Investigação em Enfermagem: UICISA: E Destaca-se com Crescimento e Reconhecimento
A Unidade de Investigação em Ciências da Saúde: Enfermagem (UICISA: E) tem desempenhado um papel crucial na expansão do conhecimento e no aprimoramento da prática de enfermagem desde o seu início em 2002. Num recente diálogo com o coordenador da UICISA: E, o Professor João Apóstolo, falamos sobre o percurso desta unidade ao longo dos anos, bem como sobre a complexidade e diversidade da abordagem conhecida como Prática Clínica Baseada em Evidência (PCBE).
A origem da UICISA: E remonta a 2002, após a assinatura de protocolo de cooperação entre os representantes das Escolas Superiores de Enfermagem Ângelo da Fonseca (ESEAF) e Bissaya Barreto (ESEBB). Estas duas instituições fundiram-se em 2006, dando origem à Escola Superior de Enfermagem de Coimbra, que se tornou a instituição de acolhimento da UICISA: E.
A relevância do trabalho desenvolvido pela UICISA: E é atestada pelas avaliações periódicas realizadas pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT). Desde a primeira avaliação em 2004, a unidade tem passado por rigorosos escrutínios a cada 4 a 5 anos, sendo a última em 2019.
O crescimento exponencial da UICISA: E é evidente ao observarmos a evolução do número de investigadores ao longo dos anos. Inicialmente com apenas três doutorados em 2004, a unidade agora conta com cerca de 200 investigadores, provenientes não só da Escola Superior de Enfermagem de Coimbra, mas também de 26 instituições académicas e clínicas, incluindo seis núcleos distribuídos pelo país, desde Bragança, Viana do Castelo, Minho, hospitais da Universidade de Coimbra, Viseu e Algarve. O Professor Apóstolo destaca disponibilidade da Instituição de acolhimento para a constituição de novos núcleos, sublinhando a necessidade de, para tal, possuírem pelo menos cinco doutorados com indicadores de produtividade.
A estruturação da UICISA: E baseia-se em projetos de investigação estruturantes, delineados como linhas orientadoras focadas em áreas específicas do conhecimento em enfermagem. Estes projetos são amplos o suficiente para abrangerem uma variedade de estudos associados, como teses de doutoramento, investigação de pós-doutoramento, dissertações de mestrado, projetos financiados, entre outros. João Apóstolo explica que a proposta de novos projetos requer a justificação da necessidade de estudar uma determinada área, assegurando que não existe outra investigação que já a aborde.
Quanto às necessidades identificadas, estas não são apenas uma resposta às exigências atuais, mas também uma antecipação das tendências futuras. João Apóstolo destaca a importância das tendências políticas e sociopolíticas na área da saúde e da enfermagem, como as orientações da Comissão Europeia, da Organização Mundial de Saúde e da Direção-Geral de Saúde. A interseção entre investigação, desenvolvimento e ensino é fundamental, com os professores também a contribuir para a produção de conhecimento na sua área de ensino.
A Ligação Inseparável entre Investigação e Ensino
A sinergia entre a unidade de investigação e a vertente de ensino na Escola Superior de Enfermagem da Universidade de Coimbra desempenha um papel crucial na formação e no desenvolvimento dos estudantes.
“Nós temos vários programas de acolhimento de estudantes em projetos. Portanto, os estudantes, desde a licenciatura, estão a estudar algo e estão envolvidos na produção”, explica o Professor.
Os programas oferecidos permitem aos estudantes integrarem-se em vários projetos, escolhendo aqueles que mais se alinham com os seus interesses e objetivos. Este processo não só enriquece a experiência académica dos estudantes, como também contribui para a produção de conhecimento significativo e aplicável. A ligação entre investigação e ensino é evidente, também, com os alunos de mestrado e doutoramento sendo orientados por investigadores em projetos estruturantes.
A abordagem organizada da UICISA: E proporciona uma base sólida para que os alunos desenvolvam as suas teses de mestrado e doutoramento. “Ao escolherem um projeto estruturante alinhado com a sua área de interesse, os estudantes integram-se numa equipa de investigação existente, beneficiando do conhecimento metodológico e conceptual já desenvolvido.”
João Apóstolo destaca que este modelo difere significativamente dos tempos passados, em que cada estudante tinha que criar algo novo. Agora, os estudantes dos três ciclos de formação ou em pós-doutoramento têm a oportunidade de construir sobre o trabalho já realizado e em colaboração com uma equipa experiente, dando passos em frente significativos em vez de começarem sempre do zero, muitas vezes sem condições de terminar o trabalho iniciado.
Financiamento de projetos
A excelência na investigação não é apenas impulsionada pela paixão e dedicação, mas também pela necessidade de apoios financeiros adequados. Ao ser questionado sobre a suficiência dos apoios financeiros recebidos para o desenvolvimento de projetos da UICISA: E, o Professor Apóstolo oferece uma perspetiva equilibrada. O também investigador refere que existe a necessidade constante, por parte dos investigadores, de procurar e obter financiamento externo para desenvolver investigação. No entanto, esta captação de financiamento pode ser uma missão bastante competitiva. Além disso, existe ainda a possibilidade de apoio financeiro através dos orçamentos plurianuais da FCT, concedidos às Unidades de I&D.
Contudo, surge um desafio significativo: a gestão cuidadosa dos fundos públicos, sujeitos a regras financeiras rigorosas. O Professor explica que a necessidade de cumprir as rubricas previamente estabelecidas e a burocracia associada podem ser obstáculos substanciais.
A gestão cuidadosa dos fundos torna-se assim um equilíbrio delicado entre cumprir prazos, seguir protocolos burocráticos e garantir a eficiência no desenvolvimento dos projetos de investigação.
Investigação aplicada
João Apóstolo realça a investigação aplicada com exemplos de projetos em desenvolvimento na UICISA: E, desde um dispositivo para avaliação da sensibilidade de diabéticos, até um pijama sensorizado para monitorizar a pressão e humidade em pacientes acamados ou com incapacidade motora grave.
Contudo, o Professor também destaca a complexidade desses projetos, mencionando a necessidade de protótipos, patentes e, por vezes, a colaboração com diversas empresas e academias, o que pode prolongar o processo. Além disso, ressalta que a transferência direta de conhecimento gerado num contexto cultural específico para outro pode ser desafiante.
Implementação de Evidência na Prática Clínica
Ao abordar a relação entre projetos de investigação e a implementação prática dos seus resultados, João Apóstolo e Daniela Cardoso, Investigadora Júnior, oferecem uma visão detalhada sobre a complexidade e diversidade desta abordagem conhecida como Prática Clínica Baseada em Evidência (PCBE).
Daniela Cardoso aprofunda o entendimento da PCBE destacando a importância da transferência cuidadosa da investigação primária para a prática clínica: “Há sempre a exigência de realização de projetos de síntese da evidência, para posteriormente essa síntese poder ser transferida, ou seja, poder ser colocada num formato de mais fácil consumo pelas pessoas que estão na prática, e, só então, ser implementada.”
Além da investigação primária, a UICISA: E também acolhe o Portugal Centre for Evidence-Based Practice, reconhecido pelo JBI (Joanna Briggs Institute) como um Centro de Excelência. Este centro tem como objetivo promover a prática baseada na evidência a nível mundial. A Investigadora Júnior explica que o propósito é integrar de forma mais eficaz a evidência proveniente de resultados de investigação na prestação de cuidados de saúde, “sem nunca esquecer aquilo que são as preferências dos utentes, a expertise do profissional de saúde e, inclusivamente, o contexto onde os cuidados são prestados”.
A intervenção de Daniela Cardoso adiciona uma perspetiva valiosa ao mencionar que, embora alguns projetos sejam desenhados para produzir resultados de investigação primária, muitos evoluem para projetos de extensão associados. Estes projetos de extensão proporcionam respostas práticas derivadas dos resultados de investigação, mostrando que, na UICISA: E, a jornada da investigação à implementação é multifacetada.
Numa era em que a rápida translação do conhecimento científico para a prática clínica é crucial, a UICISA: E, através dos seus projetos inovadores, continua a desempenhar um papel vital na promoção da prática clínica baseada em evidência e na melhoria dos cuidados de saúde em Portugal e além-fronteiras.