A ULSGE e a Dádiva de Sangue que Salva Vidas

A dádiva de sangue é um gesto simples, mas com um poder imenso, capaz de transformar vidas e de unir comunidades. Num mundo onde a correria do dia a dia muitas vezes nos impede de olhar para o lado, doar sangue é um ato de solidariedade que nos lembra da nossa humanidade compartilhada. A Unidade Local de Saúde de Gaia e Espinho (ULSGE) reconhece a importância vital deste ato e a necessidade urgente de sensibilizar a comunidade para a dádiva.

 Os bancos de sangue, incluindo os da ULSGE, enfrentam um desafio crescente: a diminuição do número de dadores, uma tendência que coloca em risco a disponibilidade deste recurso essencial. É preciso que se desperte para a urgência desta situação e que se mobilize a sociedade para inverter este cenário. Os números revelam uma queda preocupante.

Nos últimos 5 anos, houve uma diminuição no número de dadores, nas inscrições e, consequentemente, nas dádivas de sangue. Esta diminuição afeta a capacidade dos serviços de saúde, incluindo os da ULSGE, de responderem às necessidades dos pacientes, desde acidentes e cirurgias a doenças crónicas e transplantes. E há um dado que merece especial atenção: o sexo feminino tem tido uma influência mais significativa nesta diminuição. As faixas etárias mais jovens são as mais afetadas por esta tendência.

Entre 2020 e 2024, a ULSGE observou uma diminuição significativa de dadores entre os 18 e os 44 anos. Mais especificamente, a ULSGE registou uma perda de cerca de 33% de dadores entre os 18 e os 24 anos e uma diminuição de aproximadamente 28% de dadores entre os 25 e os 44 anos. As dádivas também registaram uma queda acentuada nestes grupos, com uma diminuição de cerca de 34% nas dádivas entre os 18 e os 24 anos e de cerca de 23% entre os 25 e os 44 anos. Este afastamento dos jovens da dádiva de sangue é particularmente preocupante para a ULSGE, pois representa uma quebra na renovação da base de dadores e coloca em risco o futuro do abastecimento de sangue na sua área de influência. É fundamental desmistificar a ideia de que doar sangue é um processo complicado ou assustador.

Na verdade, é um gesto simples, rápido e seguro. O desconforto é mínimo, e a satisfação de saber que se está a ajudar alguém é imensa. No entanto, a ULSGE tem conhecimento de que muitos residentes de Gaia se deslocam ao Porto para doar sangue, desconhecendo a existência de um espaço dedicado e bem equipado no Hospital Santos Silva. O diretor de serviço do Banco de Sangue da ULSGE apela à comunidade para que otimize os recursos locais e doe perto de casa, facilitando assim o processo e contribuindo para a comunidade.

Doar sangue é um ato de amor ao próximo, um gesto que nos conecta uns aos outros. É a oportunidade de fazer a diferença na vida de alguém, de oferecer esperança e de renovar a força da nossa comunidade. Num momento em que os bancos de sangue enfrentam desafios, o seu contributo é mais valioso do que nunca. Doe sangue. Faça a sua parte. O seu gesto pode salvar vidas.

Patient Blood Management: um novo paradigma na medicina centrada no doente

A anemia, a hemorragia e as alterações da coagulação afetam milhões de pessoas diariamente. O Patient Blood Management (PBM) – Gestão do Sangue do Doente – surge como uma abordagem médica inovadora, centrada no doente, com impacto comprovado na segurança clínica e na sustentabilidade dos sistemas de saúde.

A anemia é prevalente, sobretudo em contextos cirúrgicos, e frequentemente subdiagnosticada. Até 40% dos doentes em cirurgia major apresentam anemia pré-operatória. Simultaneamente, a transfusão de sangue, embora comum, envolve riscos significativos. Reconhecendo esta realidade, a OMS declarou o PBM uma prioridade global em 2010, reafirmada em 2021, recomendando a sua implementação em todos os sistemas de saúde.

O PBM baseia-se em três pilares: diagnóstico/tratamento precoce da anemia, redução da perda sanguínea e otimização da tolerância à anemia. Esta abordagem reduz transfusões, melhora os resultados clínicos e permite poupanças substanciais. A experiência da ULS Gaia/Espinho (ULSGE) comprova-o: reduções de 39% nas transfusões e menos 2 dias de internamento hospitalar. Em Portugal, a DGS publicou em 2018 uma norma para introduzir o PBM no SNS, com ganhos estimados superiores a 67 milhões de euros/ano. Contudo, o sucesso exige mais do que normativos: requer reorganização de circuitos, formação de equipas e mudança cultural. A ULSGE é exemplo nacional e internacional. A sua estratégia integrada, da triagem precoce à racionalização do uso de hemoderivados, demonstra ganhos clínicos e económicos claros. A nível global, países como a Austrália mostram que o PBM pode começar com pequenos projetos-piloto e escalar para políticas nacionais sustentadas.

Mais do que uma técnica, o PBM representa uma mudança cultural profunda. A OMS já fala em “saúde do sangue” como prioridade pública. Portugal está na linha da frente, com contributos relevantes para a orientação internacional. Adotar o PBM é garantir cuidados mais seguros, personalizados e sustentáveis. É um imperativo ético e estratégico para o futuro da medicina.

Diana Paupério, Coordenadora do PBM na ULSGE, Presidente da SIAPBM

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