Nove décadas de serviço à comunidade

A Santa Casa da Misericórdia de Riba de Ave tem transformado o setor da saúde em Portugal. Recentemente, o Hospital Narciso Ferreira investiu na modernização de equipamentos na ressonância magnética cardíaca e no Laser Femtosegundo, além de desenvolver programas especializados para o tratamento de demências, o CIDIFAD. Para 2025, Salazar Coimbra, Presidente da comissão executiva do hospital, adiantou que estão previstos novos projetos de habitação social e a expansão dos cuidados continuados.

Perspetiva Atual: A Santa Casa da Misericórdia de Riba de Ave encontra-se ao serviço da comunidade desde 1927. No que toca à transformação do setor da saúde, quais são as principais iniciativas desta instituição para melhorar os cuidados médicos em Portugal?

Salazar Coimbra: A melhoria contínua dos serviços hospitalares, a renovação médica, os investimentos em novas tecnologias, a constante atualização salarial, a formação e a motivação profissional são metas a atingir no sentido de procurar e dar aos nossos utentes e doentes soluções de proximidade com o mais alto nível de qualidade e segurança.

PA: Parte integrante da Santa Casa da Misericórdia de Riba de Ave, o CIDIFAD foi desenvolvido com o «objetivo de responder às necessidades de pessoas com demência». Considerando a complexidade das patologias cerebrais, poderia falar-nos, um pouco, dos programas de estimulação que ajudam a melhorar a qualidade de vida dos utentes?

SC: No CIDIFAD o objetivo principal é dar uma resposta multidimensional, integrada e diferenciada à pessoa com demência e sua família. Ou seja, da vastidão de patologias neurológicas e psiquiátricas conhecidas, o nosso foco é a demência, que pode ser Alzheimer ou não. Há uma grande variedade dentro desse grande “chapéu” que são as demência – Demências frontotemporais, de Corpos de Lewy, vascular entre outras. Nas demências, situações em que a deterioração cognitiva se acompanha de disfuncionalidade, a estimulação cognitiva e neurosensorial é extraordinariamente importante porque visa preservar ou melhorar as capacidades cognitivas, emocionais e funcionais dos utentes, contribuindo diretamente para a sua qualidade de vida. No CIDIFAD disponibilizamos aos nossos doentes programas de estimulação cognitiva, programas de reabilitação com vista a essa preservação e melhoria. Estes programas são concretizados por terapeutas e psicólogos da nossa unidade e são desenhados de acordo com as especificidades de cada doente. O doente é observado em consulta multidisciplinar onde se define o plano individual integrado de cuidados e é no cumprimento desse plano que se enquadram os programas de estimulação cognitiva. Estes programas desenvolvem-se em ambulatório, implicando a deslocação da pessoa com demência à instituição duas a três vezes por semana, criando uma rotina e uma relação terapêutica com os nossos profissionais.

Provedor da Santa Casa da Misericórdia de Riba de Ave, Fernando Riba de Ave Guedes e o Presidente da Comissão Executiva, Dr. Salazar Coimbra.

PA: O CIDIFAD coloca à disposição da pessoa com demência e da sua família uma vasta equipa multidisciplinar com atendimento personalizado. Como é realizado o acompanhamento precoce da doença?

SC: Todos os nossos utentes começam por ser avaliados em consulta multidisciplinar. Nessa consulta multidisciplinar, os nossos profissionais, através das suas avaliações, conseguem perceber o estágio em que o doente se encontra e sugerem uma tipologia de cuidados. Nas situações de doença precoce é mais habitual a sugestão de programas de estimulação cognitiva ou, em alternativa, a frequência da unidade dia. A unidade dia dá resposta, em dias úteis, e no período diurno a doentes que mantêm uma boa retaguarda noturna, mas que não dispõem de condições para ficar sozinhos durante o dia. Na unidade dia, a tónica é preservar a autonomia e estimular doentes em fases precoces de modo a dotá-los de ferramentas que possam melhorar a sua qualidade de vida e preservar o mais possível a suas competências cognitivas.

PA: De que forma o corpo clínico contribui para a melhoria do atendimento no Hospital Narciso Ferreira e no CIDIFAD?

SC: A aposta do CIDIFAD foi na criação de um equipa altamente diferenciada na área da demência, de modo a conseguir prestar os cuidados mais diferenciados e humanizados possíveis aos nossos doentes. Para além disso, a diversidade dos profissionais – médicos das diferentes especialidades, incluindo neurologia e psiquiatria, psicólogos, neuropsicólogos, terapeutas ocupacionais, terapeutas da fala, fisioterapeutas, animadores sócio-culturais, gerontólogos , assistentes sociais e muitos outros técnicos, contribui para um cuidado multidimensional e personalizado a cada doente numa lógica de continuidade de cuidados desde as fases mais precoces até ao apoio às famílias no luto. A equipa e as infra-estruturas totalmente pensadas e erigidas para esta tipologia de doentes em concreto, fazem toda a diferença na qualidade dos cuidados e, consequentemente, na qualidade de vida das pessoas com demência e suas famílias.

PA: Através do modelo Kirkpatrick’s Evaluation Framework (2009), o CIDIFAD avalia a eficácia das suas ações formativas em quatro níveis distintos. De que forma esta «solução pioneir assegura a melhoria contínua dos tratamentos oferecidos e impacta positivamente a formação dos profissionais?

SC: De acordo com o modelo Kirlpatrick’s Evaluation Framework, existem 4 níveis de avaliação das ações formativas: o nível 1 corresponde à reação dos formandos (p.e., satisfação), o nível 2 avalia as mudanças decorrentes no conhecimento dos formandos (p.e., conhecimento, confiança e atitudes), o nível 3 avalia as mudanças no comportamento nas práticas dos profissionais, e o nível 4 avalia os resultados em termos de impacto nos utentes dos serviços. A avaliação das ações de formação baseada nestes níveis permite entender o real impacto das formações nos profissionais e consequentemente nos serviços e nos utentes. A procura da melhoria contínua em termos da formação interna (dos profissionais) tem de ir além da avaliação da satisfação e incluir as variáveis relacionadas com conhecimentos adquiridos e adoção de práticas, comportamentos e atitudes adequadas aos diferentes perfis profissionais. Nos últimos 5 anos, a equipa de investigação do CIDIFAD em articulação direta com outras instituições da saúde, sociais, empresariais e universidades, tem colaborado em projetos nacionais e internacionais para potenciar a inovação das respostas existentes para pessoas com demência e para os cuidadores. Destaca-se o projeto europeu INNOV4LIFE, projeto transfronteiriço cofinanciado pela União Europeia através do programa INTERREG, que pretende acelerar o desenvolvimento e a validação de soluções digitais inovadoras na área das demências através de um novo modelo de colaboração transnacional entre o norte de Portugal e a Galiza. O mais recente projeto DEDUC, um projeto ERASMUS+, financiado pela Comissão Europeia, tem como objetivo desenvolver uma plataforma de e-learning para modernizar a formação profissional nos cuidados à demência, capacitando estudantes e futuros profissionais de saúde com as competências práticas e os conhecimentos necessários.

PA: É inegável que a tecnologia desempenha, cada vez mais, um papel crucial no diagnóstico e tratamento antecipado das doenças. O Hospital Narciso Ferreira já conta com uma ressonância magnética «inovador. Existem outros tratamentos, ou equipamentos, que diferenciam o Hospital Narciso Ferreira na prestação de cuidados de saúde?

SC: Sim. A realização de Ressonância Magnética Cardíaca, a realização de angio-TAC cardíaco (este sem custos para o utente), a realização de Ecografias Obstétricas do 1º, 2º e 3º trimestre (sem custos para as grávidas) com as devidas exigências que estes exames exigem, as cirurgias de cataratas por Laser Femtosegundo, que já é uma realidade há 4 anos, e que diferencia o Hospital Narciso Ferreira nesta patologia por fim e muito brevemente a cirurgia Robótica em Ortopedia.

PA: Convenções, protocolos e acordos são essenciais para a padronização do atendimento no setor da saúde. Existe algum que gostaria de destacar?

SC: A cooperação do Estado com o Setor Social e Solidário manisfesta-se por Acordos de Cooperação, nomeadamente no âmbito da Saúde, dos quais destaco o Acordo com Hospital Narciso Ferreira da Misericórdia de Riba de Ave para consultas , cirurgias e Serviço de Atendimento Permanente, e mais recentemente os CAC (Centro de Atendimento  clínico do Médio Ave e do Alto Ave) e muito importante os Cuidados Continuados em todas as valências como A Unidade de Convalescença , A Unidade de Média Duração e Reabiltação, as Unidades de Longa Duração e Manutenção e mais recente a Unidade de Cuidados Paliativos e a Unidade de Dia e Promoção da Autonomia.

PA: Por último, tendo em vista novas metas e projetos para 2025, o que a comunidade pode esperar destas instituições?

SC: A Santa Casa da Misericórdia de Riba de Ave, estará sempre pronta para se colocar ao serviço das populações sempre que surja alguma necessidade local, regional ou mesmo nacional. Esperamos, muito em breve, poder contribuir para a construção de habitação social a custos controlados e a rendas muito acessíveis, principalmente para casais jovens, e não só, no sentido de os fixar cada vez mais a esta região do Vale do Ave. Construções estruturadas para filhos e idosos a cargo.

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