Imagens que salvam vidas: o papel vital da Radiologia

A Radiologia é uma disciplina que se destaca na medicina moderna, fornecendo informações vitais para salvar vidas. Na entrevista com Luís Curvo Semedo, Presidente da Sociedade Portuguesa de Radiologia e Medicina Nuclear (SPRMN), exploramos como esta organização está a impulsionar a formação, a investigação e a colaboração multidisciplinar para melhorar os cuidados de saúde em Portugal, enquanto revela os planos ambiciosos da nova direção para o futuro.

As Sociedades de Saúde desempenham um papel crucial na área da saúde em Portugal, que muitas vezes pode passar despercebido aos olhos dos cidadãos. Como presidente da Sociedade Portuguesa de Radiologia e Medicina Nuclear, poderia destacar os principais contributos desta organização para a saúde em Portugal e como isso beneficia a população?

Se pensarmos que a Radiologia obtém imagens médicas – técnicas e científicas, de facto – que têm o potencial de salvar vidas, facilmente percebemos a relevância desta especialidade médica. E, considerando que, aos dias de hoje, poucas decisões são tomadas sem ter em conta a informação que essas mesmas imagens veiculam, destaca-se o papel fundamental e transversal da Radiologia na medicina moderna.

Como em qualquer outra área do saber científico, o conhecimento é chave. É assim crucial oferecer formação e educação radiológica de qualidade, papel que a SPRMN tem vindo a desempenhar enquanto principal sociedade científica na área da radiologia no nosso país. Radiologistas mais bem formados, mais conhecedores e melhor preparados têm consequentemente o potencial de impactar de forma positiva na saúde dos doentes. É papel da SPRMN zelar pela qualidade da Radiologia em Portugal e, assim, melhorar os cuidados de saúde que são prestados à população.

A nova direção da Sociedade tem planos ambiciosos em várias áreas, incluindo formação e investigação. Quais são os projetos mais significativos que esta nova direção está a implementar no que diz respeito à formação e investigação em Radiologia e Medicina Nuclear?

A direção nutre um particular carinho pela educação em Radiologia. A SPRMN tem por obrigação estatutária fomentar a divulgação da Radiologia e participar ativamente em iniciativas de formação profissional. É neste contexto, atendendo ao desiderato de aproximar a SPRMN dos seus membros, que nasceu a ideia da Escola da SPRMN. Com esta ação a Sociedade tem vindo a oferecer um leque alargado de ações formativas.

Pretendemos expandir estas ações de curta duração (ex.: 2 dias) muito dirigidas para os internos da especialidade, onde seja possível efetuar um ensino de maior proximidade e orientado por resolução de problemas. Esta iniciativa tem ainda, a nosso ver, o mérito adicional de aproximar os alunos de um corpo docente nacional, reconhecendo os locais e os formadores capazes de proporcionar um ensino de excelência.

Outras das ações que podem materializar iniciativas no âmbito da educação médica radiológica incluem: criação de workshops técnicos ou de subespecialidade; patrocínio de miniestágios tutorados; sessões de preparação para o exame da especialidade; sessões de preparação para o EDIR (Diploma Europeu de Radiologia); patrocínio de programas de professor visitante; edição ou patrocínio de monografias temáticas; e desenvolvimento de ferramentas de e-learning.

No respeitante à investigação, propomo-nos incentivar o desenvolvimento da investigação básica ou clínica. É nossa intenção estimular este programa tentando reunir fundos (indústria, mecenato, etc.) que os possa tornar uma realidade. A SPRMN teve um programa de bolsas de apoio à investigação que, nos últimos tempos foi um pouco ‘esquecido’. É tempo de o reativar.

A atribuição de bolsas e prémios é uma forma de incentivar a excelência na área. Quais são os critérios e os tipos de bolsas e prémios que a Sociedade Portuguesa de Radiologia e Medicina Nuclear oferece aos seus membros?

Como referido no ponto anterior, a SPRMN tem efetivamente um programa de bolsas de apoio à investigação que, infelizmente, tem sido um pouco negligenciado e, muitas vezes, desconhecido dos Associados. Neste momento a direção encontra-se a rever o regulamento do programa de bolsas para que, a breve prazo, se possam fazer os ajustes necessários e, de seguida, reativar o programa, contribuindo dessa forma para o apoio à participação de Associados em reuniões científicas.

Para além disso, a SPRMN tem atribuído, e vai continuar a fazê-lo, prémios aos melhores trabalhos apresentados nas reuniões científicas que organiza. Temos tido a felicidade de beneficiar do gentil e generoso contributo da indústria que patrocina estes prémios de forma regular.

Temos inclusivamente patrocinado alguns prémios, com oferta da inscrição em atividades organizadas pela SPRMN, em eventos científicos organizados por outras entidades científicas.

A colaboração com parceiros nacionais e internacionais é fundamental para o crescimento da Sociedade. Quais são as parcerias mais relevantes que a Sociedade mantém atualmente? Existem projetos conjuntos ou iniciativas que gostaria de destacar?

Sendo a Radiologia uma ciência transversal no conhecimento médico, estão criadas as bases que podem ser utilizadas em parcerias multidisciplinares, contribuindo para afirmar a Radiologia portuguesa. Muitas ações de formação pós-graduada de outras especialidades já contam com a experiência e conhecimentos de membros da SPRMN, salientando-se também a colaboração prestada em vários fóruns de decisão, por exemplo, a nível de algumas das comissões criadas pela DGS. Está assim a SPRMN em condições de tipificar quem, como e onde pode colaborar, após indigitação pela nossa sociedade.

Para além da colaboração nacional com outras sociedades científicas, como são exemplo as de Gastroenterologia e de Pneumologia, é também vital fomentar a ligação às sociedades irmãs a nível internacional onde se destacam em lugar cimeiro a ESR (European Society of Radiology), a SERAM (Sociedad Espanola de Radiologia Médica), o CIR (Colegio Interamericano de Radiologia), a SPR (Sociedade Paulista de Radiologia) e o CBR (Colégio Brasileiro de Radiologia) pelas ligações naturais que ao longo de tantos anos se têm vindo a sedimentar. Temos vindo a ser chamados a participar em vários eventos organizados por algumas destas sociedades, ao mesmo tempo que convidamos membros destas sociedades para participarem nos eventos por nós organizados. Existem também vários eventos e programas a nível europeu, no âmbito da educação, da qualidade, da segurança e da investigação, em que a SPRMN se encontra devidamente representada e em que participa ativamente.

Tentaremos exercer influência sobre as Sociedades Científicas europeias no sentido de criar proposituras para organização de eventos científicos das mesmas (Congressos Anuais, Workshops) em território nacional, como sejam os casos do ESGAR, ESUR, ESSR, CIRSE, entre outras.

De modo a conseguir alcançar os seus objetivos, a Sociedade deve cooperar com outras instituições de saúde, especialmente nacionais. De que modo é que a Sociedade consegue cooperar com as instituições de saúde em Portugal? Quais são os benefícios dessa cooperação para os pacientes e profissionais de saúde?

A SPRMN deve manter o seu papel de garante da qualidade técnica e científica da Radiologia em Portugal. Neste domínio a SPRMN deve incrementar a colaboração e sinergia com associações de cariz profissional, particularmente com a Associação Portuguesa de Radiologia, Neurorradiologia e Medicina Nuclear (APRANEMN), assumindo a SPRMN uma posição de consultor e facilitador de iniciativas que possam promover a qualidade do exercício profissional e de contribuição na organização de atividades de índole científica e formativa.

A SPRMN deve também possuir fortes pontes de contacto com a Direção do Colégio de Radiologia da Ordem dos Médicos (OM), em particular no que respeita à organização de atividades científicas e de formação pós-graduada. A SPRMN tem por obrigação chancelar com a OM todos os eventos que venha a organizar, garantindo assim o duplo reconhecimento da sua qualidade.

No que diz respeito à colaboração com outras sociedades científicas, é de destacar o desejável incremento da colaboração com a Associação Portuguesa de Radiologia de Intervenção (APRI), que inclui Associados da SPRMN que se subespecializaram nessa área.

É também relevante a relação que se tem estabelecido com a CNIR (Comissão Nacional de Internos de Radiologia), que em 2023 organizou o seu segundo encontro anual. A SPRMN desde o início acarinhou a ideia e associou-se através do seu patrocínio científico a esta excelente e meritória iniciativa.

Chamo ainda a atenção para a mais que fulcral colaboração com sociedades científicas de outras disciplinas médicas. Sendo a radiologia transversal ao conhecimento médico, é claro que o seu contributo em eventos científicos de outras especialidades médicas é cada vez mais solicitado. Tal serve não só para aumentar a visibilidade da Radiologia, como também para melhorar o conhecimento científico e, em última análise, permitir oferecer melhores cuidados de saúde aos nossos doentes.

Este ano a SPRMN ainda tem pela frente dois projetos de grande importância: o curso AIRP, que irá acontecer de 8 a 10 de novembro, e as Jornadas

Temáticas da SPRMN, nos dias 10 e 11 de novembro. Pode começar por nos explicar o que é o Curso AIRP, qual é o público-alvo e como vai funcionar?

Temos tido a felicidade de, através de um convénio entre as duas sociedades, beneficiar da expertise do American College of Radiology Institute for Radiologic Pathology (AIRP). Esta entidade organiza cursos de correlação anatomo-radiológica de curta duração (2-3 dias), dedicados a um reduzido número de áreas da radiologia, tratadas de forma intensiva ao longo do curso, através de palestras e seminários. Assim, vamos receber 4 palestrantes norte-americanos que vão cobrir temas de radiologia musculo-esquelética, senologia e radiologia de cabeça e pescoço. Este tipo de cursos encontra-se especialmente, mas não em exclusivo, dirigido a Internos da Especialidade, sendo habitualmente muito bem recebido pelos participantes, razão pela qual consideramos constituir uma parte importante do panorama de eventos de formação e educação que a SPRMN fornece.

Já as Jornadas terão como tema a Multidisciplinaridade. O que levou à escolha deste tema e que “Multidisciplinaridade” é esta de que falamos?

Em qualquer campo, a colaboração é uma força poderosa que une diferentes perspetivas para resolver problemas complexos. Na radiologia, a imagem colaborativa está a aumentar de importância à medida que a tecnologia avança e a medicina se torna mais integrada. A imagem colaborativa é mais do que apenas partilhar imagens médicas. É uma abordagem que envolve a cooperação de diferentes especialistas para interpretar, analisar e usar imagens médicas de forma mais eficaz. Esse processo colaborativo ajuda a melhorar a acuidade do diagnóstico, otimizar o tratamento e melhorar os resultados para os pacientes. Em radiologia, a imagem colaborativa pode envolver uma variedade de técnicas e tecnologias, incluindo radiografia, tomografia computorizada (TC), ressonância magnética (RM), ecografia e outras modalidades de imagem.

Uma abordagem multidisciplinar é essencial para maximizar os benefícios para o doente. Como a radiologia não é uma disciplina isolada, mas transversal a quase todas as áreas da medicina, é fundamental que os radiologistas colaborem com outros profissionais de saúde para garantir que a imagem médica seja usada da maneira mais eficaz possível.

Desta forma, será possível melhorar a acuidade do diagnóstico, e ajustar a terapia de acordo com o paradigma atual da ‘medicina de precisão’, um conceito que se baseia na ideia de que cada paciente é único e, portanto, requer um tratamento único.

A abordagem multidisciplinar também é benéfica para os próprios radiologistas. Permite-lhes aprender com outros especialistas, desenvolver novas capacidades e manter-se atualizados sobre as mais recentes pesquisas e inovações na sua área de diferenciação. A colaboração também pode melhorar a eficiência: ao compartilhar imagens e informações, os radiologistas podem minimizar a duplicação de esforços e poupar tempo.

Quais são os grandes objetivos destes dois eventos? Como é que se enquadram na atividade da SPRMN e como contribuem para o seu progresso?

Estes são dois eventos de caráter essencialmente formativo/educativo, que se inserem na oferta habitual da SPRMN. Enquanto o Curso AIRP é habitualmente mais participado por Internos de Formação Específica em Radiologia, pela sua natureza intensiva e largamente voltada para a educação médica, as Jornadas da SPRMN têm geralmente uma participação mais abrangente, de Internos mas também de Especialistas. Ao procurar abranger, nas Jornadas, várias áreas da radiologia (Radiologia hepato-bilio-pancreática, senologia, radiologia torácica, radiologia genito-urinária e radiologia musculo-esquelética), procurámos estimular o interesse por este evento, de modo que todos os Radiologistas se possam sentir motivados a participar.

Para terminar, gostaria de apresentar algum plano ou projeto da atual direção para o próximo ano, que será o último do mandato?

A atual direção tem projetos ainda por concretizar, apesar de já ter implementado bastante do que se propôs aquando da candidatura. Eu diria que o projeto da direção que se reveste de maior importância para 2024 é a realização do Congresso Nacional de Radiologia (CNR), a principal reunião científica da radiologia portuguesa. Para nós, o próximo CNR é particularmente importante, pois temos como intenção que, a partir do mesmo, este evento possa decorrer anualmente, ao invés da periodicidade bianual a que agora obedece. Cremos estarem reunidas as condições para que o CNR passe a ser realizado todos os anos. Assim, pretendemos organizar e realizar o CNR 2024 e ter também organizado o CNR 2025, para que a próxima direção a entrar em funções possa ter já o seu trabalho facilitado. Além disso, procuraremos que os eventos organizados pela SPRMN possam visitar as diferentes regiões geográficas do país.

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