iniciativas, garantindo práticas de excelência com recurso à mais avançada tecnologia, sempre focados na segurança e qualidade dos cuidados de saúde.
Destaco também a evolução das modalidades de diagnóstico e terapêutica neste mais de meio século, como a tomografia computorizada, a ressonância magnética, os avanços no tratamento em radioterapia, a tomografia por emissão de positrões e o recurso a novos radiofármacos que exigiram uma atualização constante por parte dos profissionais, tendo as parcerias com a indústria do sector permitido acompanhar estes avanços e dotar os profissionais de ferramentas necessárias para atuar de acordo com as melhores práticas.
A ATARP tem sido um agente de mudança e progresso. A sua relevância atual resulta deste legado de formação, inovação e ética, assegurando que os profissionais são reconhecidos pela competência e impacto positivo na saúde pública.
Entre os marcos mais relevantes destaco a adaptação à evolução tecnológica, com a criação de cursos e eventos que permitem a atualização das competências.
PA: Com a nova direção que tomou posse em outubro, quais são as principais linhas estratégicas que pretendem implementar para consolidar o papel da ATARP no panorama da saúde em Portugal?
JF: A nova direção da ATARP centra a sua ação na adaptação das profissões à constante evolução tecnológica e às exigências do setor da saúde, tendo definido como principais linhas estratégicas os seguintes pontos:
Atualização das Competências: As competências profissionais mantêm-se inalteradas há mais de 30 anos, um atraso que urge corrigir para garantir que os profissionais atuem alinhados com as inovações mais recentes;
Redefinição das Designações Profissionais: As funções desempenhadas atualmente são mais complexas e exigentes, pelo que os títulos devem refletir essa realidade. É essencial diferenciar especialidades e qualificar devidamente os profissionais;
Regulamentação: O Decreto-Lei 320/99 que reconhecia a necessidade da regulamentação nestas profissões, criando nomeadamente o Conselho Nacional das Profissões, nunca saiu do papel. A tutela nada fez, e volvidos mais de 30 anos (24 anos), é necessário corrigir esta situação e regular de uma vez por todas estas profissões de forma a defender os cidadãos;
Formação Contínua: Um compromisso permanente com a atualização e especialização dos profissionais, elemento crucial para a qualidade dos serviços prestados. Estas linhas estratégicas têm um único objetivo: elevar a profissão, adaptá-la à realidade atual e contribuir para um setor de saúde mais eficiente e seguro;
Aposta na Prevenção: Atualmente só se discute a doença, mas é importante falar e agir sobre a prevenção, de forma a garantir a saúde dos cidadãos, maior qualidade de vida e em simultâneo otimizar recursos, nomeadamente os cuidados de saúde primários.
PA: Qual é e tem sido o verdadeiro impacto da associação nas áreas de Radiologia, Radioterapia e Medicina Nuclear?
JF: O impacto da ATARP tem sido transformador. Como já referi, a associação promove uma cultura de formação contínua e trabalho interdisciplinar, essencial para a adaptação à evolução tecnológica e prestação de cuidados seguros e eficazes. A ATARP criou ainda grupos de trabalho dedicados a diferentes áreas que têm, também, fomentado a aposta na atualização e partilha de conhecimento quer de técnicas diagnósticas, quer ao nível de terapêuticas inovadoras. Para além disso, tem existido uma preocupação crescente com a comunicação com o utente que se tem refletido diretamente na qualidade do diagnóstico e no sucesso terapêutico.
PA: A luta por transformar a associação numa Ordem tem sido uma prioridade ao longo do tempo. Quais os principais desafios enfrentados nesse processo e de que forma é que obterem este reconhecimento pode beneficiar os profissionais da área?
JF: A transformação em Ordem profissional é um objetivo antigo, mas enfrenta desafios, como a falta de reconhecimento político e o não cumprimento e aplicação da legislação existente, que reconhece desde 1999, a necessidade de regulamentação destas áreas, nomeadamente o Decreto-Lei 320/99. Apesar da importância das nossas áreas na prática clínica, em particular pelo risco associado à radiação ionizante, Portugal mantém-se desfasado de outros países europeus onde a profissão já é regulamentada.
O reconhecimento como Ordem traria benefícios claros, como a regulamentação rigorosa e uma maior proteção dos cidadãos, através do controlo e fiscalização das práticas profissionais. Acreditamos que esta mudança, além de valorizar os profissionais, trará ganhos significativos para a saúde pública.
PA: A formação dos profissionais é uma das áreas-chave da associação. Que iniciativas específicas têm sido desenvolvidas para garantir a contínua atualização e especialização dos seus associados?
JF: A ATARP está a trabalhar na certificação da formação, garantindo a atualização constante dos profissionais e o aumento do valor das suas competências. Esta aposta na formação contribui diretamente para o diagnóstico e terapêutica de excelência, resultando em benefícios claros para os cidadãos e em níveis mais elevados de segurança e qualidade nos cuidados prestados.
Para além disso, anualmente a ATARP promove a organização de congressos, simpósios e/ou webinares e, bianualmente organiza um congresso nacional, que já conta com a vigésima edição, envolvendo profissionais com experiência especializada, academia e indústria. Estes eventos destacam os temas mais pertinentes da atualidade, assim como, aplicações futuras, com vista ao encontro do interesse dos profissionais das três áreas.
PA: Que impacto têm as bolsas e prémios atribuídos, no incentivo à excelência e no desenvolvimento das competências dos profissionais da área?
JF: Os prémios são motores para incentivar o desenvolvimento profissional contínuo e reconhecer o mérito dos profissionais. Estas iniciativas estimulam a inovação e a excelência. O desenvolvimento de competências através da produção científica é essencial para os desafios de qualquer uma das três áreas, quer na promoção dos cuidados prestados, no desempenho e otimização da prática profissional, quer na otimização de procedimentos de proteção radiológica, entre outros.
Os prémios são motores para incentivar o desenvolvimento profissional contínuo e reconhecer o mérito dos profissionais.
PA: Como é que a associação fomenta a investigação e a inovação na área em que atua? Existem programas ou parcerias em curso que mereçam ser destacados?
JF: A associação fomenta a investigação através de parcerias estratégicas com a academia e a indústria. Estas colaborações impulsionam o desenvolvimento de soluções inovadoras, permitindo que os profissionais estejam na vanguarda das inovações tecnológicas e científicas, nomeadamente no âmbito da Proteção Radiológica.
PA: Qual tem sido o papel da ATARP na cooperação com instituições de saúde e outras sociedades médicas em Portugal? Existem projetos conjuntos relevantes e vantajosos para a evolução destas áreas?
JF: A ATARP sempre promoveu uma cooperação ativa com instituições de saúde e sociedades, essencial para a partilha de conhecimentos e garantia da qualidade dos serviços de excelência prestados, nomeadamente através de estudos científicos que têm vindo a permitir a redução das doses de exposição dos utentes, uma área que precisa de ser acautelada, especialmente na pediatria. Existem outros projetos conjuntos em curso que, embora ainda não possam ser divulgados, trarão benefícios significativos para a saúde dos cidadãos a médio e longo prazo.
PA: Na visão desta nova direção, quais são os principais desafios e oportunidades que os profissionais ligados à área enfrentarão nos próximos anos?
JF: Os principais desafios residem, naquelas que são as linhas estratégicas de atuação desta direção, nomeadamente a urgente atualização das competências, designações e regulamentação, há muito desatualizadas, como já referi.
Relativamente às oportunidades, temos a integração da inteligência artificial nas nossas áreas, enquanto ferramenta de auxílio, que nos irá permitir ter mais tempo para o utente, apostando assim na prevenção da doença, com diagnósticos precoces que salvam vidas. Os profissionais de Radiologia, Radioterapia e Medicina Nuclear terão um papel fundamental na transformação do paradigma da saúde em Portugal.
Temos a integração da inteligência artificial nas nossas áreas, enquanto ferramenta de auxílio, que nos irá permitir ter mais tempo para o utente, apostando na prevenção da doença, com diagnósticos precoces que salvam vidas.
PA: Qual a importância do associativismo e do envolvimento dos sócios para o futuro das profissões de Radiologia, Radioterapia e Medicina Nuclear?
JF: A ATARP representa mais de meio século de trabalho contínuo em prol dos profissionais e utentes. No entanto, para manter esta missão viva, é crucial o envolvimento dos técnicos através do associativismo. Ser sócio não é apenas um ato simbólico, mas um compromisso ativo com a valorização da profissão, com a defesa de direitos e com a melhoria constante da prática profissional.
Os sócios são a força motriz da ATARP. É através do contributo coletivo que a associação consegue promover formação contínua, estabelecer parcerias estratégicas, fomentar a inovação e lutar pelo reconhecimento político da profissão. Juntos, os profissionais tornam-se mais fortes, mais atualizados e mais bem preparados para enfrentar os desafios do setor.
Ao longo de 55 anos, a ATARP provou que o associativismo é uma ferramenta poderosa de transformação. É fundamental que os Técnicos de Radiologia, Radioterapia e Medicina Nuclear se unam em torno desta causa, pois é através da força dos sócios que a associação continuará a ser uma referência nacional e a garantir a excelência neste setor da saúde.
Os sócios são a força motriz da ATARP.