
“O ISEC é, hoje, referenciado a par das melhores escolas de engenharia em Portugal”
Ao fim de quase oito anos na presidência do Instituto Superior de Engenharia de Coimbra (ISEC), António Mário Velindro faz um balanço positivo do caminho percorrido. A internacionalização, a inovação pedagógica, a aposta na cidadania ativa e a forte ligação ao setor empresarial têm sido eixos fundamentais na preparação dos engenheiros do futuro para os desafios globais. Nesta entrevista, ficamos a conhecer os principais marcos do mandato e os projetos que ainda pretende concretizar até ao final da presidência.
Perspetiva Atual: António Mário Velindro ocupa a presidência do Instituto Superior de Engenharia de Coimbra (ISEC) há quase 8 anos. Que balanço faz do percurso realizado, até agora, na liderança da instituição? Que prioridades estabelece até ao final do mandato?

António Mário Velindro: Tenho tido a honra de liderar esta instituição nos últimos anos. O balanço não podia ser mais positivo. O ISEC é, hoje, referenciado a par das melhores escolas de engenharia em Portugal. Apostámos no crescimento da internacionalização estabelecendo acordos com universidades europeias e anglo-saxónicas, ampliámos o número de unidades curriculares em inglês e fomos a escola do Politécnico com maior atividade ao nível das relações internacionais. Participámos ativamente nas redes de investigação europeias, aumentando visibilidade científica e as oportunidades de financiamento.
Aumentar a mobilidade de estudantes e docentes, incluindo países fora da Europa; reforçar parcerias com instituições tecnológicas internacionais; criar ciclos de estudo com dupla titulação e expandir o ensino em inglês para integrar alunos estrangeiros e preparar os portugueses para contextos globais foram algumas das estratégias de internacionalização criadas por esta instituição. A participação em projetos de empreendedorismo foi amplamente incrementada, provendo a transferência de tecnológica como forma de aumentar a inovação local e regional.
Apesar das limitações orçamentais foi possível modernizar alguns espaços, melhorando as infraestruturas de apoio aos estudantes. Temos em curso, através do Fundo Ambiental, investimentos estruturais em edifícios, modernizámos alguns laboratórios e equipámos salas de aula com tecnologias digitais.
Foram efetuados avanços na rede de TI, na biblioteca, nas plataformas digitais para apoio à comunidade académica. Participámos em projetos de sustentabilidade e de responsabilidade social através de projetos orientados para a eficiência energética, redução de emissões e responsabilização institucional. Tivemos intervenção direta em iniciativas locais de engenharia comunitária e de inclusão. O nosso foco tem sido as pessoas, por isso promovemos sua progressão na carreira e na progressão interna. Promovemos cerca de 22 concursos para progressão na carreira docente para professores coordenadores principais, professores coordenadores e professores adjuntos, após uma longa estagnação de cerca de 15 anos.
Até ao final do mandato continuaremos o reforço da reputação internacional, a expansão da investigação aplicada e aumentaremos o número de projetos I & D com empresas e entidades públicas, garantindo financiamento relevante e reforçando laboratórios em áreas como as energias renováveis, os sistemas inteligentes, em particular na área da engenharia biomédica.
Continuaremos a apostar nos cursos relacionados com as Cidades Inteligentes, reforçaremos a nossa intervenção na resposta aos desafios da transformação digital.

PA: O ISEC afirma-se como uma instituição que valoriza não apenas o conhecimento técnico e científico, mas também a formação integral do indivíduo. De que forma essa visão é refletida na preparação dos estudantes para os desafios sociais e profissionais da área?
AMV: O ISEC traduz a sua visão de formação integral numa forte preparação dos alunos para os desafios sociais e profissionais — promovendo não só competências técnicas como também valores éticos, de cidadania e capacidade de intervenção no mundo real.
Existem unidades curriculares que envolvem trabalhos aplicados, em que os alunos desenvolvem projetos, em equipa, com contacto direto com o mundo industrial, reforçando autonomia, criatividade e espírito crítico. Um dos exemplos é a participação do ISEC na competição Formula Student. Este ano estaremos em Barcelona com um carro elétrico desenvolvido por alunos de diversos cursos.
Mantemos ativo o FIKALAB (em parceria com a Critical Software) que envolve mais de 20 laboratórios.
Estes eventos permitem aos estudantes realizarem projetos práticos como, robôs, sistemas de diagnóstico médico, próteses e equipamentos ecológicos. Envolvemos os estudantes em projetos orientados para a promoção da cidadania e solidariedade, valorizado no suplemento curricular ao diploma. Por último, promovemos ações comunitárias — envolvendo alunos, por exemplo, na recolha de hortícolas, limpeza de praias e serras, promovendo consciência social, desde o início do curso.
PA: Esta instituição possui seis departamentos que abrangem diferentes áreas da engenharia. Acredita que a diversidade desta estrutura departamental contribui para a inovação pedagógica e motiva a interdisciplinaridade?
AMV: Sim, a diversidade da estrutura departamental do ISEC – que integra seis departamentos distintos (Engenharia Civil, Engenharia Eletrotécnica, Engenharia Informática e de Sistemas, Engenharia Mecânica, Matemática e Física, e Engenharia Química e Biológica) – é claramente um fator que potencia a inovação pedagógica e estimula a interdisciplinaridade.
Esta organização permite ao ISEC promover projetos pedagógicos e científicos em que diferentes áreas do saber convergem, criando soluções mais completas e alinhadas com os desafios complexos da sociedade e da indústria. A própria dinâmica dos cursos e a aposta na aprendizagem baseada em projetos (PBL) exige que os alunos articulem conhecimentos de várias disciplinas para resolver problemas reais – como acontece, por exemplo, nos projetos de cidades inteligentes, mobilidade elétrica ou eficiência energética, onde intervêm departamentos como Civil, Eletrotécnica, Informática e Mecânica.
PA: Por outro lado, têm apostado em estágios de verão com o intuito de aproximar os estudantes do contexto profissional. Que resultados têm sido alcançados com esta estratégia?
AMV: A aposta do ISEC em estágios de verão tem-se revelado uma estratégia altamente eficaz para aproximar os estudantes do contexto profissional, com resultados concretos a vários níveis — tanto na empregabilidade como no reforço das competências pessoais e técnicas.
Estes estágios são promovidos por Gabinetes de apoio, que estabelecem pontes com o tecido empresarial e garantem que a experiência dos estudantes seja relevante, supervisionada e formativa. Esta estratégia contribui para o reforço da rede de antigos alunos, que auxiliam os estudantes a aplicar os conhecimentos adquiridos em contexto real, testando as suas capacidades em ambiente empresarial. O estudante torna-se mais maduro e mais preparado para os desafios.

Muitos dos estágios realizados acabam por resultar em propostas de emprego antes mesmo da conclusão dos cursos, especialmente nas áreas de Engenharia Informática, Eletrotécnica e Mecânica — três dos setores com maior procura e com forte ligação às empresas parceiras do ISEC, como a Critical Software, Altice, a PRIO, a PSA/Stellantis, entre outras.
PA: E quanto à bolsa de estudo por mérito académico, acredita que representa também uma oportunidade adicional para os estudantes? Este incentivo ajuda a estimular o seu empenho?
AMV: Sim, a atribuição da bolsa de estudo por mérito académico tem-se revelado um estímulo claro ao empenho, à disciplina e à superação pessoal.
Ao premiar os alunos com melhor desempenho, esta bolsa não só reconhece o esforço e a excelência, como também é uma mensagem clara de que o mérito é valorizado e recompensado. Muitos estudantes referem que este tipo de apoio funciona como motivação adicional para manter ou melhorar os seus resultados, sobretudo quando enfrentam desafios financeiros ou académicos.
Além disso, este incentivo contribui para criar uma cultura de responsabilidade e ambição positiva, onde os alunos se sentem mais comprometidos com o seu percurso, mais focados nos objetivos e mais confiantes nas suas capacidades. O reconhecimento público e institucional do seu mérito reforça também o sentido de pertença à escola e o orgulho académico.
