
Ordem dos Enfermeiros da Secção Regional do Sul reforça parcerias e aponta falhas aos serviços de urgência
A Secção Regional do Sul da Ordem dos Enfermeiros tem reforçado as parcerias de proximidade com autarquias para promover a saúde e valorizar a profissão. Em entrevista, a presidente da Secção, Dora Franco, destaca as dificuldades enfrentadas pela ULS da Lezíria e pelo Hospital de Vila Franca de Xira, onde a escassez de profissionais e a sobrecarga dos serviços de urgência exigem respostas estruturais e cada vez mais imediatas.

Perspetiva Atual: Quais foram os principais objetivos dos encontros entre a Secção Regional do Sul da Ordem dos Enfermeiros e as Câmaras Municipais?
Dora Franco: A Secção tem vindo a fazer estes contactos de proximidade com o objetivo de estabelecer parcerias estratégicas que promovam a saúde e valorizem os enfermeiros. Recentemente reunimos com as Câmaras Municipais de Lisboa, de Sintra, de Cascais e de Oeiras. Tivemos a oportunidade de discutir áreas de colaboração fundamentais, que incluem a promoção da literacia em saúde, formação e até soluções de habitação acessível para enfermeiros. Estes programas de apoio habitacional especial para enfermeiros, já existentes em vários países da União Europeia, assumem-se como uma possibilidade muito relevante em termos de políticas de recursos humanos, tendo em conta os custos habitacionais elevados.
PA: A Ordem tem acompanhado situações críticas na região sul, como o caso da ULS da Lezíria. Quais são os principais desafios identificados?
DF: A situação na ULS da Lezíria é preocupante, sobretudo no serviço de urgência, e infelizmente recorrente. O ano passado reunimo-nos com o Conselho de Administração e autarcas da Comunidade Intermunicipal da Lezíria do Tejo, na procura de soluções para um problema estrutural que exige uma intervenção concertada, e cujos maiores prejudicados são os mais vulneráveis, a maioria idosos. Em março deste ano, reunimo-nos com membros do Conselho de Administração recém-empossado, para discutirmos os vários constrangimentos que afetam a Unidade. Destaco o número elevado de utentes “internados” no serviço de urgência. Uma situação que está longe de ser verificada apenas no inverno ou associada a picos epidémicos. As condições caóticas no serviço de urgência mantém-se e aquilo que deveria ser um desvio, está a transformar-se num padrão. Note-se que esta aceitação tem consequências graves, como são exemplo o aumento das taxas de infeção, da taxa de mortalidade, e dos erros terapêuticos. Danos graves também para os Enfermeiros, que são já considerados um dos grupos profissionais com níveis mais elevados de burnout.
PA: E no caso do Hospital de Vila Franca de Xira, como avalia a situação?
DF: A situação vivida em Vila Franca de Xira é muito grave, sobretudo nos serviços de medicina e urgência. No serviço de urgência chegou-se a registar mais de uma centena de doentes “internados” por falta de camas disponíveis, e concomitantemente mais duzentos episódios por dia. A equipa de Enfermagem deveria integrar duzentos enfermeiros, mas são apenas quarenta e sete. Perante este cenário, temos vindo a reforçar a adoção de medidas concretas, mais robustas, que salvaguardem os utentes e reduzam a pressão, uma delas, imediata, é a ativação e implementação efetiva de planos de contingência. Depois existem necessariamente medidas a serem tomadas em termos de modelos de organização integrativos que, centrados não na doença, mas na prevenção e promoção da saúde, possam permitir uma adequada gestão dos processos terapêuticos, e linearidade nos percursos e atendimento.
PA: A formação e articulação com as escolas de enfermagem também tem sido uma prioridade?
DF: Sem dúvida. A articulação com as escolas de enfermagem é essencial para garantir que a formação está alinhada com as necessidades do sistema de saúde. Temos apostado em parcerias educacionais, promovendo ações de apoio às inscrições, simplificando e acelerando o processo de atribuição de títulos a novos membros e dinamizando sessões formativas sobre a deontologia profissional e sobre os desígnios da Ordem dos Enfermeiros.
PA: Quais são as principais iniciativas da Secção para valorizar o trabalho dos enfermeiros na Região Sul?
DF: A Secção Regional do Sul tem promovido iniciativas, a vários níveis de decisão, macro e micro, na esfera política, social, académica, institucional, mas também individual. Destaque para a realização de visitas aos contextos da prática clínica, e para o projeto Enfermagem @Sul, promotores do diálogo e da proximidade com os colegas nos diferentes contextos. A resposta a pedidos de informação e emissão de pareceres, a participação em eventos científicos e a organização de eventos formativas, têm sido igualmente fundamentais no desenvolvimento de competências técnicas e científicas. Salientamos ainda, a realização da “Cerimónia de Vinculação”, que eleva o início da vida profissional e as iniciativas de reconhecimento: “Prémio de Investigação Mariana Diniz de Sousa”; “Orçamento Participativo”; “Concurso Fotografia”; “Histórias (Pessoas) que inspiram” e “Prémios de Mérito”.
PA: Que mensagem gostaria de deixar aos enfermeiros e à comunidade?
DF: Em nome da Secção Regional do Sul gostaria de deixar uma palavra de profundo reconhecimento a todos os enfermeiros que, diariamente, dão o seu melhor em contextos tantas vezes adversos. Continuamos empenhados em garantir que têm Voz. À comunidade, deixo o apelo do reconhecimento. A Enfermagem é, enquanto disciplina e profissão, agregadora de valor, garante da sustentabilidade do Sistema de Saúde, e é também tantas vezes último reduto de humanitude e dignidade humana, insubstituível.