A nova era da FCHS da Universidade do Algarve pelas mãos do Professor Sérgio Vieira

No passado dia 4 de fevereiro, a Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da Universidade do Algarve (FCHS) viu o Professor Sérgio Vieira assumir o cargo de Diretor. Com novos planos e objetivos, o novo diretor fala-nos sobre as influências da pandemia no ensino, a alargada internacionalização da instituição e o desenvolvimento dos projetos de investigação realizados na FCHS. 

Perspetiva Atual: Doutorado em psicologia, o Professor Sérgio Vieira tomou posse enquanto Diretor da Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da Universidade do Algarve, no dia 4 de fevereiro. Como é passar de docente a diretor de uma faculdade como a FCHS? 

Sérgio Vieira: É acrescentar valor à experiência de carreira de vida, é ser-se professor, também com funções de gestão. É o assumir de um cargo que só faz sentido se o exercermos desprendidos para além da satisfação pessoal que possa decorrer do exercício do poder que nos é conferido. É, essencialmente, assumir um papel a pensar, acredito eu e quem me acompanha nesta missão, em contribuirmos para o crescimento e a valorização institucional, coletiva e individual de cada membro da comunidade FCHS. Desde há trinta anos, quando concluí a minha formação superior que tenho tido o privilégio de assumir diferentes funções de gestão, dentro e fora do contexto universitário, porém sempre em contextos educativos. Jamais poderei descurar que iniciei a minha vida profissional a dois tempos, que representam dois níveis de atividade que agora exerço: ensino e gestão. Comecei por ser professor do 2º ciclo do ensino básico, enquanto concluía a minha formação de ensino secundário e, concluída a minha licenciatura na Universidade de Coimbra, retomei à atividade profissional como psicólogo e subdiretor de uma escola profissional, a ETAP-Pombal. Após ter exercido diversas responsabilidades de governança na FCHS, por exemplo Diretor de Departamento, Presidente do Conselho Pedagógico, Diretor do Serviço de Psicologia, o assumir do diretor da faculdade surgiu como um dever pessoal. 

Tanto nesta decisão, como em todas as anteriores que tomei, sempre que decidi avançar para funções de gestão, fi-lo na total convicção que reunia condições favoráveis para poder contribuir para o desenvolvimento global e em proveito de todos. Sendo uma decisão individual, carece de apoio coletivo e de quem está disponível para nos acompanhar nesta missão. Apesar de, estatutariamente o órgão ser o de diretor, a função é exercida em equipa. Estarei sempre grato à disponibilidade, dedicação e confiança da Prof.ª Doutora Joana Santos, com quem constituímos a Direção da FCHS. 

PA: Estamos há dois anos no meio de uma pandemia que obrigou a que o sistema de ensino sofresse grandes transformações. De que forma reagiu, enquanto professor e agora como diretor, a esta pandemia e às alterações que foram feitas ao longo do tempo?  

SV: A entrada das primeiras restrições no sistema educativo coincidiu, curiosamente, com o momento em que assumi as funções de Presidente do Conselho Pedagógico da FCHS. Como professor, estou convicto que terei reagido de modo idêntico aos demais, primeiro com ansiedade e preocupação e, depois, com um acreditar de que seríamos capazes de fazer algo em benefício das aprendizagens.  É da maior justiça afirmá-lo que todos juntos fomos capazes de fazer muito, nomeadamente, professores, funcionários, estudantes e as suas famílias. Na UAlg e, por inerência na FCHS, em cinco dias, dois dos quais de fim de semana, passámos de ensino presencial universal para um ensino remoto em todos os cursos. Estou em crer que esta rica experiência que um percalço da vida coletiva nos impôs, permitiu extrair três grandes evidências: i) ao nível individual, cada um de nós enquanto pessoa, salientou a nossa capacidade de ajustamento pessoa-ambiente, transversal a diversos estatutos, papéis, natureza e dimensão dos contextos; ii) ao nível profissional, no caso da atividade de ensino, sobressaiu a importância e natureza da relação pedagógica presencial, como o imprescindível território afeto-cognitivo-comportamental do processo de ensino-aprendizagem; iii) enquanto professor, relevou como a utilização de diferentes formas de interação professor-aluno pode ser benéfica para a diversidade e riqueza das aprendizagens. 

PA: Esta fase atípica em que vivemos, incentivou a realização de webinares, formações online e a participação em congressos e reuniões científicas por todo o mundo. Na sua opinião, esta “evolução” no sistema de ensino pode trazer melhorias para o futuro, mesmo num mundo já sem as restrições da pandemia?  

SV: O recurso a ferramentas online, para a realização de reuniões científicas e formações de diversa tipologia, expandiu exponencialmente as oportunidades de acesso à ciência e aos seus nomes mais relevantes. É nossa convicção que esta experiência deixou marcas na forma como vamos, ou já estamos, a organizar os eventos científicos, com realce para as modalidades mistas. Esta estratégia trará óbvios benefícios para o ensino, quer pela facilidade com os estudantes podem aceder a mais oportunidades de formação, quer pela agilidade com que podemos trazer “convidados” para as aulas. Uma outra consequência, que já está a ser implementada no nosso campus, consiste na expansão digital da capacidade das salas, permitindo que a aula decorra, simultaneamente, de forma presencial e remota. A acessibilidade a estes recursos digitais trouxe, também, alterações ao nível da gestão e de provas académicas, que admito venham a manter-se para além do fim das restrições. 

PA: A FCHS tem um impacto internacional muito alargado, com redes de trabalho estabelecidas em vários pontos do globo e também com concursos especiais para estudantes internacionais que têm a oportunidade de estudar na instituição. De que forma a internacionalização da Faculdade é importante para dar uma maior visibilidade ao Ensino praticado em Portugal? 

SV: A internacionalização é hoje uma dimensão obrigatória a qualquer instituição de ensino superior, e a interculturalidade que daí advém enriquece a experiência de cada um, quer seja enquanto estudante, docente ou investigador. No caso da FCHS, tem ocorrido um impacto significativo, nomeadamente na dimensão “incoming”, o que acrescentar valor ao ambiente de formação dos nossos estudantes nacionais e projeta a instituição para diversos países. Porém, ainda há um longo caminho a fazer para o incremento das experiências de “outgoing”. O nosso saldo é exageradamente deficitário, recebemos muitos mais estudantes do que alunos nossos vão usufruir de experiências no exterior. A relevância da interculturalidade está, ainda, refletida numa reformulação que efetuámos a um dos cursos de 1.º ciclo, passando-se a oferecer o curso de Línguas e Comunicação Intercultural. 

Laura Ferreira – Aluna do doutoramento em Psicologia

A Faculdade de Ciências Humanas e Sociais (FCHS) da Universidade do Algarve tem, na sua designação, duas palavras que a adjetivam muito bem – Humanas e Sociais. Estudar nesta “casa” desde o 1º ciclo (Licenciatura em Psicologia), passando pelo Mestrado em Psicologia Clínica e da Saúde (2º ciclo) e integrando agora o 3º ciclo (Doutoramento em Psicologia) permite-me afirmar com segurança que essas duas caraterísticas estão muito patentes na conduta institucional, dos profissionais docentes e não-docentes e na mensagem que se procura transmitir aos alunos. A FCHS é Humana, em si mesma, porque existe uma preocupação com o bem-estar dos alunos enquanto pessoas singulares, com problemáticas e questões idiossincráticas. A título de exemplo, é sediado na FCHS o Serviço de Psicologia da Universidade do Algarve, uma unidade de prestação de cuidados de saúde para a comunidade geral, que oferece aos estudantes serviços de Psicologia em distintas valências. Além disso, são regulares as vezes em que, entre pares, os alunos apontam a proximidade com os professores como um dos fatores mais importantes da sua experiência académica – e eu reitero essa opinião. As boas relações tornam-nos ainda mais humanos, facilitam até os caminhos mais turbulentos – e eu pude sempre encontrar esse cuidado nesta instituição. Nesse seguimento, a FCHS é também verdadeiramente Social pois existe um ambiente académico positivo entre todos os intervenientes, uma formação pensada para auxiliar os alunos na transposição dos conhecimentos teóricos à realidade prática do mercado de trabalho e, ainda, algumas oportunidades de prossecução de uma carreira investigativa, com diferentes Centros de Investigação e possibilidades de concorrer a bolsas de financiamento. Posto isto, a minha experiência enquanto aluna tem sido bastante positiva e recomendo a todos aqueles que se interessem pelos cursos desta faculdade. Se repararem, mais acima chamei “casa” à FCHS. E não foi por acaso. É, para mim, uma segunda casa, com todos os atributos que isso inclui. Para mim e para muitos outros que por aqui passam.

PA: Nos últimos anos, a investigação na FCHS tem tido um grande desenvolvimento, com um aumento significativo no financiamento por parte da Fundação para Ciência e a Tecnologia (FCT) e de outras instituições nacionais e estrangeiras. Como funcionam os programas e projetos de investigação apoiados e promovidos pela Faculdade? Quem pode participar nestes projetos? 

SV: A investigação da FCHS tem tido o reconhecimento de diversas entidades, nacionais e internacionais. Nos últimos meses são de realçar os três projetos do Centro Interdisciplinar de Arqueologia e Evolução do Comportamento Humano (ICArEHB) aprovados pelo European Council Research (ERC), no valor global de 6,5 milhões de euros. Esta é uma situação singular num centro com a dimensão do ICArEHB e na Universidade do Algarve, que muito nos orgulha, mas que também serve de incentivo e mobilização para investirmos mais em submissões de candidaturas. Os nossos docentes estão integrados, na sua maioria, em centros de investigação avaliados com muito bom e excelente, e é através dos centros que integram que submetem os seus projetos de investigação. Em função da natureza do projeto e do seu plano de trabalho há projetos em que podem participar docentes, investigadores, e/ou estudantes, nomeadamente de cursos de mestrado e de doutoramento. Outro aspeto a realçar ao nível da investigação e desenvolvimento, resulta da amplitude de áreas disciplinares da faculdade. Para além do centro já mencionado, as unidades de investigação incluem mais dois Centros de Investigação sediados na UAlg (o Centro de Investigação em Educação de Adultos e Intervenção Comunitária – CEAD; o Centro de Investigação em Artes e Comunicação – CIAC; e dois polos de Centros de outras Instituições de Ensino Superior (Centro de Investigação em Psicologia – CIP/UAlg, e Centro de Estudos em Arqueologia, Artes e Ciências do Património – CEAACP/UAlg).  

PA: Qual é o papel da Faculdade no empreendedorismo regional e na sociedade? 

SV: Há uma estreita relação da FCHS com a comunidade que tem expressão na atividade letiva, na prestação de serviços, na investigação e na dinamização iniciativas conjuntas. Por exemplo, ao nível das artes, são diversas as atividades de natureza cultural que são realizadas com a participação de diversas autarquias; ao nível da psicologia, o Serviço de Psicologia da Universidade do Algarve presta respostas a nível individual ou institucional para diversas entidades. Importa denotar que estas respostas são transversais às diversas áreas científicas da faculdade. 

PA: De que modo a FCHS se diferencia das demais instituições de ensino da mesma área e quais são os pontos que destacaria a quem possa estar interessado em frequentar um dos vossos cursos? 

SV: A FCHS é uma faculdade de pequena dimensão onde se valoriza a proximidade entre todos os membros da comunidade educativa, e onde, pela natureza das áreas disciplinares que agrega, os estudantes têm oportunidade de interagir com pessoas de outros domínios científicos e com diferentes experiências, trajetórias e interesses. A heterogeneidade do contexto torna a experiência de vida universitária mais rica e robusta, num clima interpessoal que alia compromisso profissional com afetividade positiva. 

PA: Qual é a visão desta nova direção para o próximo ano letivo e para o futuro da Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da Universidade do Algarve? 

SV: A Faculdade de Ciências Humanas e Socias organiza-se em dois departamentos, o de Psicologia e Ciências da Educação e o de Artes e Humanidades. Temos um conjunto alargado de cursos na área das Artes, Arqueologia, Ciências da Educação, Literatura, Línguas e Comunicação, Património e Psicologia. Assim, por inerência das áreas científicas que agrega, esta Faculdade é o cerne do estudo e da interpretação do comportamento. Quer em termos da sua visão mais linear, enquanto Faculdade que integra a ciência que estuda o comportamento humano e as suas interações com o ambiente físico e social, incluindo as que se relacionam com a formação e a educação em diversos contextos e ao longo de diferentes estádios da vida; quer como Faculdade que se dedica à compreensão do estudo do comportamento como expressão artística; como ferramenta de comunicação intercultural, como produção literária ou, mais atenta, também, ao perspetivar aquilo que terá sido o comportamento dos nossos antepassados, o que nos ajuda a entender o presente, bem como a cuidar do que veio a tornar-se património.  

É nosso propósito, direção da FCHS, fortalecer o papel da Faculdade como instituição positiva, promotora de um clima relacional assente nas possibilidades de realização pessoal e promoção da saúde psicológica individual, na satisfação coletiva e de bem-estar e no cumprimento da função conferida a uma instituição de ensino superior e de investigação. Para que tal se concretize, importa que tenhamos em consideração aspetos, como: cuidar da saúde mental dos membros da nossa comunidade; abertura da faculdade as novos públicos e respostas de ensino; atenção às práticas pedagógicas utilizadas. 

Humberto Veríssimo – Aluno do doutoramento em Arqueologia

No âmbito de uma entrada tardia para o Ensino Superior, a Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da Universidade do Algarve, foi o berço da minha formação académica, sendo a mesma dotada de um corpo docente pautado pela dedicação e excelência na transmissão do conhecimento. A Faculdade de Ciências Humanas e Sociais tem sido desde 2013 o local escolhido para o realizar de um projeto de vida, o qual neste momento vai no Doutoramento em Arqueologia, uma das áreas com grande representatividade e prestígio na Unidade Orgânica, e com grande visibilidade publica devido aos projetos em desenvolvimento. No decorrer da minha formação há vários aspetos a referir: todas as oportunidades de crescimento proporcionadas pelos docentes, sobretudo através da incorporação de estudantes em projetos de investigação; a elevada exigência na produção de novos conhecimentos acerca do passado humano; e o incentivo para a criação das bases sólidas para as futuras carreiras profissionais. A qualidade do ensino, o profissionalismo do corpo Docente e não Docente, o sentimento de estar em casa por assim dizer, fazem com que a Faculdade de Ciências Humanas e Sociais tenha sido e continue a ser o local de eleição para a formação dos futuros cientistas Humanistas.

Deixe um comentário

Outra Perspetiva

Avanços e Inovações na Saúde

A Faculdade de Ciências da Saúde (FCS) da Universidade da Beira Interior (UBI), enraizada na Covilhã desde 1998, é um...

Uma Cultura de Humanidades

Criada em setembro de 2000, a Faculdade de Artes e Letras (FAL) da UBI localiza-se nas antigas instalações da Real...

Ciências Sociais e Humanas no caminho da excelência

A Faculdade de Ciências Sociais e Humanas (FCSH) da Universidade da Beira Interior (UBI) é um espaço vibrante de aprendizagem,...

No Caminho da Investigação do Desenvolvimento

A Faculdade de Engenharia está organizada em cinco departamentos: Departamento de Ciência e Tecnologia Têxteis, Departamento de Ciências Aeroespaciais, Departamento...

Faculdade de Ciências: 50 anos a reinventar o fascínio das Ciências

A Faculdade de Ciências (FC) da Universidade da Beira Interior (UBI) agrega os Departamentos de Física, Matemática e Química e...