Delegação da SPRMN recebendo a homenagem do Colégio Brasileiro de Radiologia no seu congresso anual.

“A Radiologia é um pilar da medicina e dos cuidados de saúde”

Em entrevista exclusiva à Perspetiva Atual, Luís Curvo Semedo, presidente da Sociedade Portuguesa de Radiologia e Medicina Nuclear (SPRMN), reflete sobre os avanços alcançados durante o seu mandato, o impacto das iniciativas formativas e científicas e projeta ainda os desafios futuros para a radiologia em Portugal. De temas como inteligência artificial à medicina de precisão, o futuro da especialidade promete inovação e adaptação constante.

Perspetiva Atual: A Sociedade Portuguesa de Radiologia e Medicina Nuclear desempenha um papel fundamental no avanço das ciências médicas e no impacto direto na saúde da população. Poderia destacar as principais áreas de atuação da sociedade e como as suas iniciativas têm ajudado a melhorar o diagnóstico, tratamento e prevenção de doenças, beneficiando assim todos os cidadãos?

Luís Curvo Semedo: A SPRMN, sendo uma sociedade de cariz científico, tem procurado incrementar a qualidade da radiologia portuguesa, dessa forma contribuindo para uma melhoria dos cuidados de saúde prestados à população. Grande parte dessa melhoria passa por uma aposta cada vez mais forte na formação e na preparação dos profissionais, com particular ênfase nas atividades dirigidas aos internos de formação específica de radiologia e na formação contínua dos especialistas.

Grande parte dessa melhoria passa por uma aposta cada vez mais forte na formação e na preparação dos profissionais.

PA: Com o término do mandato desta Direção em 2025, que reflexão é possível fazer sobre os principais propósitos alcançados? Quais foram os maiores desafios enfrentados e os avanços mais significativos para a especialidade de Radiologia e Medicina Nuclear em Portugal?

LCS: A direção revelou um notável espírito de equipa e trabalhou diligentemente na prossecução dos objetivos a que se propôs no início do mandato. Conseguiu organizar, ao longo destes anos de mandato, diversos eventos científicos, com particular destaque para o CNR’24, o nosso congresso nacional, com mais de 400 inscritos. E, de acordo com o seu programa de ação, encontra-se a preparar o CNR’25, dessa forma passando a ser responsável pela organização de um grande evento anual, ao invés de bi-anual como era usual.

A atividade da direção não se cinge à organização de eventos, pelo que, até ao final do mandato, espera poder disponibilizar o novo website da sociedade e proceder ao uma revisão dos estatutos.

Em 2025 haverá lugar a várias atividades da escola da SPRMN, agora coordenada pelo Dr. André Carvalho, radiologista da ULS-S. João, com o primeiro módulo formativo, dedicado à radiologia genito-urinária, a decorrer em 11 de janeiro próximo, na sede da SPRMN.

PA: Nos últimos anos, houve iniciativas notáveis no âmbito da atribuição de bolsas e prémios. Pode partilhar connosco de que forma é que estas ações têm apoiado os profissionais e investigadores da área e se há novos projetos a destacar nesse sentido?

LCS: A Sociedade tem, em reuniões científicas por ela organizadas, atribuído prémios que têm intuito predominantemente formativo. Destacam-se aqueles que envolvem períodos de formação em entidades estrangeiras, como os que resultam da cooperação entre a SPRMN e o Instituto Americano de Radiologia e Anatomo-patologia (AIRP), instituição norte-americana reconhecida pela sua elevada valia formativa. A SPRMN não atribui prémios monetários, pois consideramos que a formação é realmente onde queremos apostar.

Gostaria também de referir que até ao final do meu mandato, a atual direção irá reativar uma bolsa a atribuir a atividades de investigação, com o nome do Sr. Prof. Henrique Vilaça Ramos, uma personalidade ímpar na radiologia nacional, tendo sido presidente da SPRMN.

Direção da SPRMN, durante o Congresso Nacional de Radiologia de 2024

PA: Como tem a Sociedade fortalecido a cooperação com Instituições de Saúde e outras Sociedades Médicas, tanto a nível nacional como internacional? Quais parcerias se destacam e que impacto têm gerado na evolução da Radiologia e Medicina Nuclear?

LCS: Para além da sua relação umbilical com a sociedade europeia de radiologia (ESR), com vários dos seus associados fazendo parte de diversos comités da ESR e participando regularmente no congresso anual, também com algumas sociedades de sub-especialidades tem sido criada alguma sinergia, desde logo permitindo aos sócios da SPRMN usufruírem de vantagens similares aos sócios dessas mesmas sociedades (a título de exemplo nos congressos do ESGAR, ESUR, EUSOBI, ESSR e CIRSE, que decorreram nos últimos anos em Portugal). Também nos congressos e outras iniciativas dessas sociedades encontramos um papel de realce de vários dos sócios da SPRMN.

A SPRMN fez-se representar nos congressos anuais das sociedades paulista e espanhola de radiologia, com as quais tem protocolos de colaboração firmados há algum tempo. No entanto, gostaria de destacar a presença da representação da SPRMN no congresso do Colégio Brasileiro de Radiologia (CBR), em que a nossa sociedade for homenageada, juntamente com a Sociedade Japonesa de Radiologia. Foi a primeira vez que uma sociedade científica foi distinguida pelo CBR, facto que muito nos orgulha e, acima de tudo, nos honra.

Por último, mas não menos importante, a relação que se pretende cada vez mais forte com sociedades “irmãs” como a Associação Portuguesa de Radiologia de Intervenção (APRI) e a Associação Portuguesa de Radiologia, Neurorradiologia e Medicina Nuclear (APRANEMN), (assim como com CNIR – Comissão Nacional de Internos de Radiologia), oferece oportunidades de crescimento e robustecimento da radiologia portuguesa.

Todas estas interações permitem naturalmente aos radiologistas portugueses conhecer novas perspetivas e ‘criar pontes’.

PA: O Congresso de 2024 foi um sucesso bastante reconhecido na área e contou com atividades centradas em dois temas bastante abrangentes – Urgência e Oncologia. Qua balanço fazem sobre este evento e que ensinamentos ou conquistas retiraram desta edição que de certa forma influenciaram a organização do próximo evento?

LCS: O CNR’24 foi, globalmente, um evento muito positivo embora, como qualquer atividade deste género, não tenha sido perfeito. Mas foram apostas ganhas a colaboração com uma empresa de organização de eventos (a GetDone Events), a construção de um programa abrangente e multidisciplinar e a oferta de um local em que os participantes, além do evento científico, usufruíssem também da oportunidade de ter alguns momentos de sã convivência. Uma outra aposta claramente ganha foi o curso pré-congresso, inteiramente dedicado à radiologia de intervenção, com organização da APRI/secção de radiologia de intervenção.  O principal desafio será fazer com que os radiologistas adiram à ideia de ter um congresso nacional todos os anos e, portanto, este evento deverá ser suficientemente cativante e interessante para que tal aconteça.

PA: Já é possível ver o cartaz para o Congresso de 2025 e promete ser um marco importante para a Sociedade. Como foi escolhido o lema deste ano e quais são os principais objetivos deste evento e temas em destaque no programa?

LCS: Para 2025 a direção optou por dois temas igualmente abrangentes, já decididos, mas que, à data, ainda não podem ser revelados. Apenas é possível levantar um pouco o véu e afirmar que são temas do interesse de muitos radiologistas e em que a vertente multidisciplinar vai continuar a ser aposta.

PA: Sabemos que esta edição inclui formações e workshops pré-congresso em parceria com instituições de referência. O que nos pode contar sobre essas ações e de que forma elas contribuirão para a capacitação dos profissionais da área?

LCS: Posso apenas adiantar que os eventos formativos terão a colaboração das secções da SPRMN e que todas as áreas da radiologia serão abrangidas, pelo que haverá sempre algo que interesse a quem participe. O curso pré-congresso será seguramente um foco de grande motivação, pois terá sessões hands-on e será dedicado a uma das áreas da radiologia que mais interesse tem suscitado em termos formativos.

PA: Já é possível revelar alguns dos convidados e palestrantes que marcarão presença no Congresso de 2025? Que impacto espera da contribuição de especialistas nacionais e internacionais para o evento?

LCS: Teremos o contributo de personalidades destacadas da área da radiologia portuguesa, nas diversas áreas a que se dedicam. Para tal recorremos à inestimável colaboração das diversas secções da SPRMN. Teremos igualmente a participação de nomes de referência a nível internacional, com especial destaque para as individualidades que irão representar as sociedades científicas com as quais a SPRMN tem protocolos estabelecidos, casos do CBR e das sociedades paulista e espanhola.

O papel de relevo da radiologia enquanto especialidade transversal a inúmeras áreas da medicina, deve ser enaltecido e reforçado.

PA: Considerando o futuro para além de 2025, quais são as prioridades estratégicas da Sociedade para continuar a liderar o avanço da Radiologia e Medicina Nuclear em Portugal? Há novos projetos ou áreas de inovação que já estejam a ser exploradas e possam ser reveladas?

LCS: O caminho a seguir terá de ser trilhado pelas futuras direções, a começar por aquela que irá iniciar as suas funções já em 2025. Pessoalmente, acho que a radiologia portuguesa deverá continuar a ter o contributo seminal da SPRMN, sendo as duas indissociáveis. O papel de relevo da radiologia enquanto especialidade transversal a inúmeras áreas da medicina, deve ser enaltecido e reforçado e deveremos ter a participação cada vez mais indelével de radiologistas em áreas como a medicina de precisão e – a atualmente tão em voga – inteligência artificial. Em última análise a radiologia deverá continuar a ser, adaptando-se em conformidade, um pilar da medicina e dos cuidados de saúde.

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