ADAI expande projetos de investigação e alarga cooperação internacional

A Associação para o Desenvolvimento da Aerodinâmica Industrial (ADAI), da Universidade de Coimbra, tem vindo a alargar as suas áreas de investigação e as parcerias com centros científicos na Europa, América e África. Com 10 projetos em curso, como a instalação do Túnel Térmico no LEIF, o diretor da ADAI, Manuel Gameiro, alerta para o papel da associação na promoção da inovação científica e tecnológica, referindo a importância da cooperação internacional para enfrentar os desafios sociais e ambientais atuais.

Perspetiva Atual: A Associação para o Desenvolvimento da Aerodinâmica Industrial (ADAI), ligada ao Departamento de Engenharia Mecânica da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, tem contribuído para a investigação, desenvolvimento e prestação de serviços em diversas áreas tecnológicas. Como tem evoluído o papel da ADAI na promoção da inovação científica e tecnológica em Portugal? E fora do país?

Manuel Gameiro: Desde a sua criação, em 1990, a evolução da ADAI tem sido no sentido do alargamento das áreas de atuação dentro do universo dos temas que se relacionam com as áreas de Energia e Ambiente. No momento da sua criação, o foco estava mais diretamente relacionado com o objetivo principal na época do Prof. Xavier Viegas, o primeiro diretor da ADAI, que era o de conseguir as condições que permitissem a instalação de um túnel de vento de grandes dimensões na Universidade de Coimbra, e daí o nome de Associação para o Desenvolvimento da Aerodinâmica Industrial. Ao longo destes mais de 30 anos, naturalmente foram acrescentados muitos tópicos de investigação num processo em que a escolha de novos temas pelas equipas de investigadores resulta de uma seleção multicritério em que os gostos pessoais pelos temas, a disponibilidade de financiamento por parte das agências financiadoras, a resposta aos desafios colocados pelo poder político e pela sociedade são alguns dos aspetos fundamentais. Penso que, dentro das nossas possibilidades, temos conseguido responder de forma positiva aos desafios que nos foram colocados e que conseguimos criar algumas áreas de especialização em que temos reconhecimento científico nacional e internacional.

PA: O CEIF, o CIE, o CSBE e o CED são centros integrados na ADAI, com estudos orientados para as áreas dos incêndios florestais, ecologia industrial, sustentabilidade do ambiente construído e energia e detónica, respetivamente, produzindo conhecimento e soluções aplicadas a desafios reais. Qual é a importância da atuação conjunta destes centros para o avanço da investigação e a resposta a desafios da sociedade?

MG: A criação destes centros resultou de um esforço da atual direção da ADAI para garantir a nossa participação de uma forma mais estruturada na unidade de investigação científica nacional de que fazemos parte, o Laboratório Associado em Energia, Transportes e Aeroespacial (LAETA), em que somos uma das quatro unidades de gestão, a par com o INEGI, da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, o IDMEC, do Instituto Superior Técnico da Universidade de Lisboa e o AEROG, da Universidade da Beira Interior. Cada um dos centros de investigação tem áreas preferenciais de atuação, mas há vários projetos em que há participações conjuntas de investigadores de mais do que um centro, muito em função das respetivas áreas de competência. Há um grande espírito de partilha de recursos, de instalações e de equipamentos entre os quatro centros de investigação.

PA: A ADAI mantém colaborações com centros de investigação nacionais e internacionais, consultores científicos externos e instituições na Europa, América do Norte e África, tendo recentemente o Centro para a Ecologia Industrial (CIE) participado na reunião do projeto WalNUT, na Dinamarca. Que impacto têm estas relações internacionais no trabalho da ADAI? Acredita que o CIE demonstrou a imprescindibilidade nacional em projetos europeus de sustentabilidade ambiental?

MG: Estas relações são fundamentais para o nosso trabalho. O desenvolvimento científico tem tudo a ganhar com a globalização e, por outro lado, tudo a perder com os excessos de nacionalismo. Foi muito pouco noticiado e comentado, mas uma decisão do governo americano, no final do anterior mandato do atual presidente, chamada China Initiative, teve como principal objetivo proibir qualquer tipo de colaboração entre laboratórios e investigadores americanos e chineses. Cortar desta forma a colaboração entre os dois maiores sistemas científicos mundiais foi uma medida que tem um elevadíssimo impacto negativo na evolução científica global. Relativamente ao CIE, o que posso afirmar é que a equipa liderada pelo Prof. Fausto Freire tem, pelos padrões internacionais, um excelente nível de produção científica e um impacto internacional inquestionável, nomeadamente nas avaliações de ciclo de vida e na economia circular. Por essa razão, os convites para participação em projetos europeus surgem de uma forma quase que natural.

PA: Por outro lado, em abril, o Centro de Estudos sobre Incêndios Florestais da ADAI concluiu a instalação de um Túnel Térmico no LEIF, na Lousã. Considera que a infraestrutura vai auxiliar na investigação e na prevenção de incêndios florestais?

MG: Esta infraestrutura irá criar condições para uma simulação física mais realista das condições em que se desenvolvem os incêndios florestais, pelo que naturalmente poderá vir a ter um papel importante na obtenção de resultados científicos relevantes por parte das nossas equipas de investigação.

PA: Praticamente a meados de 2025, quais objetivos já foram alcançados e quais pretendem concluir até ao fim do ano?

MG: Como objetivos alcançados podemos referir a classificação de Excelente obtida pelo LAETA na avaliação da FCT recentemente concluída e o conjunto de cerca de 10 projetos científicos em que já conseguimos aprovação por parte das agências de financiamento este ano. Temos neste momento em fase de conclusão duas propostas de projetos em consórcios de grande dimensão que irão concorrer às chamadas mini-agendas cuja aprovação seria muito importante para nós.

CSBE – H2NG


O projeto H2NG – Hydrogen and Natural Gas Blending and Injection Station – Estação de mistura e injeção de hidrogénio nas redes de gás natural, submetido no contexto do Aviso para apresentação de candidaturas (AAC) MPr-2023-7, tem como líder a PRF – GÁS, TECNOLOGIA E CONSTRUÇÃO, S.A., em colaboração com a STREAM Consulting LDA, a Universidade de Coimbra e a Associação para o Desenvolvimento da Aerodinâmica Industrial.

O objetivo principal do projeto consiste em projetar e desenvolver uma solução inovadora de uma Estação Completa de Mistura e Injeção de Hidrogénio nas Redes de Transporte (Alta Pressão) e Distribuição (Média/Baixa Pressão) de Gás Natural. Esta solução inovadora deverá: i) não conduzir à estratificação do hidrogénio no interior da conduta principal da rede; ii) evitar a fragilização das condutas de metal pelo contacto com o hidrogénio introduzido; iii) cumprir os requisitos de funcionamento das redes, nomeadamente de não provocar qualquer obstrução física na rede de transporte, devido à necessidade de passagem do equipamento de inspeção/manutenção; iv) cumprir os requisitos de operação, nomeadamente de homogeneidade da mistura de hidrogénio com gás natural nas condutas.

Para cumprir os requisitos, o desenvolvimento da Estação Completa incluirá, nesta fase laboratorial, o projeto, desenvolvimento e construção de três subsistemas principais: pré-mistura, injeção e controlo/monitorização. O objetivo central é construir a Estação Completa, com o desenvolvimento desses subsistemas fundamentais que, em conjunto, assegurarão as funções necessárias.

CED – BW2C


O projeto BW2C – BIO-WASTE2CARBON – Captura Criogénica de Carbono de Gases de Pós-Combustão de Resíduos Florestais visa o desenvolvimento de um sistema inovador de captura criogénica de CO₂ biogénico, direcionado para gases de pós-combustão resultantes da queima de resíduos florestais. Enquadrado numa lógica de investigação e desenvolvimento experimental, o projeto promove uma solução tecnológica pioneira — o sistema Kryos-C — caracterizado por ser semimóvel, energeticamente autónomo e capaz de operar in situ. Esta abordagem contribui simultaneamente para a descarbonização e para uma gestão florestal mais integrada e eficiente.

Entre os objetivos específicos do projeto, destacam-se: a inovação em tecnologias de captura de CO₂, através do desenvolvimento de uma solução sem recurso a produtos químicos, garantindo elevada eficiência, pureza do CO₂ e baixo impacto ambiental; a valorização de resíduos florestais como matéria-prima para produção de CO₂ biogénico sólido, reduzindo os custos logísticos e promovendo a sua utilização direta na própria floresta; a produção de matéria-prima de elevado valor económico, com potencial aplicação em biocombustíveis sintéticos e outras utilizações industriais; e, por fim, a contribuição para a sustentabilidade florestal, ao apoiar a mitigação do risco de incêndios e fomentar práticas de gestão mais seguras e eficazes da biomassa residual.

CIE – ESCIB


O projeto ESCIB – Developing Environmental Sustainability & Circularity Assessment Methodologies for Industrial Biobased Systems, financiado pelo programa Horizonte Europa da União Europeia, visa apoiar a sustentabilidade da economia de base biológica na Europa através do desenvolvimento de metodologias de avaliação robustas e integradas, aplicáveis a sistemas industriais em diferentes níveis de maturidade tecnológica. Reunindo centros de investigação e empresas inovadoras de vários países europeus, o projeto propõe-se a desenvolver uma metodologia abrangente para avaliar a sustentabilidade e a circularidade de sistemas de base biológica, com foco nos impactos ambientais ao longo do ciclo de vida.

Entre os seus objetivos específicos, destaca-se a contribuição para a normalização de metodologias de avaliação para produtos biológicos, assegurando a sua adoção por entidades certificadoras; a incorporação de abordagens de análise de ciclo de vida (ACV) que considerem a previsão de impactos futuros e o uso do solo ao longo do tempo; o estabelecimento de critérios de circularidade que reflitam a eficiência na utilização de recursos e o valor do uso em cascata da biomassa; bem como a elaboração de diretrizes para uma ACV prospetiva, adaptada a sistemas em fase inicial de desenvolvimento. Estas ações alinham-se com os princípios do Pacto Ecológico Europeu e do Plano de Ação para a Economia Circular, reforçando o compromisso com uma transição verde e sustentável.

CEIF – ForestSphere


O Projeto ForestSphere – Uma Abordagem de Gémeo Digital para Monitorizar e Gerir Florestas e o Risco de Incêndios Florestais, financiado em 1.5 milhões de euros pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia, I. P. (FCT), no âmbito do Protocolo entre a FCT e a Agência para a Modernização Administrativa, I.P. (AMA), é coordenado pela Associação para o Desenvolvimento da Aerodinâmica Industrial (ADAI) e tem como parceiros o Instituto de Sistemas e Robótica (ISR), as empresas Onesource, Bold Robotics, Sim4Safety, e REN, e ainda, a Comunidade Intermunicipal de Coimbra e a Camara Municipal da Lousã.

O conceito de “gémeo digital” consiste na reprodução dos elementos relevantes que representam uma dada realidade física, neste caso, uma floresta. Com base em dados obtidos por satélites, meios aéreos e terrestres, pretende-se reproduzir, a orografia, o coberto vegetal, as estruturas, bem como a meteorologia, e modelar os processos físicos.

Serão simuladas intervenções relacionadas com a gestão do risco de incêndio, desde a prevenção, ao combate e à recuperação pós-incêndio, replicando virtualmente os processos que decorrem no mundo físico.

Espera-se, com este projeto, melhorar a capacidade de interagir no processo de gestão do risco, incluindo no treino dos agentes.

About Post Author

Deixe um comentário

Outra Perspetiva

ADAI expande projetos de investigação e alarga cooperação internacional

A Associação para o Desenvolvimento da Aerodinâmica Industrial (ADAI), da Universidade de Coimbra, tem vindo a alargar as suas áreas...

O primeiro Instituto no sul da Europa dedicado ao estudo das bases moleculares do envelhecimento

Lançado em janeiro de 2020, o MIA-Portugal resulta de um projeto Teaming europeu, cofinanciado pela Comissão Europeia e pela Comissão...

DEM aposta na formação global e inovação interdisciplinar

Em resposta às transformações do setor industrial e aos desafios globais da sustentabilidade, o Departamento de Engenharia Mecânica (DEM) da...

DEQ avança com novos projetos sustentáveis e reforça vínculos industriais

Alinhado com os desafios da transição ecológica e digital, o Departamento de Engenharia Química (DEQ) da Universidade de Coimbra destaca-se...

FCDEF anuncia novos mestrados e pretende aumentar a mobilidade académica

A Faculdade de Ciências do Desporto e Educação Física da Universidade de Coimbra (FCDEFUC) prepara, para o próximo ano letivo,...