Um percurso contínuo guiado pelo compromisso com a Otorrinolaringologia
Com uma importante passagem pelos Estados Unidos da América que traçou a sua carreira, Eurico de Almeida, prestigiado Otorrinolaringologista e diretor clínico da Clínica ORL – uma das mais antigas da especialidade – revela como evoluiu a sua vida profissional após concluir a licenciatura.
Perspetiva Atual: Em 2022, a Clínica ORL celebrou o seu 52° ano, o que a torna a mais antiga de otorrinolaringologia do nosso país. Ao longo do seu percurso passou por tempos difíceis. Como conseguiu ultrapassar todas essas dificuldades?
Eurico de Almeida: A resposta é simples: qualidade de trabalho, honestidade de processos, muitos sacrifícios e sorte. Nada apareceu por acaso. No início da minha vida profissional, usava a minha casa unicamente para dormir. Fui habituado nos Estados Unidos a trabalhar entre 50 e 72 horas por semana, pelo que, quando tive de trabalhar no mínimo 14 horas por dia, não foi problema.
Amarguras? Claro que as houve, como por exemplo não ter assistido ao crescimento dos meus filhos. Fui compensado com uma mulher extraordinária que exerceu o duplo papel de mãe e pai.
Depois veio a sorte. Fui enormemente auxiliado por dois colegas que não conhecia, um ortopedista, o Dr. Luiz Azeredo, e um internista, o Dr. João de Melo, que no meu primeiro mês de prática me esgotaram as marcações de consulta na agenda.
Seis meses depois de iniciar o meu trabalho já tinha necessidade de ter um otorrino associado, o Professor Alberto Trancoso, cuja prematura morte foi sentida como perda de familiar íntimo. Foi o meu primeiro e grande colaborador.
PA: Diz que vinha habituado à prática nos Estados Unidos. O que o levou até à América?
EA: O meu pai, radiologista, também chamado Eurico de Almeida, tinha um colega amigo que logo após a formatura, decidiu ir trabalhar para a América. Foi ele, que numa das suas frequentes visitas à família em Portugal, sendo eu na altura estudante de medicina, me disse: “quando te formares tens que vir trabalhar comigo nos Estados Unidos”.
Poucas semanas depois de defender a tese de licenciatura e ter recusado convite para ser assistente da faculdade de medicina do Porto, já estava num Caravele a viajar para os Estados Unidos, viagem que na altura demorava 14 horas. Quando recusei o amável convite do diretor da faculdade, o Professor Júlio Machado Vaz, estabeleci com ele um acordo que basicamente consistia em eu fazer um trabalho de doutoramento em Otorrinolaringologia nos Estados Unidos, para futura apresentação em Portugal, pois segundo ele, não havia ninguém interessado na faculdade de medicina em tal projeto. Comprometi-me a tal.
Comecei a trabalhar nos Estados Unidos com o meu amigo que me havia convidado e ao
mesmo tempo comecei a preparar o exame de ECFMG (Educational Council for Foreign Medical Graduates), que conclui com êxito. Este exame era fundamental para ter permissão de trabalhar em medicina nos Estados Unidos da América. Como a minha verdadeira vocação (assim eu julgava) era cirurgia plástica, enviei o meu pedido de admissão para quatro excelentes universidades, mas não fui aceite em nenhuma. Foi então que me lembrei da conversa com o Professor Júlio Machado Vaz e tentei a minha chance em Otorrinolaringologia. Fui mais feliz, fui aceite em três Universidades e escolhi a Universidade da Pensilvânia.
PA: Como classifica o seu treino como otorrino na prestigiada Universidade da Pensilvânia?
EA: De novo tive muita sorte, pois, a meu pedido, comecei a minha residência de otorrinolaringologia no serviço de anatomia patológica. A minha função era a leitura de todas as peças oriundas do serviço de Otorrinolaringologia, complementada com a execução de autopsias. Nesse ano fiz 313 autópsias. Considero ter sido o melhor ano da minha vida médica, pois comecei a ver a doença e a compreendê-la melhor. Uma autópsia é o morto a falar e a ensinar o médico. Aprendi a distinguir uma leucoplasia da corda vocal de um carcinoma epidermoide, diagnosticar corretamente um tumor da parótida, saber a diferença entre um pólipo nasal e um papiloma invertido, etc.
Foi um ano que se revelou útil para o resto da minha vida. Recordo um episódio em que estive presente numa “mesa redonda cega” – os membros da mesa desconheciam totalmente o que se iria discutir – no Hospital de Santo António, presidida pelo Professor Tauno Palva, em que este decidiu por à discussão slides de anatomia patológica. Foi embaraçoso para quem não tinha nenhuma experiência.
Acabada a passagem pela Anatomia Patológica, e estando eu tranquilamente a fazer a minha
residência de otorrinolaringologia na Universidade da Pensilvânia, quando de novo a sorte me bateu a porta. Surgiu por acaso, a possibilidade de eu continuar o meu treino no Hospital Henry Ford, em Detroit, na altura considerado o melhor centro do mundo em cirurgia do ouvido. Certamente que aceitei, pois, tinha a certeza de que a minha vida profissional futura seria grandemente influenciada pelo treino em tal instituição.
PA: Como se processou a sua transição para o Hospital Henry Ford?
EA: O Hospital Henry Ford é um hospital 100% privado, construído pelo senhor Henry Ford, para assistência médica aos trabalhadores da empresa. A instituição foi evoluindo e extravasou o campo para o qual foi construído, passando a servir toda a população.
O serviço de otorrinolaringologia tinha o seu próprio centro de investigação, que eu utilizei para fazer a minha tese de doutoramento, tal como havia combinado com o Professor Júlio Machado Vaz. Operei 92 macacos Rhesus, fazendo investigação essencialmente anátomo-patológica sobre o comportamento dos ossos do ouvido desse animal em diversas circunstâncias.
Completei a minha residência de Otorrinolaringologia, e após recusar convites para me manter nos Estados Unidos, regressei a Portugal.
PA: Regressa a Portugal para cumprir a sua promessa de doutoramento?
EA: Sim, foi essa a principal razão do meu regresso. Gostava e gosto imenso de ensinar e pensava que esse seria o meu futuro. Entretanto o Professor Júlio Machado Vaz, a pessoa que me tinha endereçado o convite, acabou a sua missão, e naturalmente foi substituído. Fui convidado para assistente voluntário da faculdade, dei aulas, vi doentes, fiz cirurgias, até um dia em que se passou um acontecimento extremamente grave de que dei conhecimento ao diretor da faculdade e naturalmente ao responsável pelo serviço. Como notei um posicionamento de ambos incompatível com a minha maneira de encarar tais factos, apresentei de imediato a minha demissão, e vim para a rua, isto é, para o nada, pois não tinha qualquer ocupação fora da faculdade. Claro que o meu trabalho para a tese de doutoramento continua a secar no meu sótão.
PA: Como evoluiu a sua vida após a sua saída da faculdade de medicina?
EA: Vim para a rua, e de novo tive muita sorte, pois como digo no início, dois colegas que não me conheciam, decidiram apoiar-me, e com qualidade de trabalho, honestidade de processos e muitos sacrifícios, consegui ir desenvolvendo o projeto da Clínica ORL, que ainda hoje não para de aumentar. Tive o prazer e honra de ensinar numerosos otorrinolaringologistas em prática no nosso país, a quem estou imensamente grato pela colaboração que me prestaram.
PA: Houve alguns aspetos em que a Clínica ORL se tenha distinguido no contexto atual da medicina privada no nosso país?
EA: O sofrimento nos últimos anos foi universal. Nós não escapamos.
No entanto, no seu conjunto, a Clinica ORL aumentou e melhorou os serviços que tem vindo ao longo dos anos a proporcionar a quem a procura, dispondo hoje de uma equipa muito completa. Somos cinco especialistas em otorrinolaringologia, três audiologistas, duas audioprotesistas, dois psicólogos e uma interna em psicologia, uma psiquiatra, dois terapeutas da voz, sendo uma especialista em voz artística, uma reabilitadora de equilíbrio, uma nutricionista, uma fisioterapeuta especialista na articulação temporo-mandibular, dois cirurgiões gerais e um cirurgião plástico.
A nossa clínica tem, ao longo dos seus 52 anos de existência, sido pioneira em múltiplas áreas das quais vou salientar as principais, começando pelas mais antigas.
Fomos a primeira clínica em Portugal a proporcionar aos doentes surdos sem possibilidade de reabilitação médica ou cirúrgica, indicação para reabilitação por prótese auditiva, através de acordo com uma conceituada firma internacional a Widex. Foi assim que eu fui instruído nos Estados Unidos e continuo a pensar que o local correto para se ser ajudado por aplicação de prótese auditiva é numa clínica de otorrinolaringologia.
A nossa clínica foi pioneira na introdução no país de estudos de potenciais evocados auditivos.
Ainda hoje somos dos mais experientes a nível mundial de um desses exames muito importantes para estudo da vertigem, a eletrococleografia por via transtimpânica.
O primeiro doente em Portugal a ser tratado de vertigem posicional, que as pessoas conhecem como doença dos cristais, foi feito na Clínica ORL, com as manobras adequadas, dias após a sua apresentação mundial num congresso americano da nossa especialidade.
Temos a honra de ser a única clínica existente em Portugal, publica ou privada, a ter um grupo multidisciplinar para o tratamento de uma das mais difíceis situações existentes em medicina – o tratamento de zumbido. Assim, os nossos doentes com esta difícil situação, têm ao seu dispor, um otorrinolaringologista, uma audioprotesista, um psicólogo, uma psiquiatra e uma especialista na articulação temporo-mandibular.
PA: Pode por último descrever a evolução recente com a cirurgia estética?
EA: Fomos a primeira clínica de otorrinolaringologia em Portugal a executar cirurgia cosmética nasal, rinoplastia, uma cirurgia que era executada exclusivamente por cirurgiões plásticos. E hoje detemos um vasto portfólio tanto de rinoplastias como de otoplastias (cirurgia da orelha).
E observamos nos últimos anos um crescimento invulgar na procura por serviços de remodelação corporal, sejam cirúrgicos ou não invasivos, algo que nos levou a criarmos uma clínica spin-off que é a Living Clinic. A Living Clinic, que fica na porta ao lado da Clínica ORL, dispõe de um leque de tratamentos cirúrgicos e não cirúrgicos que vão desde a Cirurgia Bariátrica, passando pela Cirurgia Plástica e Medicina Estética até às múltiplas tecnologias de vanguarda não invasivas. É um verdadeiro centro de beleza médico, recheado de profissionais experientes em cada área.
Quer seja na Clínica ORL ou na Living Clinic, os nossos pacientes podem ter certeza de que encontrarão um serviço com a elevada qualidade médica que sempre nos caracterizou.
Equipa ORL
Inês Bessa – Cirurgia Geral
Fernanda Gentil – Audioprotesia
Fátima Lages – Audioprotesia
Wilma Vieira – Audiologista
Ângelo Santos – Psicólogo
Rita de Jesus – Interna de Psicologia
Filipa Caetano – Psiquiatra
António Colino – Terapeuta da Fala
Inês Villadelprat – Terapeuta de Voz Artística
Lucimere Bohn – Especialista em equilíbrio
Equipa da Living Clinic
Diana Vieira – Coordenadora
Luís Vinhas- Cirurgia Geral e Bariatrica
Francisco Carvalho – Cirurgia Plástica
Diogo Semedo – Medicina Estética
Madalena Iglésias – Psicóloga
Sara Maia – Fisioterapeuta e especialista em articulação
temporo-mandibular
Carolina Alves – Nutricionista