Formação certificada para ativos presentes no mercado global

O Departamento de Engenharia Civil da Universidade de Aveiro enfrenta as contingências atuais com responsabilidade e foco no futuro. Várias novidades estão em curso em termos formativos, dando resposta às exigências internacionais nas matérias lecionadas.

A Perspetiva Atual esteve à conversa com Claudino Cardoso “o pai da engenharia civil na Universidade de Aveiro”. O nosso entrevistado é um profundo conhecedor da filosofia e da metodologia de ensino ministrada no Departamento de Engenharia Civil da Universidade de Aveiro (DECivil). Quando em 1995 o reitor de então, Júlio Pedrosa, lhe endereçou o convite para criar o curso de licenciatura em engenharia civil, o nosso entrevistado abraçou este projeto e esteve envolvido na construção do curso e do edifício que personifica os valores de comunicação e união entre toda a comunidade académica.

Ouvidas as entidades locais e nacionais, que aprovaram de forma unânime a abertura de um curso de licenciatura em engenharia civil na Universidade de Aveiro (UA), esta iniciou no ano letivo 1996/1997 a formação nesta área. A ria e a costa, laboratórios naturais que enriquecem a atuação da instituição, continuam a ser nichos de eleição do DECivil, a par da construção com novos materiais e técnicas. Mais recentemente, apoiados em valências presentes na universidade, surgiu uma nova área de estudo: a reabilitação do património.

Apostados na sólida formação de base em engenharia civil, o curso da UA, com a marca de qualidade EUR-ACE® da Ordem dos Engenheiros, caracteriza-se por não ter perfis de especialidade formais no final do curso. “Pretendemos que os nossos formandos tenham competências para trabalhar em qualquer área da engenharia civil. Esta é a grande diferenciação deste curso, esta é uma filosofia que queremos preservar”, reforça Claudino Cardoso, que recentemente voltou a assumir a direção do DECivil.

Vinte e quatro anos passados desde a sua criação, o curso de engenharia civil destaca-se no panorama nacional por ter um dos maiores números de citações e artigos publicados, por docente, em revistas de referência de diferentes especialidades neste domínio da engenharia.

A transformação que o Processo de Bolonha impôs no processo de formação não alterou o seu ADN, “mesmo com a posterior alteração da designação de licenciatura em engenharia civil para mestrado integrado em engenharia civil”.

Após a crise económica de 2011, que afetou de forma brutal os domínios da engenharia civil a nível nacional, o número de interessados de estudantes no curso desceu abruptamente, circunstâncias que têm vindo paulatinamente a melhorar como descreve o diretor do departamento: “Nós tínhamos um numerus clausus de 60 estudantes antes da crise e, tendo em consideração vários fatores, optámos por ser cautelosos diminuindo aquele valor, tendo em consideração a conjuntura e o número reduzido de candidatos com idade escolar de ingresso no ensino superior na área de influência da universidade. A verdade é que com a limitação que as universidades têm para aumentar os numerus clausus, dos seus cursos, continuamos fortemente empenhados em ver o atual número aumentado, tal como é preconizado no meu programa de candidatura e baseado no crescente número de concorrentes, assim como no aumento do número de estudantes que nos escolhem na qualidade de 1ª opção, que atualmente atinge 50% do total de alunos inscritos na primeira fase de candidatura”.

Com a responsabilidade que caracteriza a Universidade de Aveiro no contexto nacional e internacional na formação superior, o DECivil criou no ano letivo 2019/2020, obviamente acreditado pela AE3S, o mestrado em reabilitação do património como resposta à necessidade do mercado da reconstrução, assim somo à imperiosa revitalização das cidades não só reabilitando o património habitacional, mas também o património monumental. O objetivo do curso passa por desenvolver competências ao nível do conhecimento e formação na produção de materiais antigos, técnicas construtivas do passado, aproveitamento de materiais com objetivo de respeitar a traça, a identidade e a história do edifício. “Se assim não for, não estamos a reabilitar, mas a reutilizar, o mesmo que destruir o património cultural que traduz a história das cidades”, defende Claudino Cardoso que se orgulha de ter no departamento alguns dos maiores especialistas nesta temática. “É de extrema importância conhecermos o cartão de cidadão do edifício, daí que eu sou muito apologista da interligação do engenheiro e do arquiteto. São duas especialidades que muitas vezes andam de costas voltadas, quando o trabalho em conjunto produz obra extraordinária”, continua. “Mesmo com tempo extremamente reduzido para promover o curso, obtivemos um considerável número de interessados e inscritos que queremos ver aumentados no ano letivo que se iniciará em setembro próximo”. Uma aposta que pretende dar resposta aos estudantes de licenciatura, assim como atrair novos públicos oriundos de outras áreas das engenharias.

Sem abandonar a formação pluridisciplinar no atual curso de mestrado integrado em engenharia civil, o DECivil em cooperação com outras unidades orgânicas da UA, ambiciona criar novas ofertas formativas em áreas de especialidade, tendo já sido proposto à reitoria da UA a criação de novos cursos de mestrado que se encontram em diferentes estados de desenvolvimento.

Novo ano letivo em preparação

A estratégia para o próximo ano já está definida na base do que aconteceu no último semestre com as alterações impostas pela pandemia de COVID-19. A resposta dada pela comunidade académica “foi extraordinária”, defende Claudino Cardoso. O sucesso desta passagem para o sistema de ensino digital, fortemente apoiado pela Universidade de Aveiro, permite ao DECivil preparar o próximo ano letivo com relativa tranquilidade. Seguindo as diretrizes emanadas pela reitoria, os departamentos devem erigir esforços para não ultrapassar os 50% de ECTS dos cursos em ensino à distância, “o que vai obrigar a que tenhamos a capacidade de organizar os desencontros necessários entre o ensino à distância e o ensino presencial”. A divisão de turmas de índole laboratorial e/ou práticas vai implicar uma logística de enorme complexidade que toda a comunidade já está com serenidade a trabalhar.

Apresentado o cenário do próximo ano letivo, Claudino Cardoso assume que o ensino à distância não respeita os ideais genesíacos desta instituição criada de raiz para promover a comunicação, a flexibilidade e o convívio entre toda a comunidade académica. “O DECivil tem uma característica que posso quase que afirmar única. O departamento foi criado com o objetivo de quebrar barreiras. Os alunos não precisam de marcar hora para falar com o professor, eles batem à porta do seu gabinete e são atendidos no momento. Isto tem objetivos muito claros: criar dinâmicas para que, quando o aluno chegar ao mercado de trabalho saiba lidar com os seus superiores de uma forma não subalterna, mas com respeito e à-vontade na abordagem com o seu superior hierárquico. Neste contacto diário, criámos relações de grande companheirismo e amizade que se estendem para lá da sala de aula, para lá do fim da formação. Tenho muito orgulho neste aspeto humano que construímos”.

Investigação e Desenvolvimento

O DECivil tem também dedicado especial atenção a dois aspetos fundamentais na concretização da sua missão: a cooperação com a sociedade e a internacionalização. Promover a cooperação com a sociedade a diferentes níveis, desde a resposta aos atuais desafios societais até à disseminação e divulgação da ciência que é produzida, tem sido essencial para o DECivil colocar em prática os avanços tecnológicos que advêm da sua atividade de investigação.

O DECivil alimenta uma forte colaboração com o tecido empresarial da região Centro, sendo sede da Associação Nacional para a Qualidade nas Instalações Prediais (ANQIP), do Cluster Habitat Sustentável – CentroHabitat, da Casa Passiva e da Yococu Portugal, entidades agregadoras de centenas de empresas nacionais. Para além disso, colabora ativamente com outras associações, como é exemplo a Associação InovaDomus. Uma “relação biunívoca” primordial na dimensão formativa e social do DECivil.

As prestações de serviço a empresas são também fundamentais na dinâmica do departamento e concedem maior sustentabilidade financeira que permite colocar em prática investimentos em equipamentos, projeção internacional e preservação do edifício.

Para além disto, tem havido uma forte aposta na internacionalização, quer ao nível da formação, através da captação de estudantes internacionais, quer ao nível da cooperação com outras instituições internacionais que possibilitam dar visibilidade internacional às suas atividades, assim como potenciar a ligação à investigação e à inovação que se faz no mundo.

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