A primeira Unidade Local de Saúde faz 25 anos
A Unidade Local de Saúde de Matosinhos (ULSM) foi criada em 9 de junho de 1999, era então Ministra da Saúde, Maria de Belém Roseira, e completará, portanto, 25 anos este ano. Desde há cinco anos que o seu aniversário é assinalado com uma conferência – a Conferência Connecting Healthcare, organizada em parceria com o Seal Group. Este ano será a 18 de junho, no Terminal de Cruzeiros de Leixões, a sua casa habitual.
O Hospital Pedro Hispano (HPH), a unidade hospitalar da ULSM, tinha sido inaugurado dois anos antes, a 20 de março de 1997, pela mesma ministra da Saúde. Este hospital foi, e é, um modelo de organização muito mais orientado para os doentes e utentes, do que para a especialização dos cuidados de saúde, ainda que a sua qualidade seja amplamente reconhecida e elogiada. A integração de cuidados e a multidisciplinaridade das equipas e projetos são as suas principais caraterísticas, a par da proximidade e do ambiente acolhedor voltado para as pessoas.
Assim como o HPH, também algumas unidades de cuidados de saúde primários se destacavam (Horizonte e Oceanos) e eram modelo experimental de intervenções inovadoras, sendo decisivas para o desenvolvimento das futuras Unidades de Saúde Familiar, nomeadamente no seu modelo B.
Havia, assim, condições favoráveis para experimentar um modelo diferente de organização da prestação de cuidados de saúde, vocacionado para a sua integração entre os diferentes locais, nomeadamente cuidados de saúde primários, cuidados hospitalares e cuidados na comunidade. Coincidindo com um município, a ULSM rapidamente se integrou no contexto das várias instituições focadas no cidadão e na promoção da sua qualidade de vida, num sistema local de saúde amplo. O percurso destes 25 anos demonstra muitas das potencialidades do modelo, e também da sua personalização numa unidade ímpar, não obstante as sucessivas marés de adversidade, entre sistemas de informação, contratualização e financiamento, nunca orientados para a sua especificidade de Unidade Local de Saúde.
ULSM conquista prémios de prestígio nacional e internacional
“Gold Winner” e “SNS Awards” elegem projetos inovadores
Quase a completar 25 anos de atividade assistencial, a Unidade Local de Saúde de Matosinhos destaca-se no panorama nacional e no SNS pelo seu percurso pioneiro e capacidade de inovar na prestação de cuidados de saúde de proximidade e de encontro às necessidades dos seus utentes. Recentemente voltou a ser distinguida com prémios de prestigio nacional e internacional pelos projetos inovadores que conseguiu concretizar. Destaque para o programa “Mais Por Ti”, uma iniciativa da Equipa de Enfermagem de Saúde Mental Positiva que conquistou um “SNS Award” atribuído pela Direção Executiva do SNS, ao mesmo tempo que a nível internacional, a Equipa de Suporte a Doentes Crónicos Complexos recebia o prémio mais ambicionado no Congresso Mundial dos Hospitais, um “gold award” atribuído pela International Hospital Federation, um dia depois de ter vencido o Prémio Saúde Sustentável 2023.
A Equipa de Suporte a Doentes Crónicos Complexos, coordenada pelo especialista de Medicina Interna, Jorge Martins, não podia estar mais orgulhosa. Depois de ter sido distinguida com o Prémio Saúde Sustentável, na categoria Integração de Cuidados, vê o seu trabalho reconhecido e elogiado pelo American College of Heathcare Executives Excellence Award for Leadership and Management , que lhe atribuiu o “gold winner”, entre os vários projetos de diferentes países apresentados no Congresso Mundial dos Hospitais, que decorreu em Lisboa, em outubro do ano passado.
A Equipa de Suporte ao Doente Crónico Complexo é uma equipa multidisciplinar com quase oito anos de atividade, formada por enfermeiros e médicos de Medicina Interna, que trabalha em articulação com as equipas de saúde familiar e especialidades hospitalares, com o objetivo de prestar cuidados integrados a doentes crónicos complexos, caracterizados por multimorbilidade, polifarmácia e uso excessivo de serviços de saúde. A sua atuação baseia-se na gestão de Caso, utilização de um Plano Individual de Cuidados, uso de diferentes níveis de acompanhamento de acordo com a estabilidade clínica e a articulação com parceiros na comunidade.
Até agora a ESDCC já acompanhou perto de 600 utentes, conseguindo dessa forma a redução de episódios de urgência e de dias de internamento hospitalar. Ao mesmo tempo, contribuiu para uma melhoria da qualidade de vida dos doentes, com a redução de sintomas depressivos, melhor adesão ao regime medicamentoso e, garantidamente, a satisfação dos utentes. Resultados que justificam o Prémio Saúde Sustentável, tendo em conta que “a sua atividade contribui de forma coesa para a sustentabilidade do SNS, aliando eficiência a ganhos em saúde.” O Prémio Saúde Sustentável é uma iniciativa do Jornal de Negócios e da Sanofi, criada com o objetivo de divulgar e incentivar as boas práticas para a sustentabilidade da Saúde em Portugal.
“Mais por Ti “ vence “SNS Award”
Naquela que foi a sua primeira iniciativa, a Direção Executiva do SNS elegeu a Equipa de Enfermagem de Saúde Mental vencedora, destacando-se entre os projetos selecionados na categoria Cultura Organizacional, com o projeto “Mais por Ti”.Iniciado em 2018 pela Equipa de Enfermagem de Saúde Mental Positiva, este programa visa promover a saúde mental dos colaboradores da instituição, através de “uma jornada orientada de autoconhecimento e automotivação, que se tem revelado um catalisador para o aumento da felicidade organizacional”.
Profissionalizar e Reorganizar – rumo a um Serviço de Investigação de Excelência
O Serviço de Investigação, Epidemiologia Clínica e Saúde Pública Hospitalar está empenhado em inovar, e conta agora com uma nova coordenação e uma equipa multidisciplinar que inclui o contributo de médicos e enfermeiros e uma gestão dedicada, refletindo uma visão mais abrangente das necessidades de promoção e implementação da investigação na ULSM.
A saúde é o nosso bem mais precioso. Por isso, estamos a investir na investigação clínica para oferecer os melhores cuidados de saúde aos nossos utentes.
O Serviço de Investigação, Epidemiologia Clinica e Saúde Pública Hospitalar (SIECSPH) divide-se em duas grandes áreas: o Centro de Ensaios Clínicos (CEC) e o Centro de Investigação Clínica, INTELLECT (INvesTigation, Cinical EpidemioLogy and hospitaL publiC healTh).
Centro de Ensaios Clínicos
O Centro de Ensaios Clínicos (CEC) tem apresentado um crescimento sustentado, com o aumento no número de ensaios clínicos de iniciativa do promotor, número de participantes recrutados e número de visitas de ensaio. No entanto, a estrutura de apoio necessita de acompanhar este crescimento, pelo que estão a ser planeadas intervenções nesse sentido. O nosso o objetivo é impulsionar o centro para um novo patamar de excelência, permitindo-nos captar mais receita para a instituição e, simultaneamente, proporcionar o acesso à inovação aos doentes, e o desenvolvimento profissional para todos os intervenientes.
Ao profissionalizar e reorganizar o CEC é possível aumentar, significativamente, a capacidade de captar e gerir ensaios clínicos de alto valor, o que resultará no aumento da receita gerada pelo CEC, que poderá ser reinvestida na melhoria dos cuidados de saúde prestados aos pacientes, na criação de novos postos de trabalho na área da investigação clínica, bem como no reforço da reputação da instituição como um centro de excelência em investigação clínica.
O nosso objetivo é partilhar com a população, em especial com os nossos utentes, os benefícios dos ensaios clínicos e desmistificar este tema, criando plataformas digitais para informação e incentivo à participação.
INTELLECT (INvesTigation, Cinical EpidemioLogy and hospitaL publiC healTh)
Acreditamos que a investigação da iniciativa do investigador é fundamental para o progresso e para a melhoria da qualidade dos cuidados de saúde prestados. O rigor e a metodologia necessários à investigação clínica promovem o espírito crítico e ajudam na interpretação e integração da evidência que suporta a decisão clínica.
Com o objetivo de agilizar os processos, promover a colaboração e fomentar a investigação com base nas necessidades da instituição, o INTELLECT pretende dar mais visibilidade à produção científica dos profissionais da ULSM, reconhecendo o seu talento e dedicação à investigação.
A reorganização do serviço visa também criar redes de investigação multidisciplinar, onde diferentes áreas de expertise se unem para enfrentar os desafios da Saúde de uma forma mais eficaz. Isto implica uma maior aproximação e colaboração da investigação realizada ao nível Hospitalar e dos Cuidados de Saúde Primários.
Esta reorganização trará consigo novas oportunidades para todos: investigadores, instituição e doentes. Para os investigadores, mais apoio, formação, mais recursos e mais facilidade na realização de projetos de investigação. Para a instituição, um reforço do seu posicionamento como referência na investigação clínica. E para os doentes, garantidamente, o acesso a melhores cuidados de saúde, baseados em evidência.
Com o objetivo de simplificar e otimizar o processo de aprovação de estudos pelo Conselho de Administração construímos uma nova plataforma de submissão de estudos, que visa facilitar a submissão de projetos de investigação e a gestão dos processos de avaliação e aprovação.
Esta plataforma foi desenvolvida em estreita colaboração com todos os intervenientes no processo de aprovação dos estudos, de forma a dar resposta às dificuldades identificadas no procedimento anterior. Maior agilidade na submissão e aprovação de estudos, mais transparência e comunicação com os investigadores, mais rigor e qualidade na avaliação dos estudos e maior foco na investigação com impacto direto na instituição destacam- -se entre as suas principais vantagens.
Através dessa plataforma, a instituição e o serviço disponibilizam aos investigadores uma forma simples de partilha da divulgação científica realizada e, em conjunto com o Centro Académico Clínico Egas Moniz Health Alliance (EMHA), que a ULSM integrou recentemente, pretende-se desenvolver atividades de formação, bolsas e oportunidades de integração em redes de investigação atrativas.
PrEGeReT finalista no Top Health Awards
O Programa da Equipa De Gestão do Regime Terapêutico na Diabetes Tipo 2 (PrEGeReT) da Unidade Local de Saúde de Matosinhos foi um dos projetos finalistas selecionados para o Prémio Top Health Awards, na categoria “Integração de Cuidados de Saúde”. A apresentação deste programa de acompanhamento individualizado dos utentes com Diabetes tipo 2, bem como os resultados conseguidos, decorreu em fevereiro, em Lisboa.
“Este programa surgiu da necessidade de se criar uma resposta paralela e complementar aos cuidados de saúde assegurados pela Equipa Saúde Familiar ou pela Equipa de Consulta Externa de Endocrinologia, tendo em conta o elevado número de utentes com dificuldade em gerir a sua Diabetes tipo 2 no ACES de Matosinhos”, explica Hélder Correia, enfermeiro especialista em Saúde Comunitária, acrescentando que em 2022, 26,4% dos utentes inscritos apresentavam diagnóstico de diabetes.
Perante essa realidade, tornou-se evidente a necessidade de avançar com um modelo de acompanhamento individualizado, de maior proximidade, com contactos regulares e frequentes em contexto de consultório e domiciliário, através de uma equipa multidisciplinar, constituída por enfermeiro, endocrinologista, fisioterapeuta, nutricionista e assistente social, colocando “o utente no centro da decisão, fomentando a integração de cuidados e facilitando a navegação do utente pelas várias respostas de diferentes níveis de cuidados de saúde e sociais”, sublinhou.
Assim, os utentes com compromisso na gestão do regime terapêutico são referenciados pelas Equipas de Saúde Familiar, pela Consulta de Endocrinologia ou pelo Internamento Hospitalar (de acordo com critérios de elegibilidade) e são posteriormente acompanhados, num modelo de gestão de caso, por um Enfermeiro da Unidade de Cuidados na Comunidade que intervém, articula e referencia, de acordo com o nível de complexidade do utente, com a equipa multidisciplinar.
Os objetivos do PrEGeReT visam a capacitação/empoderamento do utente para a gestão da “sua” diabetes, promovendo cuidados centrados nas suas necessidades, através da articulação de diferentes profissionais de saúde dos diferentes tipos de cuidados. “Dessa forma pretende-se rentabilizar os recursos disponíveis através do trabalho em equipa multidisciplinar, aumentar a acessibilidade a cuidados de saúde especializados e diminuir as complicações e os custos associados à doença”, acrescenta Hélder Correia, que apresentou este projeto na sessão dedicada aos “finalistas” do Top Health Awards, destacando alguns resultados.
Em 2022, o PrEGeReT acompanhou 254 utentes, dos quais 112 (43,75%) tiveram alta. Dos utentes com alta, 92% apresentaram resolução do diagnóstico “compromisso da gestão do regime terapêutico” (nas dimensões de alimentação, atividade física e medicação), e 92,4% assumiram o “compromisso na autoadministração de medicamentos”. Destaque ainda para a redução média de 2,6% da HbA1C (indicador do controlo glicémico) nos doentes com alta, um indicador de sucesso deste programa.
Aliás, desde 2020, ano em que o PrEGeReT começou a funcionar nos moldes atuais, que “o ACES de Matosinhos tem apresentado resultados progressivamente melhores relativamente à percentagem de utentes com HbA1c ≤ 8%, quando comparados com a realidade nacional”, destaca, sustentando de forma “inequívoca os benefícios deste modelo de acompanhamento, quer na vertente da diminuição das complicações da Diabetes tipo 2, quer na redução dos custos associados a esta patologia tão prevalente”.
Novo projeto de literacia da ULSM
“Mais conversa, melhor Saúde” é o lema do novo projeto de informação em Saúde da Unidade Local de Saúde de Matosinhos, num formato podcast e também de vídeo cast, que começou a ser gravado a 26 de março. A ideia original é de Cristina Lopes, médica e coordenadora da Unidade de Imunoalergologia.
Trata-se de um projeto de literacia em Saúde que pretende informar sobre algumas das doenças mais prevalentes, incentivando à prevenção e à promoção da saúde. Fora do consultório, sem bata ou estetoscópio, a conversa acontece à volta de um microfone, que fará chegar a mensagem a todos, e em qualquer ponto do país, acompanhada de um vídeo.
“A Tuberculose – desmistificar conceitos”, “Conversa sobre cuidados paliativos”, “Quero deixar de fumar. E agora?”, “Obesidade – de que falamos?”, “Mitos e Realidades do pós-parto” são alguns dos temas que se propõe abordar ao longo de oito episódios. Este projeto inovador de literacia em Saúde insere- -se na comemoração dos 25 anos da ULS de Matosinhos, instituição pioneira na integração de cuidados primários e hospitalares, e conta com o apoio da empresa Shake It que tornou possível a sua concretização.