Na vanguarda do ensino da Matemática

Com um corpo docente altamente qualificado, o Departamento de Matemática tem desempenhado um papel crucial no desenvolvimento académico e científico da Universidade do Porto. Em entrevista, o diretor José Ferreira Alves e a professora Rita Gaio, revelam como a instituição enfrenta os desafios contemporâneos com uma oferta formativa completa, que potencia a elevada taxa de empregabilidade dos estudantes. 

Perspetiva Atual: Fornecendo uma visão geral sobre o papel e a missão do Departamento de Matemática (DM), de que forma considera que a instituição contribui para o desenvolvimento académico e científico, não só da Faculdade de Ciências, mas, da Universidade do Porto (UP) no geral?

José Ferreira Alves: O DM tem um corpo docente altamente qualificado, formado por cerca de quarenta docentes doutorados, tendo alguns obtido o seu doutoramento em algumas das melhores instituições a nível mundial na área da Matemática. Isso reflete-se na escolha das unidades curriculares e nos tópicos ministrados aos diversos cursos (licenciatura, mestrado e doutoramento) sob a responsabilidade do DM, bem como aos cursos em outras áreas da Faculdade de Ciências e das Faculdades de Engenharia e Medicina da Universidade do Porto, nos quais o DM tem participação. Além disso, parte significativa dos docentes do DM mantém uma carreira científica ativa, com publicações regulares em algumas das melhores revistas científicas na área da Matemática e das suas aplicações.

PA: O DM alberga o Centro de Matemática da Universidade do Porto (CMUP), um dos maiores do país, que congrega matemáticos de toda a UP. Poderia mencionar as principais linhas de investigação desenvolvidas no CMUP, ressalvando a sua importância?

JFA: O albergar é apenas no sentido de o CMUP ter as suas instalações no DM, pois trata-se de unidades totalmente independentes do ponto de vista institucional. Contudo, uma boa parte dos docentes do DM são membros do CMUP, constituindo mesmo a maioria dos membros integrados do CMUP. O CMUP está estruturado em quatro grandes grupos de investigação, cobrindo algumas das áreas mais clássicas e relevantes da Matemática: Álgebra, Análise, Estatística & Probabilidade e Geometria. Os membros desses grupos distribuem-se por várias linhas interdisciplinares de investigação, em tópicos bastante atuais, comportando Matemática Computacional, Modelos Matemáticos, Sistemas Dinâmicos e Semigrupos, Autómatos & Linguagens. A própria organização do CMUP denota a grande interdisciplinaridade na investigação que se faz, não só internamente na Matemática como também em áreas mais aplicadas.

PA: De que forma a oferta formativa disponibilizada pelo DM, desde as licenciaturas até aos doutoramentos, passando pelos cursos de especialização, foi pensada e estruturada de maneira a preparar os alunos para responder aos desafios contemporâneos do mercado de trabalho?

Rita Gaio: O DM tem tido sistematicamente a preocupação de oferecer formações com uma grande qualidade científica, refletindo a excelência da investigação praticada, e que vão ao encontro das necessidades identificadas no mercado de trabalho atual. Para além da licenciatura em Matemática, do mestrado em Matemática, do mestrado em Engenharia Matemática e de dois cursos de doutoramento, nos últimos três anos foram criados o curso de Especialização em Modelação Estatística Computacional, o Mestrado em Estatística Computacional e Análise de Dados, o Doutoramento em Matemática e Aplicações, e a Licenciatura em Matemática Aplicada. O curso de especialização é um curso não conferente de grau, direcionado essencialmente para profissionais já inseridos no mercado de trabalho que procurem atualizar ou melhorar as suas competências em Modelação Estatística e assim reforçar a sua capacidade de progressão ou integração no meio profissional. Foi o primeiro curso do DM deste género, orientado diretamente para um reforço de competências profissionais. O mestrado veio proporcionar uma formação avançada pós-graduada numa área muito requisitada na atualidade, incluindo extração de conhecimento a partir de dados, modelação estatística, simulação, data mining e métodos de decisão. O novo doutoramento resulta de uma colaboração com outras universidades portuguesas e galegas, para uma oferta mais diversificada. Finalmente, a abertura da Licenciatura em Matemática Aplicada foi motivada pela complexidade dos desafios atuais e pela necessidade de abordagens quantitativas estruturadas, lógicas e inovadoras na sociedade contemporânea.

PA: Considerando a importância das áreas de estudo do DM na sociedade contemporânea, quais são as saídas profissionais ao dispor de um recém-formado no vosso Departamento? Relativamente à empregabilidade dos estudantes após terminarem os estudos, mantêm uma taxa positiva?

RG: A taxa de empregabilidade dos estudantes que terminam os nossos cursos é muito alta, especialmente se tiverem um curso de mestrado. O mercado de trabalho tem reconhecido sistematicamente a competência e robustez científica das nossas formações, e a capacidade de resolução de problemas, espírito crítico e organização do raciocínio dos estudantes.  Em relação às áreas de empregabilidade, há muita diversidade. Os nossos estudantes têm maioritariamente enveredado por profissões na banca, na indústria, em empresas de consultoria ou seguradoras. Há vários anos, a licenciatura em Matemática / Matemática Aplicada estava associada ao Ensino e formação de professores; contudo, na sociedade tecnológica e quantitativa dos dias de hoje o panorama é muito diferente.

PA: A Matemática, muitas das vezes, é transversal a várias áreas; da ciência, à economia ou à tecnologia, tudo é cálculo. Assim, na Licenciatura em Matemática Aplicada, de que forma o plano de estudos do curso prepara os estudantes para desafios específicos nestes setores interdisciplinares?

RG: A Licenciatura em Matemática Aplicada confere uma formação matemática orientada precisamente para as aplicações. Como trabalhamos exaustivamente a capacidade de abstração dos estudantes e várias metodologias de modelação de fenómenos, os objetos específicos a modelar tornam-se menos relevantes. A mesma metodologia pode facilmente ser aplicada a um problema de Biologia, Engenharia ou Economia, por exemplo. Para reforçar as competências ao nível da Programação Informática e da modelação de associações e reconhecimento de fenómenos introduzimos três unidades curriculares obrigatórias de Informática e três unidades curriculares obrigatórias de Física.

PA: Quais são as principais parcerias ou colaborações que o DM mantém com outras universidades e instituições, tanto a nível nacional como internacional, e de que forma estes acordos promovem a mobilidade académica, seja do corpo docente como estudantil?

JFA: O DM tem os seus cursos de doutoramento todos em parceria com outras universidades portuguesas e galegas. Especificamente, o Doutoramento em Matemática com a Universidade de Coimbra, o Doutoramento em Matemática Aplicada com a Universidade de Aveiro e a Universidade do Minho e o Doutoramento em Matemática e Aplicações com a Universidade de A Coruña, a Universidade do Minho, a Universidade de Santiago de Compostela, a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro e a Universidade de Vigo. Além disso, o DM recebe regularmente estudantes internacionais dos mais diversos graus, com preponderância para estudantes europeus do Programa Erasmus e estudantes dos PALOP e do Brasil. Em relação ao corpo docente, apesar de não haver parcerias formalmente estabelecidas, a investigação acontece, em larga escala, por meio de colaborações a nível individual, o que faz com que haja uma grande quantidade de docentes internacionais que nos visitam regularmente, bem como docentes do DM que visitam outras instituições além-fronteiras.

PA: Nos próximos anos, qual é a estratégia do DM para continuar a consolidar e fortalecer o seu impacto académico e científico, não só apenas no seio da Universidade do Porto, mas também além-fronteiras?

JFA: Um dos grandes desafios do DM prende-se com a renovação do seu corpo docente, precisamente para manter num padrão elevado de qualidade o que foi alcançado nas últimas décadas, aquilatado tanto pela procura dos cursos que oferece, como pela excelente qualidade da investigação que produz. Por força de várias crises, houve uma enorme escassez de contratações nos últimos anos, o que se reflete no envelhecimento do seu corpo docente. Felizmente, isso tem sido parcialmente compensado com vários investigadores que nos procuram para aqui realizarem os seus trabalhos de pós-doutoramento.

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