A especialização inteligente e a sustentabilidade do setor agroalimentar pelas mãos do GreenUPorto
Com a missão de contribuir para o desenvolvimento científico e tecnológico e para a transferência de conhecimento agroalimentar e ambiental, o GreenUPorto – Centro de Investigação em Produção Agroalimentar Sustentável é pioneiro no contexto de especialização inteligente em Portugal, como um centro de investigação focado principalmente na cadeia de valor da horticultura.
Perspetiva Atual: O GreenUPorto é um Centro de Investigação em Produção Agroalimentar Sustentável integrado na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto. Quais são os principais objetivos e a missão desta unidade?
Ruth Pereira: O GreenUPorto tem um vasto leque de objetivos que consubstanciam a sua missão enquanto UI&D e que procuram promover a especialização inteligente e sustentabilidade do setor agroalimentar, em particular da horticultura, através da integração e transferência de resultados de investigação de elevado nível, e do contributo para a formação pós-graduada de uma nova geração de profissionais no setor. O GreenUPorto acolhe muitos bolseiros, estudantes de mestrado e de doutoramento na área das ciências agrárias, biologia e ambiente, ou outras áreas relacionadas. Desta forma colabora com a Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, no rejuvenescimento do mercado de trabalho agroalimentar com a formação de pessoal especializado que será capaz de produzir mais com menos recursos (água, fertilizantes, pesticidas) e de produzir produtos diferenciados de elevado valor acrescentado, com grande competitividade em mercados externos altamente exigentes. O GreenUPorto procura ainda uma forte interação com um leque alargado de stakeholders e com as autoridades públicas regionais, nacionais e europeias de forma a contribuir para a implementação das políticas públicas, objetivos e estratégias de promoção do setor. Ainda neste contexto, o GreenUPorto e o CITAB – Centro para a Investigação e Tecnologia das Ciências Agroambientais e Biológicas uniram-se para a criação do Laboratório Associado, Inov4Agro – Instituto de Inovação, Capacitação e Sustentabilidade da Produção Agroalimentar (https://inov4agro.pt), o qual foi reconhecido pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia, tendo iniciado a sua atividade em janeiro de 2022. O Inov4Agro pretende unir esforços dos seus centros de investigação, para ter um papel mais interventivo na região Norte do país, e contribuir para suavizar as assimetrias regionais já tão bem identificadas, entre o litoral e os territórios de baixa densidade do interior.
PA: Quais são as áreas específicas de enfoque do GreenUPorto?
RP: A investigação feita no GreenUPorto organiza-se em três linhas temáticas, nomeadamente: Linha 1 – Biologia das Plantas, Produção e Pós-colheita; Linha 2 – Qualidade Ambiental e Avaliação de Risco; Linha 3 – Processamento, Valorização, Consumo e Nutrição humana. A nossa equipa de investigadores integrados é uma equipa multidisciplinar que inclui agrónomos, biólogos, engenheiros alimentares e nutricionistas com fortes valências em biologia e fisiologia das plantas, biotecnologia, avaliação e proteção da qualidade ambiental (nomeadamente solos, águas), avaliação de risco de solos contaminados e de novos compostos químicos (e.g. pesticidas), avaliação das preferências do consumidor, entre outras. Estes investigadores trabalham em conjunto com outros parceiros nacionais e internacionais de forma a dar um contributo positivo para a transição para uma agricultura com maior sustentabilidade.
PA: Consegue destacar alguns exemplos de projetos ou iniciativas desenvolvidas pela equipa do GreenUPorto que tenham contribuído para a promoção da sustentabilidade?
RP: Todos os projetos em que o GreenUPorto está envolvido visam contribuir de forma significativa, direta ou indiretamente, para a sustentabilidade da produção agroalimentar nas suas três vertentes: ambiental, económica e social. São vários os exemplos de projetos que podem consultar na nossa página (https://www.fc.up.pt/GreenUPorto/pt/). A título de exemplo, podemos destacar o projeto Coppereplace, (SOE4/P1/E10000) um projeto financiado pelo programa INTERREG SUDOE, a terminar agora em fevereiro, que teve como grandes objetivos contribuir para a redução da utilização de cobre na viticultura, ou para arranjar produtos alternativos aos fungicidas com cobre. O cobre é um elemento que começa a causar grandes preocupações a nível europeu, por ser um dos poucos produtos autorizados na produção biológica, e também muito usado na produção convencional. Apesar de ser um metal essencial, o cobre a níveis elevados é tóxico e pode representar riscos para as comunidades biológicas terrestres e aquáticas, assim como para a saúde humana. As atividades do Projeto Coppereplace visaram não apenas a sustentabilidade ambiental, como também a viabilidade económica e social dos novos protocolos fitossanitários, que foram testados em três vinhas, em Portugal e em França, das empresas Sogrape, Gerard Bertrand e Vignerons Bio Nouvelle Aquitaine. Além de se avaliar a eficácia dos tratamentos no controlo da pressão fúngica, foi igualmente avaliada pela ADVID a viabilidade económica e social dos mesmos. De facto, para as empresas, todas estas novas soluções têm de ser economicamente sustentáveis, pois se não o forem, dificilmente serão adotadas, o que é compreensível. Ainda com elevada relevância para a viticultura, refira-se ainda o projeto europeu VISCA – Vineyards´ Integrated Smart Climate Application, que integrou universidades e empresas europeias e que visou criar um Sistema de Suporte à Decisão (DSS) capaz de ajudar os vitivinicultores europeus a ter soluções de adaptação às alterações climáticas. Também no contexto do combate às alterações climáticas, saliente-se o projeto CASTANHEIRO vs ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS – o papel do stress priming e da micorrização (CC&NUTS). Este projeto foi recentemente distinguido pelo Programa Promove, da Fundação “la Caixa”, em colaboração com o BPI e em parceria com a Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT). Este projeto, que resulta de um consórcio de 3 instituições de ensino superior e uma empresa de biotecnologia da zona norte de Portugal, pretende contribuir para uma melhor gestão dos sistemas agroflorestais do parque Nacional de Montesinho – o principal hotspot de castanheiro em Portugal – tornando-os mais resilientes às alterações climáticas que já se fazem sentir no território português.
Outro projeto liderado por uma equipa de investigação do GreenUPorto com forte pendor de sustentabilidade é o BFree que foi recentemente financiado através dos Fundos Europeus para o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) para a implementação de um método inovador para o controlo biológico de doenças fúngicas de frutas e hortícolas, vindo assim reduzir a aplicação de fungicidas e o teor de resíduos dos mesmos nos produtos e no ambiente. Este consórcio integra ainda o INIAV, COTHN-CC, FNOP e a Proenol, para além de um total de 10 Organizações de Produtores/Produtores Individuais espalhados por todo o território nacional.
Numa perspetiva de economia circular, o projeto S4Hort, financiado pela CCDRN (NORTE-01-0145-FEDER-000074), com fundos Norte2020 e Portugal2020, procura avaliar a utilização de substratos de culturas sem solo, em estufa, para incorporação em solo, no fim de vida destes materiais. Estes resíduos, podem ser particularmente importantes para aumentar o carbono orgânico dos solos, e melhorar as propriedades dos solos. A incorporação de carbono, além de melhorar as propriedades de muitos dos nossos solos que se encontram degradados, contribui para mitigar o papel da agricultura nas emissões de gases com efeitos de estufa. Atualmente, a preocupação com o empobrecimento dos solos europeus, que se dá grande importância à sua caracterização, e mapeamento relativamente ao seu conteúdo em carbono orgânico. As novas tecnologias, nomeadamente a utilização de espectrómetros montados em drones, ou a utilização de dados espectrais e hiperespectrais de satélite para mapeamento dos solos (carbono orgânico e outras propriedades) é mais uma área de investigação em grande crescimento. O projeto PHENET (HORIZON-INFRA-2022-TECH-01-01, ref. 101094587), coordenado pelo INRAE em França, no qual o GreenUPorto é parceiro, tem, entre muito outros objetivos, contribuir para a construção e validação de bibliotecas de dados espectrais que contribuam para tornar esta abordagem aplicável em larga escala, par monitorização dos solos.
Na atividade agrícola existem de facto muitos processos que podem ser melhorados, tendo um forte impacto na promoção da sustentabilidade. A redução de produtos fitofarmacêuticos é outros dos grandes desafios da agricultura. Com recurso à nanotecnologia, é possível criar produtos, ou formulações novas, que aumentem a libertação controlada, a eficácia dos princípios ativos, a sua degradabilidade e subsequentemente contribuir para reduzir a sua aplicação. Isto são desafios que foram abordados pelo projeto Safe(N)Pest, financiado pela FCT que terminou recentemente, com resultados que foram considerados muito positivos pelos avaliadores do relatório de projeto. Ainda na persecução de alternativas mais sustentáveis para reduzir o uso de cobre e outros pesticidas na proteção de culturas, insere-se o projeto EOIS-CropProt, recentemente concluído, e que foi fruto da colaboração de três instituições nacionais (FCUP, Univ. Minho, Univ. Açores) e financiado pelo programa COMPETE 2020. No âmbito desse projeto foram estudados vários produtos vegetais e a sua incorporação em nanoformulações eficazes no controlo de vários fitopatógenos, insetos e um fitonemátode que afetam culturas como o tomateiro, a batateira, o milho e/ou colheitas armazenadas.
A importância do solo e da sua diversidade biológica, na qualidade e segurança da produção agroalimentar, é hoje amplamente reconhecida. Contudo, e numa perspetiva da “estratégia do prado ao prato” isso exige mais conhecimento científico que nos permita compreender e demonstrar as complexas interações entre a diversidade do solo, e a qualidade dos alimentos que produzimos. O projeto WheatBiome (HORIZON-CL6-2022-FARM2FORK-01-09, ref. 101084344) que se iniciou no passado mês de janeiro, e que envolve diversos parceiros europeus, incluindo o GreenUPorto, e coordenado pelo Requimte, um outro Centro de Investigação de Excelência da Universidade do Porto, vai dar um forte contributo na compreensão da relação entre o microbioma do solo e da rizosfera de cultivares de trigo, com a qualidade do grão de trigo produzido.
Numa perspetiva mais de final da fileira, refira-se a liderança, por investigadores do GreenUPorto, das atividades relacionadas com a perceção do consumidor e análise sensorial associadas a projetos como o mobilizador cLabel+, em colaboração com a indústria agroalimentar, o projeto Hit-C, associado ao consórcio VIIAFOOD, financiado no âmbito do PRR, bem como o projeto europeu SUSINCHAIN – Sustainable Insect Chain, financiado no âmbito do H2020.
PA: Quais são os principais desafios que o GreenUPorto enfrenta nesta tentativa de promover a sustentabilidade?
RP: Diversos e semelhantes aos de todos os outros Centros de Investigação na área da agricultura, quer nacionais, quer Europeus.
O favorecimento da ciência aplicada, em detrimento da ciência fundamental, é um grande risco. Há muita falta de conhecimento em muitas áreas. Temos de compreender os mecanismos, as interações entre um vasto número de variáveis, muitas com comportamentos estocásticos. Precisamos de recolher uma grande quantidade de dados, para gerarmos as evidências científicas necessárias que nos permitam conduzir os utilizadores finais a adotar práticas mais sustentáveis, sem receios dos impactos que as mesmas possam ter na sustentabilidade dos seus negócios. O GreenUPorto conta com o contributo de investigadores que se dedicam essencialmente à investigação de processos moleculares e celulares. O conhecimento adquirido através do uso de plantas modelo, como Arabidopsis thaliana e Nicotiana tabacum, é depois traduzido e aplicado em plantas de interesse económico, particularmente plantas de cultivo. Este grupo de investigadores estuda, por exemplo, processos de transporte proteico considerados essenciais para o desenvolvimento, sobrevivência e adaptação das plantas que depois pode ser transferido aos ramos mais aplicados de investigação dentro e fora do GreenUPorto. Tendo como modelo as proteínases aspárticas vegetais de Cardo, que são utilizadas na produção do queijo da Serra da Estrela, um produto regional de grande valor, e com recurso a técnicas de biologia celular, molecular e de microscopia ótica e eletrónica, têm vindo a caracterizar estas enzimas a nível da expressão, biogénese e localização, contribuindo, assim, para o aumento do conhecimento científico dos mecanismos subjacentes aos principais processos celulares.
A formação e o rejuvenescimento dos profissionais do setor agroalimentar de forma que estes estejam preparados para incorporar as novas tecnologias ao dispor, em benefício de uma produção alimentar mais sustentável. Os produtores e os stakeholders estão cada vez mais despertos para as problemáticas, estão disponíveis para em conjunto testarmos e validarmos novas estratégias, novos produtos e a incorporar os resultados da investigação, mas muitas vezes acabamos todos por ser confrontados com constrangimentos de diversos tipos que nos impedem de avançar. Ainda que tenha havido uma tendência crescente, para aumentar a formação dos trabalhadores deste setor, o que é certo é que a agricultura, a qualidade dos solos, entre outros temas, continuam a ser muito pouco atrativos para os jovens, sobretudo porque receiam os desafios que a agricultura tem de enfrentar, o que reduz a atratividade das carreiras neste setor. Algumas destas temáticas também não são devidamente abordadas no ensino básico e secundário. Os curricula destes níveis de ensino requerem fortes ajustes para os adaptar ao mundo em mudança, e para formar novas gerações mais ajustadas ao dinamismo e aos desafios do mesmo, e para percecionarem a relevância da agricultura e dos recursos dos quais ela depende para a sustentabilidade humana.
As dificuldades causadas pelos fenómenos climáticos de elevada imprevisibilidade e outros desafios que a humanidade está a enfrentar por um lado exigem, mas, por outro lado, dificultam a transição para a sustentabilidade. A título de exemplo, é reconhecida a importância, e há legislação que suporta uma utilização sustentada de pesticidas, contudo, por outro lado há uma deslocalização de pragas e doenças e há uma maior imprevisibilidade de fenómenos climáticos que aumentam a incidência de doenças, entre outros aspetos.
As economias de mercado que favorecem a oferta de produtos mesmo fora das suas épocas normais de produção, ou que privilegiam produtos com cadeias de fornecimento mais longas do que produtos endógenos. O consumidor já percecionou a relação entre a qualidade dos alimentos e a sua saúde, mas nem sempre tem o conhecimento e a informação necessária para fazer as escolhas certas. O percurso a fazer para formar os consumidores a terem hábitos alimentares mais sustentáveis e mais saudáveis, é ainda longo.
E por último, um grande desafio transversal a todos os centros de investigação nacionais e que também já se faz sentir a nível europeu, reside na fixação de massa crítica jovem. A carreira de investigação continua a caracterizar-se por uma carreira de grande precariedade e por essa razão tem vindo a perder atratividade para os jovens, o que nos pode fazer perder recursos de elevada qualidade.
PA: Como é que a comunidade local e nacional se pode envolver com os esforços do GreenUPorto para promover a sustentabilidade?
RP: O GreenUPorto tem uma localização privilegiada. Está localizado na região Norte, essencialmente na região Entre-Douro e Minho, e no Douro, regiões onde a vitivinicultura é da maior importância, sendo a primeira destas regiões uma região hortícola por excelência. Portanto, tem todas as condições para se envolver com os produtores locais, com as escolas e chegar ainda mais longe através da formação de estudantes que posteriormente levam consigo o conhecimento e a experiência que precisam para criarem projetos de negócio mais sustentáveis ou para serem profissionais mais qualificados no setor. A comunidade pode envolver-se com o GreenUPorto partilhando connosco as suas preocupações e problemas, no sentido de utilizarmos as nossas competências para em conjunto resolvermos problemas concretos. Pode solicitar-nos formações específicas mais orientadas às lacunas de conhecimento que identificam como relevantes, a solicitar-nos ações de formação para crianças das escolas do ensino básico e secundário, que promovam, desde muito cedo, a educação para a sustentabilidade. O PRR abriu-nos a excelente possibilidade de desenharmos cursos de formação adaptados às necessidades dos formandos, e uma vez mais o GreenUPorto agarrou esta oportunidade para promover a transferência de conhecimento para os seus utilizadores finais. Procuramos também das mais diversas formas participar dinamicamente no apoio a uma Cidadania Ativa, direcionada para um consumo mais sustentável.
PA: E relativamente ao tecido empresarial, como é que os trabalhos realizados pelos investigadores do centro podem ter efeito na forma como as empresas dos mais variados setores atuam?
RP: O GreenUPorto já conta com muitas colaborações com empresas, quer através de orientações partilhadas de dissertações de mestrado e teses de doutoramento, quer através da participação conjunta em consórcios de projetos, liderados pelas próprias empresas ou por instituições académicas. Com frequência já são as empresas que nos procuram com problemas específicos, ou com questões que os preocupa, e que querem analisar em maior profundidade, muitas vezes até para confirmarem a perceção que já construíram sobre os problemas.
Nem sempre os resultados dos trabalhos de investigação, podem ser integrados de forma imediata nas empresas, mas ao trabalharem em parceria, as empresas conseguem percecionar a natureza do conhecimento científico e perceber que muitas vezes há longos caminhos a percorrer até chegarmos a conclusões seguras, e a produtos finais que possam ser implementados.
As empresas têm um papel importante na validação das soluções, estratégias e produtos desenvolvidos, em contextos reais. São parceiros cruciais do GreenUPorto, e por isso damos grande prioridade ao estabelecimento destas parcerias.
O que se torna evidente é que as empresas reconhecem cada vez mais a importância de colaborarem com os centros de investigação, e hoje essa interação é quase um processo natural.
Deste diálogo constante com o tecido empresarial/produtivo, por vezes intermediado por instituições de charneira, como a Portugal Foods, o Colab4Food ou a ADVID, COTHN entre outros, resulta um natural encurtar dos processos de desenvolvimento e um melhor conhecimento e articulação das realidades das instituições de ensino e investigação com as entidades empresariais.
PA: De que forma se pode medir o sucesso e impacto dos estudos aqui realizados?
RP: Pela procura crescente de estudantes, para fazerem formação pós-graduada e investigação nas áreas científicas do GreenUPorto. Pelo aumento do reconhecimento do trabalho de investigação que realizamos que tem levado à crescente participação dos investigadores GreenUPorto em consórcios nacionais e europeus, liderados por reconhecidos centros de investigação existentes em toda a Europa. A nossa rede de colaborações internacionais aumentou exponencialmente desde a criação do GreenUPorto, em 2020. Pela nossa crescente interação com produtores e outros atores do tecido empresarial. Mas queremos chegar mais longe. Queremos ter um papel ativo nas decisões políticas, quer a nível nacional, quer europeu e a esse nível também temos vindo a tentar aumentar a nossa participação em diferentes grupos de trabalho.
PA: Pode falar-nos de quaisquer parcerias ou colaborações que o GreenUPorto tenha estabelecido para alcançar os seus objetivos?
RP: Muitas, integramos consórcios com universidades/centros de investigação europeus reconhecidos na área das ciências ambientais e agroalimentares. Estes consórcios permitem mantermo-nos na linha da frente na inovação europeia nestas áreas de conhecimento. Temos colaborações com organizações como a FAO, a ISO onde aplicamos o conhecimento desenvolvimento. Tal como já foi referido, estabelecemos uma parceria com o CITAB, da Universidade de Trás-os-Montes, para constituir o Laboratório Associado Inov4Agro, para contribuirmos de forma muito significativa para a especialização da região Norte e para promoção das carreiras de investigação nas áreas científicas que nos caracterizam.
Temos também uma importante parceria com diversas universidades europeias, e com parceiros empresariais, com quem estamos a criar um curso de mestrado em agricultura de precisão (Projeto ERASMUS+, designado por Terratech). Queremos contribuir para formar gerações futuras aptas a fazer a transição para uma agricultura de precisão e por isso mais sustentável.
O nosso objetivo é irmos além-fronteiras europeias, participámos num projeto europeu designado VITAGLOBAL que teve como objetivo a transferência de conhecimento na área da Vitivinicultura e do Enoturismo de universidades europeias para universidades da Argentina, Chile, Uruguai, África do Sul e Geórgia.
Temos uma rede extensa de parcerias nacionais com outras universidade e centros de investigação, e até autarquias, que nos permitem formar consórcios multidisciplinares que melhor conseguem responder a problemas complexos, dentro do território nacional. A título de exemplo, e sendo Portugal um país que tem vindo a ser tão afetado por fogos florestais, uma parceria com Centros de Investigação também de reconhecida excelência, do Universo UPorto como o I3S e o CIBIO, e em colaboração com a autarquia de Mortágua, desenvolveu um sistema de reabilitação de solos queimados baseado na inoculação de cianobactérias e microalgas nativas dos solos, com o objetivo de reduzir o risco de erosão no pós-fogo, e de promover a recuperação das comunidades biológicas. Após os ensaios laboratoriais o sistema foi testado em campo, e através da utilização de veículos aéreos não tripulados (UAV), estabeleceu-se um protocolo de monitorização da recuperação do ecossistema após fogos.
PA: Um centro de investigação como o GreenUPorto necessita de apoios em vários aspetos para conseguir alcançar os seus objetivos. Que parcerias ou colaborações mais contribuem para o desenvolvimento do centro?
RP: Todas as parcerias são muito relevantes. Desde as parcerias com centros de investigação internacionais e nacionais, que nos permitem formar consórcios capazes de aceder a fundos competitivos, e de formar equipas multidisciplinares que podem conceptualizar as abordagens complexas e inovadoras necessárias aos problemas que enfrentamos.
Parcerias com empresas que nos permitem valorizar o nosso conhecimento, parcerias com todos os players do setor agroalimentar, entre outras que fui descrevendo.
PA: Como é que as pessoas podem ficar a conhecer as iniciativas organizadas pelo GreenUPorto?
RP: Através da nossa página (https://www.fc.up.pt/GreenUPorto/pt/), onde podem consultar os nossos projetos, os eventos que organizamos, interessantes para grupos específicos de stakeholders ou para públicos mais alargados. Para estes fica o convite para participarem ativamente.
PA: Para este novo ano, que planos estão na mente da direção da organização?
RP: Vamos ter um novo processo de avaliação, portanto este ano pretendemos focar-nos nisso e consolidar a classificação de “Excelente”, que foi atribuída ao GreenUPorto: reforçar a nossa ligação ao CITAB, algo que já estamos a fazer de forma muito empenhada. Provar que juntos somos de facto capazes de responder aos desafios colocados aos LAs e ao seu papel na sociedade e na comunidade científica nacional.