DET: A aposta da Universidade do Minho na Engenharia Têxtil

Com o desenvolvimento da Indústria Têxtil e de Vestuário (ITV) portuguesa é de estranhar que apenas uma universidade nacional ofereça formação superior na área. Hélder Carvalho, o diretor do Departamento de Engenharia Têxtil (DET), da Universidade do Minho, explica a importância de continuar a apostar nesta área, em Portugal.  

Perspetiva Atual: A Universidade do Minho foi das primeiras universidades portuguesas a investir em cursos superiores na área de Engenharia Têxtil. Neste momento, quão abrangente é a vossa oferta formativa?  

Hélder Carvalho: A Universidade do Minho, por via do Departamento de Engenharia Têxtil (DET), é a única universidade portuguesa a oferecer formação superior na área têxtil.  Os cursos foram reestruturados recentemente e compõem-se de uma licenciatura e de um mestrado com duas áreas de especialização. Esta reformulação permitiu verter para o ensino os resultados da investigação que se faz no Centro de Ciência e Tecnologia Têxtil (2C2T). Por outro lado, procurou-se uma maior proximidade com a indústria, introduzindo um estágio industrial e promovendo dissertações em cooperação. 

A oferta prossegue com o Doutoramento em Engenharia Têxtil, oferecido pelo 2C2T. 

O DET promove também cursos na área do Design, possuindo, desde 1990, um Mestrado em Design e Marketing. Mais tarde surgiram a licenciatura em Design e Marketing de Moda e o Mestrado em Design de Comunicação de Moda. Finalmente, com o 2C2T e com a Universidade da Beira Interior, oferecemos o Doutoramento em Design de Moda. 

PA: O sector têxtil e de vestuário representa em torno de 25% da produção da indústria transformadora e é o principal sector exportador com uma quota de cerca de 30% do total da indústria transformadora. Como explica esta elevada percentagem de exportação? A ITV portuguesa encontra-se num bom caminho para conquistar mais mercados internacionais? 

HC: A indústria têxtil e de vestuário (ITV) portuguesa tem sofrido uma constante transformação. Se em tempos a mão-de-obra barata era o argumento principal, com o decorrer do tempo começámos a produzir produtos mais avançados e nesse processo adquirimos muito know-how. Hoje em dia temos muitas empresas com desenvolvimento próprio, moda, produtos de alta qualidade, tecnologia avançada e controlo sobre a distribuição. Estamos no bom caminho. 

PA: Ao contrário do que se possa pensar, esta é uma indústria que está permanentemente à procura de novos produtos e mercados. Contudo, em Portugal faltam engenheiros têxteis para muitos pedidos de emprego não preenchidos. A que se deve esta falta de mão-de-obra? 

HC: Ao longo do tempo foi-se criando publicamente uma falsa imagem do declínio da ITV portuguesa. Esta imagem levou a um desinteresse pelos nossos cursos. Felizmente hoje em dia esta visão está a diluir-se. Do lado das empresas nunca houve falta de interesse em mão-de-obra de nível superior neste setor, porque os produtos e os processos assim o exigem. Há inclusive iniciativas de empresas no sentido de angariar graduados desde o primeiro momento da sua formação. É curioso que até engenheiros de outras áreas são recrutados e “convertidos”, devido à escassez de licenciados na área específica. 

PA: Sente que com o avançar do tempo, a população portuguesa está a começar a valorizar mais os produtos portugueses? O que falta nas produções portuguesas para alargarem as vendas no próprio país? 

HC: Temos excelentes marcas e produtos nacionais populares entre os portugueses – e não só. Muitas delas apresentam uma imagem e comunicação competente, com produtos de moda ou técnicos que estão num nível muito alto. É este o processo que a indústria tem que prosseguir. Os portugueses não irão consumir produtos portugueses “só porque sim”, mas se lhe reconhecerem a mesma qualidade e imagem que aos produtos estrangeiros, fá-lo-ão, talvez até com mais satisfação.  

PA: Um dos temas que mais se tem falado nos últimos anos e que se insere muito nesta área industrial é a sustentabilidade e a proteção do meio ambiente. Que cuidados são tomados neste sentido? 

HC: Este é um tema muito atual, tanto na indústria como na academia. Temos inúmeros trabalhos de mestrado e de doutoramento que investigam neste âmbito. A maioria dos projetos curriculares dos nossos alunos têm este tema como um dos requisitos. Há unidades curriculares que abordam especificamente este tema. E na indústria há imensos movimentos neste sentido. Os nossos graduados irão encontrar na indústria muitas oportunidades de colaborarem neste âmbito. 

PA: Quais são os objetivos e os planos para o futuro do Departamento de Engenharia Têxtil da U. Minho? 

HC: O DET, na sua missão de formar profissionais superiores de grande qualidade, vai continuar a empenhar-se nas atividades de formação, combinando estas com uma ligação forte à I&D. Os laços com a indústria são fundamentais, também para poder corresponder às suas necessidades. Muitos dos profissionais responsáveis hoje em dia na indústria estudaram na Universidade e lá aprenderam “a aprender” para chegarem ao ponto em que estão.  

O processo de formação na Universidade não é fácil, pois temos muitas limitações materiais – e cada vez mais. Mas a missão principal é proporcionar aos nossos estudantes os conhecimentos, a metodologia e a independência de raciocínio e criação que lhes permita evoluir na sua profissão. 

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