45 anos de dedicação à Urologia

Com uma carreira que totaliza 45 anos de serviço, Tomé Lopes, médico urologista, é o Diretor Clínico da Clínica Longeva, onde lidera uma equipa de 16 urologistas e outros profissionais de saúde, oferecendo um vasto leque de serviços de diagnóstico e tratamento urológico. Nesta entrevista, o Dr. Tomé Lopes conta como nasceu a atual Clínica Longeva e partilha a sua visão sobre o futuro da Urologia em Portugal.

Perspetiva Atual: Ao Dr. Tomé Lopes está vinculado um vasto currículo que inclui cargos como: Presidente da Associação Portuguesa de Urologia, Diretor do Serviço de Urologia do Hospital Pulido Valente, Diretor do Serviço de Urologia do Hospital de Santa Maria, Professor Convidado de Urologia da Faculdade de Medicina de Lisboa, e, agora, Diretor Clínico da Clínica Longeva. Como tudo começou? O que o levou a apaixonar-se pela Medicina e a optar pela especialidade de Urologia?

Dr. Tomé Lopes, Diretor Clínico da Longeva

Tomé Lopes: Tudo começou no Curso de Medicina e o momento marcante foi, na verdade, quando iniciámos as Cadeiras Clínicas. O contacto com o doente e o desafio no diagnóstico e tratamento das várias patologias levaram a um entusiasmo que cresceu no Internato Policlínico e no Internato de Especialidade e perdurou numa Carreira Médica que já leva 45 anos, dos quais 42 foram passados nos Hospitais Públicos.

A Urologia foi uma escolha pela inovação e dinamismo técnico que já apresentava na altura, nomeadamente com a cirurgia endoscópica e a cirurgia minimamente invasiva, para além da diversidade científica que apresentava entre as diversas especialidades. Tendo continuado, nas décadas seguintes, a beneficiar de uma explosão de avanços técnicos e clínicos, que ainda hoje se verifica.

PA: Como referi, é o atual Diretor Clínico da Clínica Longeva, em Lisboa. Apesar de ser uma das especialidades centrais, a Urologia não é a única especialidade tratada na Longeva. Que outras áreas são abrangidas?

TL: A Clínica Longeva é um projeto de modernização de um anterior consultório de menor dimensão, que tinha já 20 anos de história, de excelente prática clínica e excelentes profissionais associados.

O crescimento natural com o sucesso e também devido a uma maior especialização em Urologia fez com que surgissem novas necessidades: um espaço maior, com melhores condições e melhores equipamentos e o recrutamento de mais especialistas com competências específicas. Assim surgiu a Longeva.

Para alcançarmos uma abordagem holística no diagnóstico e tratamento de cada situação clínica, reunimos também um grupo de profissionais de saúde essenciais para complementar a Urologia e que se destacam nas suas respetivas especialidades, tais como a Medicina Interna, Ginecologia, Nefrologia, Gastroenterologia, Endocrinologia, Pneumologia, Dermatologia, Nutrição Clínica, Psicologia Clínica, Fisioterapia, assim como uma equipa de Enfermagem com experiência em enfermagem geral e urológica.

PA: Quais são os serviços mais procurados pelos pacientes da Clínica?

A Clínica Longeva dedica-se principalmente ao diagnóstico e tratamento das doenças urológicas e, para isso, contamos com a colaboração de 16 urologistas. É colocado um ênfase crescente nas suas subespecializações e no foco dos profissionais em aprofundar competências em áreas específicas, tais como a Andrologia (que se dedica à disfunção sexual masculina e infertilidade), a Urologia Funcional (que se dedica às disfunções miccionais, neurourologia e incontinência urinária), a Urologia Reconstrutiva (que se dedica à reconstrução dos órgãos do aparelho génito urinário), a Litíase urinária (tratamento de todos os problemas causados pelos cálculos urinários), a Urologia Oncológica (doenças oncológicas de todo o aparelho urinário), assim como especialistas em técnicas de cirurgia laparoscópica e robótica.

Investimos paralelamente em meios técnicos de vanguarda para a realização de procedimentos urológicos em regime de ambulatório, tanto de diagnóstico como de terapêutica, destacando-se uma Unidade de Endoscopia urológica, uma Unidade de Ecografia (que permite a realização de biópsia prostática, quer de fusão cognitiva por via perineal, quer por via transrectal, para além de todas as ecografias do aparelho urinário) e uma Unidade de Estudos Urodinâmicos.

Destacam-se também alguns equipamentos da Clínica que se destinam a terapêuticas muito específicas em Urologia, como as ondas de choque de baixa frequência, usadas em tratamentos na área da disfunção erétil e do síndrome de dor pélvica crónica, ou o equipamento de radiofrequência, essencial no tratamento de várias disfunções pélvicas.

PA: A missão da Longeva é muito assente numa ideia de melhoria contínua e de procura de um nível de qualidade “limitado apenas pelo avanço do conhecimento médico e científico”. Que características são obrigatórias, no funcionamento e na equipa, para garantir um serviço de excelência?

TL: A busca de excelência é um processo contínuo e que exige um foco constante na melhoria. Considerando a prestação de serviços de saúde como uma trilogia centrada no doente, reconhecem-se como vértices:

– Os profissionais de saúde

– Os serviços administrativos que otimizam a relação médico-doente

– Os meios técnicos e tecnológicos necessários à melhor prática clínica

Sendo a Longeva uma clínica de proximidade, focada e de pequena dimensão, temos o privilégio de focar a nossa estratégia quase exclusivamente na qualidade destes pilares. Baseámo-nos num processo de seleção rigoroso, tanto para a constituição do nosso corpo clínico, como para o recrutamento de pessoal administrativo, reconhecendo que somos um negócio de pessoas para pessoas e que a dimensão humana é a mais importante.

PA: O avanço da tecnologia e dos tratamentos médicos tem um grande impacto na área da urologia, obrigando, também, a uma constante aprendizagem. Esta é uma parte que o cativa na medicina? Gosta de sentir quem sempre mais para aprender e descobrir, mesmo com uma carreira tão longa?

TL: A aprendizagem contínua é obrigatória e cativante. Ter reunido e criado um grupo de Urologistas com alta qualificação faz com que o cargo de Diretor clínico da Clínica Longeva seja sentido como um privilégio. Esta equipa é, nesta fase da Carreira Médica, o principal alicerce da minha aprendizagem.

A discussão dos casos clínicos mais complexos é uma mais-valia tremenda, com claros benefícios para o doente e para os clínicos, no objetivo de obter a melhor qualidade na prestação de cuidados de saúde.

PA: Quais são as inovações mais significativas que viu ao longo da sua carreira?

TL: Ao longo da minha Carreira assisti a inovações incríveis na especialidade de Urologia. A cirurgia endoscópica, mesmo de situações complexas, permitiu evitar a morbilidade da cirurgia aberta, tornando os tratamentos cirúrgicos minimamente invasivos. A espantosa miniaturização dos aparelhos que nos leva mais longe nos tratamentos, a cirurgia laparoscópica e robótica, os tratamentos médicos altamente eficazes tanto em doenças benignas como malignas, a disponibilidade de equipamentos que permitem tratar de formas mais seguras e mais simples determinadas situações clínicas, são alguns destaques entre muitos que poderíamos descrever.

PA: As doenças urológicas, em certos casos, acarretam situações delicadas, em que muitos pacientes podem sentir embaraço ao procurar ajuda. Ainda existe um grande tabu na sociedade sobre estes temas? Numa era tão moderna como a que vivemos, o que ainda falta para a sociedade encarar estas doenças simplesmente como doenças e não como algo que devem sentir vergonha?

TL: Existem, ainda hoje, vários tabus e até mitos relativamente a determinadas doenças ou disfunções. A vergonha de expor a situação, acompanhada do mito de que algumas são naturais com o envelhecimento, com a crença de que não terão tratamento ou que, se existentes, serão muito complicados, fazem com que muitos pacientes nunca refiram ao seu médico assistente os seus problemas, para os quais existem hoje soluções simples que melhoram de forma significativa a qualidade de vida. Como exemplos paradigmáticos podemos referir a incontinência urinária, a disfunção sexual masculina, assim como o despiste das doenças da próstata.

Felizmente, com a divulgação feita por profissionais de saúde através dos meios de comunicação social, assim como a partilha do conhecimento urológico com outras especialidades, nomeadamente a Medicina Geral e Familiar, faz com que hoje em dia se note um progresso, apesar de lento, na procura de soluções para muitas destas situações. Contudo, no nosso país ainda há um longo caminho a percorrer.

PA: Em casos urológicos, a prevenção é um dos pontos mais importantes. De que forma se pode promover esta prevenção e educar a sociedade sobre estes temas?

TL: A prevenção, como em muitas outras especialidades, é fundamental também em Urologia. A prevenção passa muito pela deteção precoce de determinadas doenças que são curáveis nas suas fases iniciais. O melhor exemplo será a deteção precoce do cancro da próstata, conseguida através de vigilância anual a partir dos 50 anos. Caso seja detetado precocemente, é curável.

Também existem medidas comportamentais e alimentares que poderão ser altamente benéficas na prevenção. A divulgação por profissionais de saúde através dos meios de comunicação social também é determinante.

PA: Para finalizar, que conselho daria a estudantes de medicina que estão a considerar seguir a especialidade de urologia?

TL: Os estudantes de Medicina, para optarem pela Urologia, deverão considerá-la como uma especialidade desafiante, que exigirá muita dedicação e elevada diferenciação teórica e técnica.

Para a sua formação, devido à evolução constante da especialidade, é importante a escolha de um serviço com todas as capacidades urológicas. Para além de todo o treino em Urologia geral, deverão optar por uma subespecialização ou área de interesse para que possam, no futuro, ser profissionais de excelência.

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