DEM aposta na formação global e inovação interdisciplinar

Em resposta às transformações do setor industrial e aos desafios globais da sustentabilidade, o Departamento de Engenharia Mecânica (DEM) da Universidade de Coimbra tem vindo a reestruturar a sua abordagem pedagógica e científica. De acordo com Adélio Gaspar, diretor do DEM, a modernização dos planos de estudo integra a interdisciplinaridade e a resolução de problemas reais. Para atingir esse objetivo, o DEM tem expandido os estágios curriculares, realizado projetos em parceria com a indústria e investido no desenvolvimento de competências transversais alinhadas aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).

Perspetiva Atual: O Departamento de Engenharia Mecânica (DEM) da Universidade de Coimbra tem vindo a desempenhar um papel significativo na formação de engenheiros. Quais são as principais iniciativas implementadas para assegurar que os recém-licenciados estão preparados para integrar o mercado de trabalho, respondendo às necessidades globais e conscientes do impacto da engenharia na sustentabilidade e na inovação tecnológica?

Adélio Gaspar: O DEM tem vindo a melhorar a sua missão formativa, desenvolvendo planos de estudo adaptados às exigências atuais do mercado de trabalho, com abordagens pedagógicas centradas na interdisciplinaridade e multidisciplinariedade, com a resolução de problemas reais e na ligação estreita com o tecido empresarial. Há uma aposta crescente em estágios curriculares, projetos em parceria com a indústria e unidades curriculares que promovem competências transversais, como a sustentabilidade, a ética e a inovação tecnológica. Os nossos programas estão alinhados com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), preparando os nossos diplomados para responder aos desafios globais com responsabilidade e visão estratégica.

PA: Muitas vezes, quando se menciona a engenharia mecânica, tende-se a limitar a sua compreensão a uma única área. Quais são as diversas vertentes e especializações que o DEM oferece?

AG: A Engenharia Mecânica é uma área vasta e multifacetada. A oferta formativa do DEM é ampla e diversificada, disponibilizando formação dos níveis base aos níveis avançados e desenvolvendo investigação nos mais variados domínios como: Energia e Sustentabilidade, Mecânica dos Fluidos e Termodinâmica, Materiais e Processos de Fabrico, Robótica e Automação, Tecnologia e Sistemas Mecânicos. Esta diversidade permite aos nossos estudantes explorar diferentes caminhos e especializarem-se em áreas com elevado potencial de empregabilidade e impacto social, quer a nível nacional, como a nível internacional.

PA: O Departamento de Engenharia Mecânica da Universidade de Coimbra mantém uma ligação estreita com unidades de investigação. De que forma esta articulação contribui para o avanço do conhecimento, a inovação tecnológica e a evolução da engenharia mecânica enquanto disciplina?

AG: O DEM está profundamente articulado com centros de investigação de excelência, nomeadamente o CEMMPRE (Centro de Engenharia Mecânica, Materiais e Processos) e a ADAI (Associação para o Desenvolvimento da Aerodinâmica Industrial). Esta ligação permite que os nossos estudantes, docentes e investigadores estejam na linha da frente do conhecimento, ao pertencer a redes científicas nacionais e internacionais e participando em projetos de investigação aplicada e fundamental, num leque alargado de áreas científicas, contribuindo deste modo para a formação sempre atualizada e alinhada com as práticas nacionais e internacionais em Engenharia Mecânica, Engenharia e Gestão Industrial, Engenharia do Ambiente, Energia para a Sustentabilidade, entre outras.

PA: Tendo em conta as crescentes preocupações ambientais e a procura por soluções mais sustentáveis, considera que o Departamento de Engenharia Mecânica tem integrado esses princípios nos seus programas académicos e nas suas linhas de investigação?

AG: Sim, há mais de duas décadas que a sustentabilidade tem norteado a nossa atuação. O DEM tem fortemente integrado no ensino e na investigação temáticas que vão desde a conceção de sistemas de energia mais eficientes e renováveis até ao desenvolvimento de materiais recicláveis e processos de fabrico com menor pegada ecológica. Mais recentemente, temos vindo a incorporar, de forma explícita, a resposta às alterações climáticas, através da promoção de soluções tecnológicas que contribuam para a mitigação das emissões de carbono e para a adaptação a fenómenos climáticos extremos. Acreditamos que formar engenheiros conscientes do seu papel ambiental é essencial para um futuro mais equilibrado, resiliente e justo.

PA: Recentemente, a equipa de investigação desenvolveu uma abordagem inovadora para a criação de stents vasculares biodegradáveis, dispositivos médicos utilizados para desobstruir artérias bloqueadas. Tendo em conta este exemplo, conjetura que o DEM representa agora um papel que ultrapassa a engenharia mecânica, afirmando-se como indispensável na investigação interdisciplinar e na projeção internacional da profissão?

AG: O exemplo dos stents vasculares biodegradáveis é paradigmático da nossa aposta na interdisciplinaridade. Este projeto, que cruza engenharia mecânica, biomateriais e medicina, demonstra como o DEM está a ultrapassar as fronteiras tradicionais da engenharia. Ao nível da biomecânica, para além das colaborações naturais com as faculdades de medicina e de desporto da UC e das outras instituições de ensino superior nacionais, na linha internacional, destacar-se-ão as colaborações sólidas com a University of Ulster (Irlanda do Norte) e a Aalborg University (Dinamarca). A nossa capacidade de colaborar com outras áreas científicas e com parceiros internacionais tem sido determinante para afirmar o DEM como um polo de inovação com impacto regional, nacional e, evidentemente, global.

PA: No âmbito do contributo do Departamento de Engenharia Mecânica, como formador de ativos e como polo de investigação, qual é o seu papel no desenvolvimento no tecido industrial ao nível local ou, até a um nível mais global?

AG: Ao longo dos anos, devido à qualidade da sua formação, o DEM tem fornecido às empresas licenciados e mestres nas várias especialidades que apresenta da sua oferta formativa. De facto, a enorme versatilidade e polivalência, dos formados nesta escola, e a grande taxa de empregabilidade, reflete o grau de confiança dos empresários nacionais e internacionais. Esta confiança não se cinge só aos profissionais que as empresas absorvem, mas também, através dos seus centros de investigação, às parcerias muito comuns que se estabelecem na participação em projetos com financiamento competitivo, permitindo criar valor nas empresas e levando a que estas se destaquem a nível tecnológico perante a concorrência.

PA: Em que medida é feita a ligação entre a investigação e a formação oferecida no Departamento de Engenharia Mecânica e de que forma afeta os conteúdos lecionados?

AG: Os alunos do DEM, ao longo do seu percurso, quer seja nas formações base ou avançada, ou até numa participação mais ativa junto dos centros de investigação e laboratórios, são constantemente confrontados com situações que resultam das parcerias e participações em projetos de investigação. Como tal, o aluno, para além de ter acesso a conhecimento altamente atualizado, conta com informações resultantes de contextos práticos reais de projetos que estejam a decorrer naquele momento. Por exemplo, neste momento, através do CEMMPRE, destacam-se os projetos INOV.AM (PRR) e M+M – Metamateriais Metálicos para Moldes (Centro2030), onde se procura alterar o comportamento de uma estrutura, através de fabrico aditivo e de uma engenharia inovadora de estruturas treliçadas. Por sua vez, na área das energias, o ADAI, com o projeto BioWaste2Carbon, visa a valorização de resíduos florestais através da sua conversão em CO₂ biogénico, promovendo a produção de biocombustíveis sintéticos de origem renovável.

PA: Quais têm sido as principais oportunidades de mobilidade internacional proporcionadas pelo Departamento de Engenharia Mecânica? Acredita que experiências auxiliam a formação académica e profissional dos futuros engenheiros?

AG: A adesão dos nossos estudantes aos programas de mobilidade, nomeadamente ao programa Erasmus+, tem sido crescente, havendo atualmente várias parcerias com universidades de referência, principalmente na Europa, mas também fora da Europa. Pelo que se observa, estas experiências de mobilidade permite-lhes o contacto com outras realidades académicas e culturais, enriquecendo-os fortemente na sua formação e desenvolvimento pessoal, permitindo-lhes também criar redes internacionais de contacto. Prepara os nossos diplomados para contextos multiculturais e exigentes, cada vez mais valorizados no mercado global.

PA: O DEM tem como lema “Criar O Futuro”. Quais são as próximas metas a serem alcançadas?

AG: O nosso lema é mais do que uma frase é um compromisso. Nesse sentido, queremos continuar a formar profissionais de engenharia que não só respondem aos desafios do presente, mas que também lideram a construção de um futuro mais sustentável, justo e inovador. A nível de formação, as próximas metas incluem o reforço da inclusão da digitalização e da inteligência artificial nos nossos programas formativos e a expansão da oferta formativa em inglês para munir os nossos estudantes de capacidades internacionalizantes e, ao mesmo tempo, atrair cada vez mais estudantes internacionais. Como objetivo, queremos ainda continuar a consolidar a ligação com a indústria através de laboratórios colaborativos na intensificação da pesquisa multidisciplinar em torno das energias renováveis e da economia circular.

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