Beatriz Lima, Diretora da FFUL

O ensino, a investigação e os planos futuros da FFUL

Com várias novidades na oferta formativa e um grande investimento na atividade de investigação e no contributo à sociedade, a Diretora da Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa, Beatriz Lima, mostra-se preparada para o próximo ano letivo.

Perspetiva Atual: Tal como qualquer vertente da área da saúde, o meio farmacêutico não para de evoluir e, por esse motivo, as instituições de ensino da área devem atualizar constantemente a sua oferta formativa e os conteúdos lecionados. Já pensando no próximo ano letivo, que cursos vão estar inseridos na oferta da FFUL? Alguma novidade?

Beatriz Lima: Estão a ser preparados vários cursos de pós-graduação, de atualização, um novo mestrado de 2º ciclo e 5 novos cursos de pós-graduação financiados pelo Programa de Recuperação e Resiliência (PRR) .

Na área das análises clínicas, liderados pela Professora Leonor Correia em colaboração com o Colégio de análises clínicas da Ordem dos Farmacêuticos, vários cursos estão a decorrer e continuarão em 2023. Para os Farmacêuticos, para além da necessária e permanente atualização profissional, a frequência destes cursos contribui para a manutenção da sua acreditação profissional pela Ordem dos Farmacêuticos.

A cosmetologia é uma área de interesse farmacêutico, muito ligada à tecnologia de preparação de produtos, que constitui uma área profissional e investigacional de interesse para profissionais farmacêuticos e estudantes do Mestrado Integrado em Ciências Farmacêuticas. Foi recentemente aprovado pela A3Es (Agência de Acreditação do Ensino Superior) o Mestrado em Cosmetologia Avançada q irá iniciar-se em 2023.

Os Cursos de pós-graduação concebidos no âmbito do PRR pretendem para aumentar o número de estudantes de pós-graduação na Universidade de Lisboa e Faculdade de Farmácia, vindos da área farmacêutica ou outra, interessados em formações multidisciplinares englobando várias Escolas.

Em 2023 serão oferecidos os seguintes cursos para os quais as inscrições se encontram, abertas: “Quality Living”, Risco Ambiental e Saúde na Transição Ecológica e Digital, Atualização de Professores em Áreas STEAM com Foco na Saúde e A Era Pós-Pandémica Covid-19 e a Preparação para Novas Pandemias.  

Na oferta de 2º ciclo já estabelecida, a FFUL oferece anualmente cinco cursos de Mestrado a saber: Análises Clínicas; Ciências Biofarmacêuticas; Engenharia Farmacêutica; Qualidade Alimentar e Saúde; Química Medicinal e Biofarmacêutica; e Regulação e Avaliação do Medicamento e Produtos de Saúde.

Em cada ano a FFUL acolhe, nestes cursos de Mestrado, cerca de 200 novos alunos, que procuram expandir as suas competências de base e adquirir especialização (ou melhorar o conhecimento já existente) em áreas que são relevantes para o posterior exercício da sua atividade profissional.

PA: Para além do ensino, a atividade da FFUL é complementada com a vertente de investigação. Como corre a investigação na FFUL e de que modo são os estudantes integrados nestes processos? Têm algum projeto em vigor ou recente que possamos destacar?

BL: Desde a sua chegada à FFUL os estudantes do Mestrado Integrado em Ciências Farmacêuticas iniciam o contacto com atividades de investigação ligadas às disciplinas que vão frequentando. Os mais interessados acabam a ligar-se a algum dos seus Professores contribuindo para os projetos de investigação em curso no instituto de Investigação residente na Faculdade, o iMED.ULisboa (Instituto de Investigação do Medicamento), que inclui  professores/investigadores da FFUL e os doutorandos nas diferentes áreas científicas, que estão na base do conhecimento de doenças várias e do ciclo de vida dos medicamentos e produtos de saúde, desde a sua conceção ao desenvolvimento, chegada ao mercado e permanência no mesmo.  

Áreas como o cancro, a SIDA a Covid-19, doenças neurodegenerativas, metabólicas, infeciosas, infecto-degenerativas, são abordadas nos mais de 25 laboratórios que integram o Instituto. Cerca de 100 projetos nacionais e internacionais estão em curso, contando com financiamentos pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT), IMI (Innovative Medicines Iniciative), Fundação la Caixa, NATO, entre outros.

De destacar o importante envolvimento, protagonismo e contributo dos investigadores do iMED durante a pandemia por Covid-19, quer através de investigação ligada à resposta imunitária às vacinas em diferentes condições, à procura de alternativas mais eficazes de imunização contra o SARS-COV-2, e, importantemente, nas campanhas de testagem durante o período de maior pressão.

PA: No ano passado, quando falou para a Perspetiva Atual, referiu que estava em curso uma ampliação das instalações da FFUL que iria permitir uma “expansão das atividades de investigação, formação pós-graduada e prestação de serviços à sociedade”. Qual o ponto de situação atual desta expansão?

BL: Infelizmente o novo edifício não foi ainda concluído devido a processos administrativos que se encontram em resolução.  Espero em 2023 ver terminado o edifício para que possamos expandir e melhorar as nossas atividades de  ensino e ao mesmo tempo amplificar a investigação no Centro do Medicamento e Saúde (CEMS).

PA: Falamos de prestação de serviços à sociedade. Qual é a ligação que a FFUL tem com a comunidade?

BL: A Faculdade presta apoios de ensino e investigação, não só no âmbito dos cursos que leciona, mas também de outras ações formativas, de interação ou mesmo de assistência a diferentes grupos da sociedade: doentes, seniores, alunos e professores do ensino secundário. Os professores têm a possibilidade de serem acolhidos na Faculdade para discutirem aspetos específicos do seu interesse. A Faculdade integra a EUPATI-Portugal (Academia Europeia de Doentes), que tem como objetivo formar doentes nos diferentes aspetos do medicamento e investigação clínica.  Docentes da faculdade lecionam cursos dedicados a seniores, em parceria com a Universidade Sénior, na área do medicamento e da saúde. Adicionalmente, é de destacar a atividade de prestação de serviços de análises clínicas especializadas, como o diagnóstico de erros genéticos do metabolismo, ou diagnóstico de infeções microbiológicas ou virais (SIDA, etc.). O contributo especializado para os Tribunais requisitando pareceres científicos em processos judiciais, ou as atividades de avaliação de medicamentos no INFARMED, EMA, entre outros, são também de destacar.

PA: A FFUL aposta na cooperação com várias entidades estrangeiras. Quais são as vantagens para a Faculdade e para a comunidade estudantil que estas colaborações podem trazer?

BL: A colaboração com entidades estrangeiras permite a expansão da ciência produzida na FFUL, mas também alarga as áreas em que a Faculdade, através de consórcios, convénios, acordos protocolados com Instituições de Ensino ou Hospitalares ou de Indústria, se pode posicionar. Os estudantes ganham a possibilidade de aceder às Instituições parceiras de forma a alargar os seus horizontes e igualmente poderem receber formação fora da Faculdade e do País. É comum a ocorrência de estágios de curta ou longa duração dos estudantes da FFUL em outras universidades ou em agências regulamentares do medicamento ou na Indústria farmacêutica. A Interação dos “stakeholders” com a Academia está em franca expansão e a FFUL está claramente envolvida no processo.

Igualmente os docentes beneficiam da internacionalização da FFUL, a qual conta com uma longa história de interações, algumas das quais convertidas em parcerias duradouras. Em consequência de algumas interações, cito os dois Doutoramentos Honoris Causa ocorridos dia 7 de julho deste ano aos Professores Gordon Amidon e Gregory Gregoriadis, ambos ilustres elementos da Comunidade científica americana e europeia, que contribuíram para a formação e desenvolvimento na FFUL de áreas como a farmacocinética e a tecnologia de produção de nanopartículas e formulações baseadas em lipossomas, mantendo-se a colaboração estreita aos dias de hoje.

PA: Relativamente à taxa de empregabilidade dos estudantes que concluem o seu percurso académico na FFUL podemos dizer que a balança é positiva?

BL: A taxa de empregabilidade do Mestrado Integrado em Ciências farmacêuticas está acima dos 90%, de acordo com o relatório anual da Universidade de Lisboa e dados da DGES, sendo que 89% dos nossos diplomados trabalham na sua área de formação, englobando a farmácia comunitária, hospitalar, hospitais, agências regulamentares do medicamento ou outras, Indústria farmacêutica ou outra, e investigação.

PA: Este ano letivo está praticamente encerrado. Acredito que já estejam com o próximo em mente. Quais são os planos para o ano de 2022/2023?

BL: Além dos novos cursos e projetos de formação da FFUL que já referi, em 2022/2023 a faculdade irá possivelmente continuar a expandir a atividade de investigação da FFUL, assim como o seu contributo à Sociedade. Um aspeto a salientar é a necessidade e importância de implementar medidas de sustentabilidade, reforçadas neste ano letivo, procurando a sensibilização de toda a comunidade para as medidas de reconversão de consumos energéticos, hídricos, etc. Haverá uma necessária alteração do nosso ecossistema tanto a nível ambiental como laboral, com a modificação de procedimentos que irão impactar também na forma de ensinar, aprender e investigar.  É um esforço que valerá a pena para a preservação e defesa das gerações de amanhã.   

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