Faculdade de Ciências da Universidade do Porto responde com inovação à pandemia de COVID-19

Em tempos caracterizados pela incerteza, a Universidade do Porto pautou-se por um modelo de atuação que foi sendo ajustado mediante os pareceres lançados pela Direção Geral de Saúde (DGS).

Seguindo as diretrizes que guiaram a conduta da sociedade, com o intuito máximo de preservar a saúde pública, a Universidade do Porto (U.Porto) foi atualizando a sua intervenção às alterações diárias do quadro pandémico em Portugal.

À luz deste entendimento mobilizaram-se as unidades orgânicas da U.Porto, apesar de “organismos autónomos em termos financeiros, administrativos, científicos e pedagógicos”. Cristina Freire, diretora da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP), valoriza esta reação baseada na informação: “Em situações de crise tem que haver uma hierarquia de comando, as pessoas não podem tomar decisões aleatórias. Houve uma pressão social muito grande, quase que nos forçavam a fechar a faculdade, mas o reitor da U.Porto só tomou a decisão de suspender o ensino presencial após indicação da DGS”.

Perante a iminência desta decisão, a FCUP imediatamente transferiu toda a sua atividade para o modelo de trabalho à distância. A recente contratação de um colaborador para o gabinete de tecnologias educativas revelou-se imprescindível na concretização desse passo.

Organismo com um grande número de cursos, que se traduz numa pujante diversidade científica, a competência para as tecnologias educativas já enriquecia o currículo de muitos docentes que tinham parte das suas unidades curriculares no sistema moodle, facto que facilitou todo o processo de transição. Aos docentes com pouco contacto com as plataformas digitais foi prestado o acompanhamento necessário, através de ações de formação acompanhadas pelo gabinete de tecnologias educativas. Este processo, realizado em estreita colaboração com o gabinete de tecnologias educativas da U.Porto, possibilitou que, “em uma semana, uma grande percentagem de docentes estivesse a trabalhar nas suas unidades curriculares à distância”.

No momento em que se percebeu que esta situação se iria prolongar até ao final do semestre, coincidindo com a semana de férias da Páscoa, o interregno na atividade letiva permitiu que os professores se focassem em transferir todo o seu material de ensino para as plataformas digitais e ponderassem novos modelos de avaliação, como a avaliação contínua. Todas as provas académicas e concursos de docentes tiveram que ser “relegislados” para o modelo digital, num período em que a atividade académica da Faculdade nunca parou. Relatório de contas e de atividades do ano anterior, orçamentos, validações, tudo foi efetuado online. Inclusive a eleição de um diretor de departamento, o que exigiu a criação de um programa informático de raiz para responder a questões legais como a confidencialidade do voto. “É esta postura de resolução de problemas que está subjacente à atitude que todos tomámos no combate ao vírus”, enaltece Cristina Freire.

Em meados de abril, já se vislumbrava o término do estado de emergência, pelo que o conselho executivo da FCUP passou a equacionar as medidas necessárias para a abertura num “cenário de desconfinamento parcial e gradual”. A autonomia relativamente à reitoria da U.Porto permitiu-lhe antecipar a aquisição de reagentes químicos e materiais de proteção individual e global. E, usando os recursos técnicos e humanos disponíveis, a instituição criou de raiz um plano normativo com sinalética própria – de grande impacto visual –, que está replicado nos seis edifícios que integram a FCUP, com as alterações em termos de trajetos, sinalética, doseadores de gel alcoólico e restante material de limpeza e desinfeção.

Paralelamente, a reitoria criou uma task force que foi replicada dentro de cada faculdade. A FCUP já tinha uma comissão de higiene e segurança que transformou numa task force composta por um elemento de cada departamento, um elemento do conselho executivo, um funcionário, o presidente da associação de estudantes e um estudante. Este organismo foi chamado a intervir no processo de operacionalização de todas as medidas criadas.

Retorno em segurança

Desta forma, quando foi dada a possibilidade de abertura de portas, a partir do dia 4 de maio, já tudo estava organizado para o retorno da comunidade académica em segurança. A primazia foi dada à investigação, dado que todos os trabalhos, “muitos com deadlines apertados”, haviam sido suspensos: dissertações de mestrado, teses de doutoramento, estágios em ambiente empresarial, projetos de investigação, e ainda aulas laboratoriais. voltaram ao ambiente académico com as naturais reservas do processo de desconfinamento gradual. Cada estudante passa agora a ter o seu posto para trabalhar com as devidas distâncias de segurança e todos os elementos utilizam máscara. Uma aula laboratorial onde, em condições normais, estariam 20 alunos, comporta agora 7, com  presença facultativa. Em alternativa, o material da aula composto por fotografias e respetivas legendas com os passos da experiência está disponível online, “mas nada como colocar as mãos na massa”, lança Cristina Freire. “O ensino universitário não passa apenas por concluir uma série de disciplinas. O ensino universitário perde muito se não houver contacto, se não houver presença, diálogo entre o docente com o estudante, o estudante com outro estudante, muitas coisas entram por osmose, porque estamos juntos. É dessa forma que se constrói um espírito de Escola”.

Está já em curso a época de exames, que foi alargada até 31 de julho, para permitir o escrupuloso cumprimento das distâncias de segurança: a grande maioria dos exames são presenciais. Apenas alguns estão a ser realizados online, tendo a FCUP disponibilizado a biblioteca para que os estudantes, com menores condições de acesso aos meios tecnológicos, possam realizar as provas seguindo todas as exigências. Refira-se que a biblioteca da FCUP nunca fechou as suas portas, tendo sido “uma âncora fundamental para a continuidade do trabalho de docentes e discentes”.

Perspetivando o próximo ano letivo

Trabalhando com cenários, a U.Porto organiza o regresso às aulas no ano letivo 2020/21. O regime semi-presencial revela-se o mais equilibrado, pois mantém aulas teóricas à distância, através de plataformas informáticas, e, no caso das faculdades com ensino prático, as aulas teórico-práticas e práticas serão realizadas presencialmente.

Com especial cuidado está a ser construído o horário letivo do 1º e 2º ano, “que terão mais aulas presenciais”, por se entender imperativa a integração dos recém estudantes da FCUP no ambiente académico, que só se respira nos corredores da faculdade.

Neste sentido, anseia-se que a “vida” volte ao campus da FCUP, com a realização de iniciativas de receção ao estudante, assim como cerimónias comemorativas – como o dia da FCUP que se realiza em outubro –, cumprindo todas as regras de segurança necessárias. “Temos que nos adaptar, mas sem deixar de viver. Conhecendo o mais possível, o que é possível conhecer, mantendo um comportamento racional”, alerta a diretora da FCUP.

Tempos ricos para a atividade científica

Mesmo com o interregno da atividade presencial, a FCUP e os seus docentes estiveram sempre muito ativos na colaboração com todas as questões afetas à pandemia. Em termos institucionais, a faculdade, através de um pedido lançado à U.Porto pelos hospitais da cidade, cedeu material de proteção e desinfeção. E os docentes mostram-se muito disponíveis para marcar presença em sessões públicas de esclarecimento sobre os cuidados a ter face ao novo coronavírus. Este trabalho de união e defesa do interesse comum é realçado por Cristina Freire: “Vivemos momentos em que a sociedade percebeu que vale a pena ter pessoas que fazem investigação e que a ciência é fundamental não só a nível nacional como global. Esta questão trouxe ao de cima o valor do investimento em investigação e em ciência. Foi possível perceber que os matemáticos e a matemática têm uma função de extrema importância na sociedade. Sendo uma disciplina ‘mal-amada’ pelos estudantes, é hoje reconhecida como uma das áreas fundamentais do conhecimento, que em tempos de pandemia permite a modelação dos dados e a criação de cenários”.

Dentro do universo da FCUP muitos e variados projetos de investigação nasceram fomentados por esta pandemia, permitindo gerar investigação em várias frentes.

Reforçando a importância da matemática no combate ao vírus, Óscar Felgueiras, professor do departamento de matemática da FCUP, foi oficialmente requisitado para colaborar com a Administração Regional de Saúde do Norte na análise de dados relativos à Covid-19. O especialista da FCUP, que trabalha no estudo estatístico de doenças infeciosas, tem a missão de prever cenários de curto e médio prazo, ajudar a definir critérios na ação e contribuir na comunicação externa da mensagem que se pretende transmitir.

Numa altura em que a desinformação pode, não só levar ao perigo de novas contaminações, como à degradação da saúde mental da população, uma equipa de estudantes da FCUP desenvolveu uma solução online para combater as fake news e proteger os utilizadores em relação à quantidade de notícias que leem. Esta ideia foi desenvolvida em apenas 48 horas, na maratona de programação Hackathon EUvsVirus, uma iniciativa da Comissão Europeia, cujo objetivo passou por reunir participantes de toda a Europa para o desenvolvimento de soluções inovadoras para o combate à Covid-19. A equipa da FCUP alcançou o 5º lugar entre os 67 finalistas do tópico “Mitigação da Propagação de Fake News”.

A Adyta, uma  spin-off da U.Porto especializada em cibersegurança, que conta na sua equipa com o docente da FCUP Luís Antunes e com os alumni Luís Maia e André Baptista, está a disponibilizar gratuitamente a app Adyta.Phone, uma solução criada a pensar na proteção aos ataques informáticos de que as empresas e os trabalhadores em regime de teletrabalho podem ser alvo devido à pandemia COVID-19. 

No âmbito da investigação aplicada, a docente e investigadora Maria João Ramos lidera uma projeto que visa a descoberta de fármacos contra a protease principal do vírus da COVID-19, uma enzima que é responsável pela sobrevivência deste vírus no hospedeiro humano. O projeto é um dos 40 aprovados no âmbito do COVID-19 High Performance Computing Consortium, um consórcio liderado pela IBM e que disponibiliza supercomputadores para ajudar investigadores de todo o mundo a encontrar formas de combater a pandemia.

Agradecimento

A FCUP enaltece a parceria e espírito de resiliência dos seus colaboradores e prestadores de serviços que, em pleno estado de emergência, continuaram a marcar presença na Faculdade, permitindo que a instituição mantivesse todos os compromissos com a comunidade académica e a sociedade em geral.

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