“O Desporto e a Ortopedia” em destaque no Congresso anual da SPOT
Com o 41º Congresso Nacional marcado para o início de novembro, Rui Lemos, atual Presidente da Sociedade Portuguesa de Ortopedia e Traumatologia (SPOT), e Paulo Oliveira, Secretário-Geral da SPOT, antecipam-nos os temas debatidos e os convidados que estarão presentes neste encontro que é já uma tradição da Sociedade.
Perspetiva Atual: Como surgiu a Sociedade Portuguesa de Ortopedia e Traumatologia?
Rui Lemos: A Sociedade Portuguesa de Ortopedia (SPO) foi oficialmente criada por decreto ministerial no dia 4 de junho de 1950. Mais tarde, com a integração da traumatologia, a sua designação, viria a ser alterada para Sociedade Portuguesa de Ortopedia e Traumatologia (SPOT).
A sua fundação surge associada a um processo de luta pela emancipação da especialidade, até então na dependência direta da Cirurgia Geral. Nesses tempos, o contacto com a realidade de outros países europeus encorajou à criação da especialidade independente de Ortopedia, tanto nos hospitais como no ensino universitário de Medicina.
Entre outros, os nomes Arnaldo Rodo, Jorge Mineiro e José Botelheiro são os mais relevantes desta luta que se iniciou em Lisboa, e aos quais se juntaram rapidamente, no Porto e em Coimbra, os de Carlos Lima, Luís Carvalhais e Espregueira Mendes e um pouco depois, Norberto Canha.
O primeiro congresso da SPOT viria a surgir no ano seguinte, 1951, e pouco depois a primeira publicação científica da especialidade, a qual originalmente era uma iniciativa ibérica e ao fim de alguns anos apenas com artigos de origem nacional.
PA: Podemos dizer que a missão da SPOT se mantém a mesma desde a sua fundação?
Paulo R. Oliveira: De acordo com os seus estatutos no artigo 3 (objetivos), a SPOT tem como objetivos fundamentais o estudo, a prática, o desenvolvimento e a divulgação da Ciência Ortopédica e Traumatológica do Aparelho Locomotor em todos os seus aspetos, desde a profilaxia das doenças e deformidades até à fase de cura, concretizada no benefício dos doentes.
Assim sendo a SPOT, como instituição, mantém os objetivos de base da sua constituição, porém foi obrigada a evoluir na forma de prossecução destes objetivos, adaptando-se às novas realidades de informação, divulgação científica, preparação técnica e científica dos ortopedistas em geral e particularmente dos seus sócios.
Nos últimos anos tem-se assistido a uma revolução, não só nas áreas técnicas e científicas, mas também na valorização da qualidade do que fazemos, aquando dos tratamentos dos nossos doentes. O que implica adoção de metodologias de formação e divulgação mais consentâneas com a realidade atual, alicerçadas não só em e-learning, mas também na realidade virtual e no componente mais tradicional “hands-on” com cursos teórico-práticos, e congressos.
PA: Que atividades e serviços são realizados na SPOT?
RL: A SPOT tem uma das mais antigas e evoluídas missões de ensino de todas as Sociedades Médicas Nacionais, designada por PNAICO, que, institucionalmente, se encontra sob a alçada do Presidente eleito. Trata-se de uma iniciativa pedagógica anual, com grande sucesso junto dos nossos internos de especialidade, recebendo o apoio do colégio de ortopedia da Ordem dos médicos.
O nosso congresso é um fórum anual do que melhor se faz em Ortopedia e Traumatologia a nível nacional e internacional. Serve ainda como momento de encontro para grupos com afinidades específicas, que aproveitam o momento e o local para debater problemas da sua área de interesse.
A nossa revista, REPOT, dedicada às publicações científicas dos sócios da SPOT, produz igualmente um serviço relevante à comunidade ortopédica no âmbito da divulgação científica e formação curricular.
Neste momento, a SPOT com quase 1000 sócios inscritos, comporta várias estruturas organizadas dedicadas às áreas de trabalho específicas, as quais, por sua vez, lançam várias iniciativas científicas individuais. Entre eles os congressos setoriais de Ortopedia Pediátrica, Joelho, ombro, pé, coluna, anca e mão movimentam a comunidade ortopédica em encontros e congressos setoriais ao longo do ano.
A SPOT tem um estreito vínculo associativo com a o Colégio da especialidade de Ortopedia. As duas instituições zelam em última instância pela qualidade da prática da Ortopedia Portuguesa, colaborando regularmente nas ações individuais de cada uma.
Existem ainda várias iniciativas de índole social, quase sempre realizadas em conjunto com a SCML. Estas campanhas destinam-se à sensibilização da sociedade em geral para prevenção de quedas e respetiva traumatologia proveniente da osteoporose, bem como para os perigos das lesões da coluna cervical com os mergulhos em águas baixas, na época balnear.
PA: A SPOT mantém alguns protocolos com sociedades internacionais. Que sociedades são estas e quais os objetivos destas parcerias?
RL: A SPOT tem parcerias científicas com as suas congéneres europeias, através da federação de Sociedades Europeias de Ortopedia e Traumatologia (EFORT). Esta organização internacional, na qual Portugal está representado, exerce um forte papel unificador da Ortopedia Europeia, através de publicações, congressos e missões de ensino. Entre as suas variadas ações, sublinho a importância do exame europeu da especialidade na qual o nosso país tem desempenhado uma ação muito relevante.
Em segundo lugar, a SPOT mantém laços estreitos com a comunidade Ortopédica Lusófona, através de uma federação internacional, aonde se encontram representados virtualmente todos os países que têm o português como língua oficial.
Por último, existem protocolos específicos de representação nos respetivos congressos, com as nossas congéneres espanhola, francesa, brasileira e latino americana.
É ainda uma tradição dos nossos congressos termos uma nação convidada, a qual apresenta comunicações científicas através dos seus representantes. Este ano, no 41º congresso teremos como nação convidada a prestigiada Sociedade Ortopédica da Suíça, que seguramente nos vai apresentar palestras de elevada qualidade sobre a prática clínica neste país.
PA: Quais são os principais desafios que encontra como Presidente da SPOT?
RL: Os presidentes da SPOT exercem os seus mandatos por dois anos. Tendo eu sido eleito em Viseu em 2018, para o biénio 2021-22, o maior problema com que nos debatemos durante o mandato foi causado pelo estado pandémico em que vivemos durante quase dois anos.
Por este motivo, em 2020, não foi possível realizar o nosso congresso anual, interrompendo uma longa tradição. Esta circunstância gerou uma crise financeira e científica sem precedentes na história da SPOT, com a qual foi e será preciso continuar a lidar afincadamente.
Em 2021, e já com a atual direção em funções, tivemos pelas mesmas razões de abandonar um congresso presencial completamente preparado, e substituí-lo por um congresso virtual. Esta ação que foi surpreendentemente bem-sucedida, permitiu assegurar a continuidade, tanto em termos económicos como científicos.
PA: O 41º Congresso Nacional de Ortopedia e Traumatologia vai acontecer entre os dias 3 e 5 de novembro no Centro de Congressos do Algarve. Quais os principais temas a debate?
PO: O tema geral do congresso será “O Desporto e a Ortopedia”.
A mesa-redonda, organizada pelo Dr. Henrique Jones, será totalmente dedicada a questões relacionadas com a intervenção ortopédica nas lesões desportivas, tendo como tema “A lesão desportiva – Da prevenção à recuperação”.
As unidades funcionais da SPOT foram convidadas a abordarem temas relacionados com a atividade física e os problemas clínicos e cirúrgicos associados.
O fórum EFORT será dedicado a temas da cirurgia e patologia do joelho e vai contar com algumas grandes figuras internacionais e nacionais da cirurgia do joelho o que, por certo, será do agrado de todos os que se interessam por esta área.
Para além disto, vão existir também outros espaços dedicados a palestras sobre prevenção do Trombo-embolismo em Ortopedia e uma sessão com uma abordagem de temas desportivos com oradores particularmente envolvidos no desporto profissional.
A comissão científica, dirigida pelo Dr. António Cartucho, teve sob sua responsabilidade o escrutínio dos quase 400 trabalhos científicos enviados. As comunicações livres mais pontuadas pelo júri de revisores serão apresentadas em espaço privilegiado da secção ou sociedade respetiva, permitindo um diálogo direto com os profissionais mais afetos a cada setor do saber ortopédico.
PA: Quem são os convidados que vão participar neste congresso?
PO: Vamos ter alguns convidados nacionais, que pela sua experiência clínica, pela produção de conteúdos científicos, ou diferenciação técnica / científica, possam valorizar a comunidade ortopédica, e convidados Internacionais que são considerados como peritos nas respetivas áreas de intervenção, e que serão sem dúvida um dos principais focos de atração no nosso congresso.
Objetivos do 41º Congresso Nacional da SPOT
Desenvolver e refinar a perspetiva individual e coletiva sobre a ampla gama de conhecimentos, cuidados e práticas cirúrgicas, em ortopedia;
Providenciar uma experiência educativa personalizada através da realização simpósios e apresentações científicas;
Expandir e integrar um entendimento dos limites científicos e clínicos da cirurgia ortopédica, para melhor prevenir e tratar doenças músculo-esqueléticas;
Consolidar uma base para a prática baseada na evidencia de cuidados ortopédicos eficazes, tanto em termos de paciente individualmente como em termos de população;
Integrar a atual ciência básica, a investigação tradicional e os procedimentos e tecnologia de ponta, na prática clínica;
Fornecer um espaço de diálogo para reforçar as relações profissionais e desenvolver redes entre pares que conduzem a melhores cuidados para os pacientes, satisfação da carreira de cirurgião e uma profissão mais robusta no seu conjunto.
Como nação convidada teremos a Sociedade Ortopédica Suíça e, ainda, as participações de sociedades como a SECOT (Sociedade Espanhola de Ortopedia), a SOFCOT (Sociedade Francesa de Ortopedia), SBOT (Sociedade Brasileira de Ortopedia) e a SLAOT (Sociedade Latino Americana de Ortopedia), com as respetivas palestras dos seus presidentes e, no caso da primeira, com uma mesa-redonda da sua iniciativa.
PA: Que projetos ainda pretende concluir até ao final do seu mandato?
RL: Como seria de esperar numa sociedade com 72 anos, existem ao longo da sua existência várias situações de estrangulamento financeiro. Atualmente, devido à pandemia, estamos a atravessar um desses períodos de turbulência económica. Nestas circunstâncias, a redução dos custos de manutenção da sociedade tem sido uma das prioridades desta direção, tendo decorrido várias ações de reajustamento desde o início do mandato, procurando um saneamento financeiro absolutamente essencial nesta fase da vida da Sociedade.
Uma das nossas missões de final de mandato será a modernização do site oficial, evoluindo para um formato mais atual, com possibilidade de acesso em plataformas móveis e que em adição permita transformar custos fixos em variáveis, permitindo reduzir a despesa informática até há pouco excessivamente pesada. Esperamos que o seu lançamento possa ocorrer durante o nosso congresso, deixando a Sociedade equipada com um uma nova ferramenta de comunicação atualizada e de fácil manejo.