A Química como aliado da sustentabilidade

Desmistificar a Química surge como um desafio dos tempos atuais. Pedro Fernandes, diretor do Departamento de Química e Bioquímica (DQB) da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, salienta a importância de informar a população sobre o “lado bom” da química. Esta difusão de conhecimento poderá ser a solução para evitar que faltem profissionais na área num futuro próximo. Em entrevista à Perspetiva Atual, Pedro Fernandes explica o modelo de ensino do DQB e o seu contributo no combate aos problemas ambientais.

Experimentação, investigação e colaboração

Criado como unidade orgânica de ensino graduado e pós-graduado, o Departamento de Química e Bioquímica (DQB) da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto adota um modelo de ensino baseado em três pilares fundamentais.

Pedro Fernandes, Diretor do DQB

De acordo com o professor Pedro Fernandes, diretor do Departamento, em primeiro lugar destaca-se a experimentação. Apesar da componente teórica de base, os estudantes dos cursos do DQB passam muito tempo no laboratório, onde colocam em prática todos os ensinamentos que adquirem. “Experiência prática é muito importante para nós. É um pilar fundamental para os estudantes conseguirem chegar a uma empresa e dominarem facilmente todas as técnicas”, afirma o diretor.

Em segundo lugar, o Departamento tem um forte enfoque na integração da investigação científica no ensino. Atualmente, o DQB conta com diversos grupos de investigação, onde os estudantes são também inseridos. Pelas palavras do professor Pedro Fernandes, a vertente da investigação é crucial para ajudar os estudantes a “desenvolver competências que o ensino simples não desenvolve. Entre elas, como pensar fora da caixa, ter espírito crítico, ser perfeccionista, tentar analisar hipóteses e propor soluções novas.”

Por fim, encontra-se a relação com as empresas. Essa interligação ocorre em dois níveis: investigação e estágios. No caso das colaborações realizadas para investigação, o Departamento trabalha com as empresas para encontrar soluções inovadoras para um certo problema. Os estudantes podem ser inseridos nestes grupos de investigação ainda durante a sua formação. Assim conseguem ter um contacto direto com as empresas e as suas necessidades. Já as colaborações de estágio acontecem no último ano de formação, com duração de um semestre.

Oferta formativa 2023/2024

Tal como o nome indica, os dois principais cursos do DQB são a Licenciatura em Química e a Licenciatura em Bioquímica. Esta última em colaboração com o ICBAS.

A Licenciatura em Química proporciona aos estudantes uma formação científica sólida nas vertentes teóricas e laboratoriais. O objetivo deste curso é que os alunos adquirem um conjunto de competências e capacidades gerais que os qualifiquem para ingressar no mercado de trabalho na vasta área da química e áreas afins, ou para, caso seja esse o seu interesse, continuar os seus estudos nos 2.º e 3.º ciclos de Química ou em áreas interdisciplinares com componente de Química.

Já a Licenciatura em Bioquímica visa desenvolver competências científicas e tecnológicas na interface entre a química e as ciências da vida e da saúde,  prosseguir com relativa autonomia para uma formação avançada em Bioquímica ou em áreas relacionadas, ou ingressar imediatamente no mercado de trabalho na área da química, ou das ciências da saúde.

Para além das Licenciaturas em Química e em Bioquímica, o DQB participa ainda na Licenciatura em Ciências e Tecnologia do Ambiente. Além disso, colabora com outras Licenciaturas da FCUP, como Biologia, Física,  Geologia, ou Bioinformática, entre outras, assim como em formações complementares para estes mesmos cursos.

Relativamente aos cursos de segundo ciclo, o DBQ oferece nove Mestrados de âmbito nacional e dois de âmbito internacional. Sobre os Doutoramentos, o Departamento detém responsabilidade de vários cursos, como o Doutoramento em Química e o Doutoramento em Química Sustentável.

Investigação científica

Portugal possui uma comunidade científica bastante ativa na área da química, com investigadores envolvidos em diversos campos, desde a química orgânica e inorgânica até a química analítica, física e bioquímica. O Departamento de Química e Bioquímica não fica de fora deste grupo. Com um corpo de investigação maior do que o corpo docente, rondando a centena de investigadores, o DQB assume a investigação como uma parte fundamental tanto para o ensino como para o crescimento profissional dos seus alunos e dos próprios docentes. Os estudantes são convidados a participar nos projetos desta vertente logo durante a Licenciatura, através de disciplinas curriculares e estágios extracurriculares. Durante o Mestrado e Doutoramento esta ligação com a investigação torna-se ainda maior.

Atualmente, a investigação do DQB concentra-se em algumas áreas de maior interesse global. Como é o caso da catálise, química alimentar, química medicinal, química analítica, eletroquímica, nanoquímica, termoquímica e química computacional.

Os impactos da Química no meio ambiente

Apesar de ser indicada como um problema para o meio ambiente, a Química desempenha um papel fundamental na resolução dos desafios ambientais enfrentados pela sociedade. Através da pesquisa e desenvolvimento de novos materiais, processos e tecnologias limpas, bem como da descoberta e desenvolvimento de métodos para gerar e armazenar energia renovável, a Química tem trazido benefícios significativos para o planeta. “O grande problema da humanidade é a sobrepopulação e o consumo. Somos quase oito mil milhões de pessoas a consumir os recursos do planeta e isso é insustentável”, começa por explicar o diretor do DQB. “Basicamente, o que acontece é que, para sustentar toda a população que habita o planeta, temos que criar bens para servir as pessoas. Quem fabrica a maioria dos materiais é a Química.”

Segundo o Professor Pedro Fernandes, a poluição está relacionada com a exploração desmedida dos recursos naturais. Este problema que pode ser solucionado através da economia circular, ou seja, através do conceito baseado na redução, reutilização, recuperação e reciclagem de materiais e recursos.

No entanto, para que este modelo económico aconteça, muitos são os processos químicos utilizados, seja na separação dos materiais ou na purificação e transformação dos resíduos em matérias-primas prontas para reconstruir os materiais originais ou para novas aplicações, de modo a poderem ser reintroduzidas na cadeia produtiva. Além disso, a Química também desempenha um papel importante na redução da poluição através do desenvolvimento de processos de produção mais limpos e da substituição de substâncias menos benéficas por alternativas mais limpas e seguras.

“A sustentabilidade para nós é uma prioridade de topo”, reforça o diretor do Departamento.

Os problemas do futuro na Química

Apesar de todas as suas aplicações e de ser uma área com vários caminhos profissionais possíveis, a verdade é que nos últimos anos a captação de estudantes para a área da Química tem enfrentado desafios significativos, resultando numa preocupação relativamente à escassez de profissionais qualificados no futuro, o que poderá afetar diversos setores onde a Química tem impacto.

Segundo o diretor, uma das principais razões para a dificuldade em atrair estudantes é a perceção negativa associada à disciplina. Para além de considerarem uma área difícil e complexa, existe ainda uma grande desinformação e falta de compreensão sobre as oportunidades de carreira e os benefícios práticos da Química.

Para combater este problema, Pedro Fernandes acredita que a solução passa principalmente pela consciencialização e desmistificação da Química. O departamento promove esta consciencialização através de iniciativas com os mais novos, seja nas escolas ou no próprio departamento. “Tentamos receber o máximo de escolas e conversar longamente com os jovens para responder a todas as suas questões. A nossa experiência diz que quando há um problema, as pessoas só querem saber a verdade. E quando explicamos a verdade, as pessoas compreendem-na e aceitam-na”, explica. No entanto, o professor reconhece que não é uma tarefa fácil. “É mais fácil desinformar com frases simples e sensacionalistas do que informar explicando assuntos complexos”.

Além disso, é fundamental destacar a importância na sustentabilidade e da responsabilidade ambiental da Química, bem como o seu impacto na medicina. Ao enfatizar o papel desta disciplina nestas duas áreas, “pode despertar o interesse dos estudantes em contribuir para um planeta e futuro melhor.”

Vale a pena destacar que a empregabilidade não é um problema para os profissionais da Química, por ser considerada uma “área privilegiada”. “A Química interage com todas as ciências e todas as ciências interagem com a Química, tornando-a uma disciplina muito útil em diversos setores, mesmo naqueles que menos se espera”, afirma o diretor.

O futuro do DQB

Com foco no desenvolvimento do Departamento, Pedro Fernandes revela algumas das metas estabelecidas pela atual direção para os próximos anos, sendo as principais o reforço da ligação do Departamento com as restantes instituições da Universidade do Porto, de modo a enriquecer e complementar o ensino dos estudantes de diversos cursos, bem como a solidificação da interação com o tecido empresarial, para facilitar a empregabilidade dos seus graduados.


Oferta formativa

LICENCIATURAS

  • Bioquímica (corresponsabilidade com o Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, Universidade do Porto)
  • Ciência e Tecnologia do Ambiente (colaboração com outras unidades orgânicas da FCUP)
  • Química

MESTRADOS

  • Aplicações em Biotecnologia e Biologia Sintética (colaboração com outras unidades orgânicas da FCUP)
  • Bioinformática e Biologia Computacional (colaboração com outras unidades orgânicas da FCUP)
  • Bioquímica (corresponsabilidade com o Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, Universidade do Porto)
  • Ciências e Tecnologia do Ambiente  (colaboração com outras unidades orgânicas da FCUP)
  • Ensino da Física e da Química no 3º Ciclo do Ensino Básico e Secundário (corresponsabilidade com o Departamento de Física Aplicada da FCUP)
  • Ensino e Divulgação das Ciências
  • Métodos Avançados e Acreditação em Análise Química
  • Química
  • Tecnologia e Ciência Alimentar (corresponsabilidade com Universidade do Minho)

Programas Doutorais

  • Química (colaboração com Dep. de Engenharia Química da FEUP)
  • Química Sustentável (corresponsabilidade com as Universidade Nova de Lisboa e Universidade de Aveiro)

COLABORAÇÕES INTERNACIONAIS

  • Mestrado: SERP+ -Surface, Electro, Radiation, Photo-chemistry & EnTrepreneurship – UP, Paris Sud (França); Génova (Itália); Adam Mickiewicz (Poznan, Polónia) – especialização associada ao Mestrado em Química;
  • Mestrado: Wintour -Wine Tourism Innovation – UP, Universitat Rovira i Virgili (Espanha) e Université de Bordeaux (França);

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