“Queremos ser uma escola do mundo, mas com forte cariz regional”
Jorge Conde, presidente do IPC, fala sobre os planos para o futuro do Politécnico de Coimbra, as expectativas para o próximo ano letivo, e os principais objetivos da nova direção do CCISP, na qual ocupa o cargo de vice-presidente.
O IPC como um todo
Com mais de 40 anos, o Instituto Politécnico de Coimbra é atualmente uma das maiores instituições de ensino de Portugal, sendo constituídos por seis escolas – ESAC, ESEC, ESTGOH, ESTeSC, ISCAC e ISEC – com cerca de 12 mil alunos no total, e várias unidades orgânicas, como é o caso do Instituto de Investigação Aplicada, da academia de empreendedorismo (INOPOL), do centro cultural, onde se realizam várias atividades culturais, como concertos e workshops, e ainda de algumas estruturas ligadas ao desporto e à internacionalização.
Recentemente, integrou uma associação para o desenvolvimento tecnológico da região centro, em parceria com o Instituto Superior Miguel Torga e o Conselho Empresarial da Região de Coimbra, com o intuito de responder às necessidades das empresas da localidade. “Vamos ver se as nossas escolas e a nossa investigação são capazes de responder às necessidades das empresas”, explica Jorge Conde, Presidente do IPC.
Para além dessa associação, o Politécnico de Coimbra desenvolveu um outro projeto interno – @GIR – “é um projeto com doze técnicos que trabalham dentro das câmaras municipais, onde fazem atendimento, não só aos próprios serviços camarários e municipais, mas também aos empresários de cada um dos concelhos, de forma a podermos responder às necessidades que nos colocam. Neste caso já não tanto na formação e na investigação, mas mais na prestação de serviços.”
Segundo Jorge Conde, todas estas unidades e vertentes que constituem o IPC, como a investigação, internacionalização, empreendedorismo e ligação ao território, são o que constrói a marca do Politécnico. “Queremos ser uma escola do mundo, mas com forte cariz regional”, afirma o Presidente.
Expectativas para 2022/23 e vantagens do ensino politécnico
Relativamente ao próximo ano letivo e às candidaturas de acesso ao ensino superior que iniciaram no passado dia 25 de julho, o Presidente do Politécnico de Coimbra refere que a sua expectativa é que os resultados sejam sempre melhores do que no ano anterior. “Normalmente temos três escolas que preenchem tudo na primeira fase, o ISCAC, a ESEC e a ESTeSC. A expectativa é que isso continue a acontecer”, revela. “Já relativamente às outras três escolas, a expectativa é que nós consigamos chegar ao final da terceira fase com o preenchimento superior a 80%.”
Sobre a atualização e renovação dos cursos e disciplinas que deixaram de ser atrativos para os estudantes portugueses ou que não acompanharam a evolução do mercado de trabalho, o Presidente revela que existe uma avaliação interna realizada pelos conselhos científicos com a missão de perceber o porquê de certos cursos obterem menos procura e encontrar formas de tornar esses cursos mais atrativos, ou, caso necessário, proceder à substituição desses mesmos cursos por outros que possam ter um maior impacto no mercado atual.
Neste âmbito, Jorge Conde revela que a escola de Oliveira do Hospital resolveu reformular o curso de desenvolvimento regional e ordenamento do território, que anteriormente não tinha candidatos. O curso passará a ter uma componente menos técnica e um foco maior numa parte mais gestionária. “É uma alteração pontual cirúrgica que tem a ver com mudar o foco do curso sem mudar o seu objetivo.”
Para o Presidente, uma das mais-valias do ensino politécnico é a realização do estágio curricular no final da maioria das licenciaturas. “Eu costumo dizer aos meus colegas que os cursos deviam ser de dois anos e meio mais meio. Toda a gente devia ter no mínimo um semestre de estágio e, além de fazermos um semestre de estágio, devíamos ter uma preocupação acrescida sobre os estágios que entregamos aos nossos alunos. Temos que ter aqui um foco muito grande em proporcionar estágios atrativos e interessantes. Por exemplo, se eu tenho um aluno de comunicação social que gostava de estagiar em televisão, eu devia ter um protocolo para, pelo menos, um terço dos meus alunos em televisão”, afirma.
Segundo o Presidente, a ligação ao território e à comunidade é muito importante também neste sentido. “Nós temos que ser capazes de convencer os nossos parceiros de que também têm que ser parceiros dos nossos alunos e têm que criar essas oportunidades, porque o mercado deles também depende da rotação e da formação dos profissionais.”
A implementação de um semestre de estágio para todos os cursos e a procura de estágios mais atrativos para os estudantes é, então, um dos grandes objetivos da direção atual do Instituto Politécnico de Coimbra. “É um dos grandes objetivos e é, para mim, uma mais-valia do ensino politécnico que tem que ser um ensino aplicado como tanto gostamos de dizer.”
A realização de estágios curriculares pode, também, ser uma vantagem para a empregabilidade dos estudantes. “Nós temos a perceção de que temos uma taxa superior a 95% no fim do primeiro ano, ou seja, 95% dos nossos estudantes estão a trabalhar ao fim de um ano de estarem licenciados.”
Empreendedorismo, Investigação e Internacionalização
Para além da qualidade de ensino, outras vertentes são igualmente importantes para a construção de uma instituição de ensino superior. O IPC destaca especialmente a pasta do empreendedorismo, investigação e internacionalização.
No que diz respeito ao empreendedorismo, o Politécnico de Coimbra possui uma academia, o INOPOL que, segundo o Presidente do IPC, é uma unidade orgânica que “começou por ser uma incubadora”, com a missão de promover uma cultura de inovação e empreendedorismo e potenciar a criação e crescimento de novas empresas. No entanto, acabou por se transformar em algo maior. “Hoje, faz formação na área do empreendedorismo, incentiva a participação dos estudantes em concursos competitivos e, ao longo do curso, ajuda os estudantes a criarem as suas próprias empresas, do ponto de vista formal, financeiro, etc.”, explica. “Além disso, cede um espaço onde encontram vários serviços de apoio à criação de novas empresas e modalidades de incubação.”
Já o Instituto de Investigação Aplicada (i2A) é, tal como o nome indica, a unidade orgânica onde se centralizam todos os projetos de investigação do IPC. De acordo com o Presidente Jorge Conde, o i2A é, neste momento, uma das unidades mais importantes do instituto, porque “sendo presumível que vamos poder lecionar doutoramentos a curto prazo, o centro de investigação é muito importante numa ótica estratégica.”
Relativamente à vertente da internacionalização, Jorge Conde revela que nos últimos anos, devido à pandemia, foi difícil investir na captação de alunos estrangeiros, sendo que as viagens internacionais, especialmente para o Brasil, maior foco de intercâmbio de alunos, só passaram a ser possíveis a partir de março deste ano. No entanto, relata também um facto interessante, “este ano, mesmo ainda estando em pandemia, no início de março, já tínhamos matriculado o mesmo número de alunos estrangeiros que tínhamos em 2019.”
Coimbra: cidade dos estudantes, dos amores e dos doutores
“Coimbra não se explica, sente-se”, é assim que Jorge Conde começa ao falar do estatuto e reconhecimento da qualidade do ensino da cidade.
“O facto de estarmos em Coimbra é, inequivocamente, uma vantagem. Coimbra goza de um estatuto muito especial no panorama nacional, mas, ainda assim, não deve ser usada como um facto garantido”, afirma o presidente.
Para comprovar que não cede ao conforto proporcionado pelo estatuto, o Presidente revela que, em permanência, uma equipa de dois jovens licenciados pelo IPC percorre as escolas secundárias do país com o objetivo de apresentar as escolas do politécnico aos futuros universitários e captar novos estudantes.
Planos para o futuro
Durante a conversa que manteve com a Perspetiva Atual, o Presidente do IPC revelou que o Instituto Politécnico de Coimbra vai concorrer à possibilidade de se tornar uma Universidade Europeia, em conjunto com outras sete instituições de ensino superior da Europa. “As Universidades Europeias têm como interesse partilhar conhecimento e articulação, ou seja, aproximar de alguma forma, não só aquilo que fazemos do ponto de vista da formação e da investigação mas, fundamentalmente, deixar o aluno com uma titulação que lhe permita mover-se completamente à vontade no espaço europeu”, explica. “A ideia de Universidade Europeia é nós não ficarmos fechados em Coimbra, mas passarmos a ser parceiros de uma rede de instituições que nos espalhe por outros países.”
Além do projeto de Universidade Europeia, é objetivo do Presidente criar duas novas escolas: uma Escola Superior de Turismo do IPC e uma escola de CTeSPs. Outro desejo passa por aumentar as instalações da Escola Superior de Educação de Coimbra visto que, através da análise de resultados, seria possível aumentar o número de alunos de cada curso, caso as instalações o suportassem.
Vice-Presidente do CCISP por dois anos
No passado dia 6 de junho, Jorge Conde foi eleito vice-presidente do CCISP – Conselho Coordenador dos Institutos Superiores Politécnicos – por um período de dois anos. O novo vice-presidente, juntamente com os restantes membros do Conselho, estão focados na possibilidade dos Institutos Politécnicos poderem conferir doutoramentos. “Temos uma batalha grande pela frente, que é a batalha de poder lecionar doutoramentos, de podermos outorgar o grau de Doutor e nos transformarmos, do ponto de vista de nome, em Universidades Politécnicas”, afirma Jorge Conde.
É de relembrar que, no passado dia 23 de junho, o Parlamento votou por unanimidade a favor dos projetos de lei do BE, PCP e a iniciativa legislativa de cidadãos sobre a possibilidade de realização de doutoramentos no ensino superior politécnico. A Assembleia da República tem até final de setembro para apresentar uma resposta definitiva.
“Estamos a trabalhar no país inteiro para que, em outubro do ano que vem, estejamos em condições de entregar à agência um conjunto de projetos de doutoramento.”
Jorge Conde refere também que é preciso esclarecer a sociedade sobre as diferenças entre Universidades e Politécnicos e acabar com o estigma que existe em volta do ensino politécnico. “Ou fazemos coisas diferentes ou fazemos de maneira diferente, mas elas têm o mesmo valor. Valorizar o ensino politécnico é muito importante para as instituições, mas é também muito importante para o país.”