Unidade de Saúde do Oeste otimiza recursos tecnológicos e prioriza a humanização dos cuidados de saúde

A Unidade Local de Saúde do Oeste (ULSO), em funcionamento desde o início deste ano, veio agregar o Centro Hospitalar do Oeste com o Agrupamento de Centros de Saúde do Oeste Norte e Sul, fazendo com que todos beneficiem com a aproximação e rentabilização dos recursos humanos e materiais. A ULSO está focada em melhorar as condições tecnológicas, fomentando a telemedicina; em humanizar todo o serviço, com a formação Humanitude, e em construir um novo Hospital do Oeste.


Perspetiva Atual: Comecemos por conhecer a vossa área de influência. A ULS do Oeste (ULSO) cobre que unidades hospitalares e de que concelhos chegam os Utentes?

Dra. Elsa Baião, Presidente do Conselho
de Administração da ULS do Oeste

Elsa Baião: A Unidade Local de Saúde do Oeste (ULS do Oeste) agrega numa única Entidade os Hospitais de Caldas da Rainha, Torres Vedras e Peniche e os Centro de Saúde de Caldas da Rainha, Óbidos, Bombarral, Peniche, Lourinhã, Cadaval, Torres Vedras e Sobral Monte Agraço. A população residente da área geográfica de influência direta da ULS do Oeste é de 235.231 habitantes, distribuídos por aproximadamente 1.348 km2.

O volume de população aumentou 8,3% entre 2011 e 2021, acima da variação nacional (-2,1%), designadamente fruto da deslocação das famílias, provocada pelo aumento do preço do imobiliário na grande Lisboa. Para além do mais, trata-se de uma Região enquadrada numa zona com elevada afluência turística, com forte sazonalidade estival, atraindo ainda emigrantes de várias nacionalidades, nomeadamente trabalhadores nas empresas agrícolas locais.

De salientar que em 2022 foram assistidos cerca de 8.754 cidadãos de outras nacionalidades (105 nacionalidades distintas), números que revelam as necessidades que decorrem de uma camada de população flutuante, que nem sempre enquadra os números formais de residentes.

Salienta-se a estrutura cada vez mais envelhecida, o que se reflete também no aumento de necessidades de apoio social, evidenciadas no número elevado de lares (mais de 3.000 lugares) e unidades de cuidados continuados (cerca de 150 lugares) da Região, que utilizam os serviços da ULS do Oeste.

A prestação de cuidados dispersa-se por 50 edifícios distintos, sendo 3 Hospitais e 47 Unidades de Cuidados de Saúde Primários.


PA: Que serviços hospitalares a ULS do Oeste presta ao utente e qual o seu papel enquanto instituição de saúde?

EB: A carteira de serviços hospitalar é constituída por valências distribuídas pelas principais linhas de produção assistencial, nomeadamente consulta externa, internamento, hospitalização domiciliária, bloco operatório, bloco de partos, serviço de urgência, hospital de dia e meios complementares de diagnóstico e terapêutica.

Assegura duas urgências médico-cirúrgicas, uma urgência básica, duas urgências pediátricas e uma urgência de ginecologia/obstetrícia.

A oferta de cuidados de internamento tem vindo a ser assegurada com uma lotação de 290 camas e uma taxa de ocupação de 110%.

Ao nível da hospitalização domiciliária, esta é assegurada por duas equipas, uma em Caldas da Rainha e outra em Torres Vedras.

A consulta externa apresenta uma grande diversidade de especialidades e subespecialidades (mais de 30). Existem 7 especialidades no bloco operatório, que se dividem por dois blocos operatórios centrais e duas unidades de cirurgia de ambulatório (em Caldas da Rainha e Torres Vedras).

No que respeita ao hospital de dia, funcionam nesta modalidade 14 especialidades.

Ao nível dos cuidados primários, integra 9 unidades de cuidados de saúde personalizados, 11 USF, 6 unidades de cuidados na comunidade, 4 serviços de atendimento complementar, 34 extensões de saúde, 1 unidade de saúde pública e 1 centro de diagnóstico pneumológico.

A concretização da ULS do Oeste deverá ir além da soma aritmética das carteiras de serviços das várias Entidades que a integram. Para tal, é imperioso a existência de uma estratégia de crescimento de integração e diferenciação de cuidados, sustentada no desenvolvimento de serviços de proximidade eficazes e consubstanciada em infraestruturas partilhadas e equipas multidisciplinares, que coloquem as necessidades dos doentes no centro de todo o processo.

Ao longo o ano de 2024 e seguintes, pretende-se redesenhar as carteiras de serviços das Instituições que integram a ULS, de modo a incrementar a resposta às necessidades das populações e gerar ganhos clínicos adicionais.


PA: A ULSO expôs todos os seus objetivos. Pode falar-nos um pouco deles e de como os pretendem cumprir?

EB: A ULS é um modelo de organização dos cuidados de saúde que promove a integração entre as estruturas hospitalares e os cuidados de saúde primários, envolvendo também as autarquias e a comunidade, sempre com foco no utente e em cuidados de proximidade.

Nestes termos, o modelo de negócio está sustentado nos seguintes princípios:

  • Prestação de cuidados – primários, secundários e terciários – de forma integrada, garantindo uma continuidade através da gestão integrada da doença, do trabalho multidisciplinar, da disponibilização do processo clínico único e da partilha dos recursos;
  • Cuidados Primários como base do sistema, com enfoque nos cuidados preventivos, promoção de saúde, literacia e capacitação das populações, transformando os hospitais em estruturas complementares;
  • Incremento do papel da Saúde Pública para promover a saúde, prevenir a doença e na resposta a emergências de saúde pública;
  • Eficiência e qualidade técnica, através da adoção das melhores práticas e estabelecimento de protocolos clínicos orientados para a mitigação de risco;
  • Sustentabilidade económico-financeira, através da afetação dos recursos mais eficiente e efetiva.

PA: A ULS do Oeste foi criada em janeiro deste ano, numa agregação do Centro Hospitalar do Oeste com o ACES Oeste Norte e do ACES Oeste Sul. Que mudanças se fizerem sentir e quais os benefícios para os profissionais e utentes?

EB: Iniciou-se já um trajeto de simplificação de processos e de aproximação entre as equipas dos cuidados primários e hospitalares, potenciando uma maior proximidade entre profissionais e com os utentes.

 Encontra-se em constituição a Equipa de Transição de Cuidados, responsável por coordenar e facilitar a transição do doente entre os diferentes serviços de saúde, de forma a garantir o levantamento das necessidades específicas do utente e adequar os cuidados prestados na transição entre cuidados hospitalares, em ambulatório, de reabilitação, de longa duração e paliativos. Pressupõe uma abordagem multidisciplinar de saúde e social, que se pode iniciar mediante referenciação do doente crónico, partindo dos cuidados de saúde primários, do serviço de urgência ou após alta hospitalar. Integra profissionais da área da reabilitação e serviço social, necessários à promoção da articulação com as estruturas da comunidade. Podem ser utilizadas estratégias de telemonitorização ou telemedicina.

Irá realizar-se ainda o levantamento sistemático das pessoas que mais utilizam os serviços de urgência e recursos disponíveis em cuidados de saúde primários, por forma a que seja possível otimizar o acompanhamento destas pessoas, com promoção de um plano de cuidados que vá de encontro ao contexto de cada doente.

Está em curso de igual forma a criação de uma Equipa de Apoio à Prescrição, constituída por farmacêutico, médico de medicina interna, médico de medicina geral e familiar e médico de saúde pública, com vista a auditar a prescrição em utentes polimedicados. Esta equipa fomentará um trabalho de reconciliação terapêutica, mediante alertas para a prescrição de medicação sem evidência de benefício.


PA: Que projetos de investigação se encontram em curso e podem trazer alguma inovação?

EB: Em 2020, no âmbito hospitalar, foi implementado um projeto inovador de tele-reabilitação, uma nova abordagem terapêutica na área da fisioterapia, em alguns tipos de patologia crónica do ombro, recorrendo à utilização de uma plataforma digital baseada em ambiente de videojogos. Resultou do estabelecimento de uma parceira com a Clynx, uma Startup Portuguesa e o Instituto de Telecomunicações – Lisboa.

O projeto desenvolvido revelou-se eficaz para aumentar o acesso aos cuidados de reabilitação, para promover o envolvimento do utente e a sua responsabilização no plano terapêutico, para reduzir deslocações dos utentes às instalações hospitalares e os custos inerentes, e para permitir a conciliação da intervenção terapêutica com a vida diária do utente.

O projeto piloto esteve focalizado no tratamento da patologia do ombro e lançou já bases à sua expansão para as restantes unidades hospitalares do Centro Hospitalar do Oeste. No presente, já no contexto de ULS, pretende-se expandir o leque de patologias a tratar, nomeadamente do membro inferior, bem como estender a tele-reabilitação aos cuidados primários, abrangendo um maior número de utentes e patologias.


PA: De que forma se diferenciam na abordagem clínica para com os utentes?

EB: Lidamos com uma população envelhecida e dominada pela doença crónica, afetada por pluripatologia, à qual temos de corresponder em termos de necessidades em saúde. Nesta conjuntura de exigência e complexidade, somos confrontados com recursos humanos finitos, pelo que se impõe implementar estratégias que otimizem a gestão de recursos e permitam tratar e acompanhar um maior número de doentes. Neste contexto, a telemonitorização é uma ferramenta poderosa para tratar mais doentes, mantendo-os na comunidade, permitindo um acompanhamento em tempo real, gerindo os recursos escassos de forma eficiente. Está em curso a implementação da plataforma de telecuidados do SNS, com o desígnio de monitorizar à distância o estado de saúde dos utentes.


PA: A ULSO promove e dinamiza diversas ações de sensibilização e formações com os profissionais e utentes. Como é que definem ser as mais apropriadas naquele momento e qual o principal objetivo?

EB: Pretende-se expandir a aplicação da metodologia de cuidados Humanitude, que mais não é que do que uma filosofia prática de humanização dos cuidados, pautada por um conjunto de princípios e técnicas baseadas no respeito e na dignidade das pessoas.

Tendo-se iniciado em 2022 um projeto piloto nos Serviços de Ortopedia e de Obstetrícia, os efeitos foram imediatos e reconhecidos pelos profissionais e utentes, sendo agora necessário consolidar práticas e evoluir para a Certificação, através de um percurso de implementação do primeiro referencial mundial para a Humanização dos Cuidados – o Selo Humanitude.

A implementação da metodologia Humanitude não é uma regular formação profissional, mas um conjunto de etapas (que incluem efetivamente formação profissional certificada) efetivada em contexto real de trabalho, que permite capacitar interdisciplinarmente a prestação de cuidados humanizados e monitorizar os impactos na saúde e bem-estar de profissionais, utentes e famílias – um modelo de trabalho para estabelecer uma nova cultura organizacional.


PA: Como Presidente do Conselho de Administração, o que perspetiva quanto a estas ULS e que futuro espera para a do Oeste?

Este modelo organizacional tem como objetivo alcançar ganhos no acesso, de eficiência e qualidade por meio de uma abordagem transversal aos cuidados, envolvendo a partilha de recursos humanos e materiais, além da implementação de fluxos de comunicação mais sistemáticos e simplificados.

A ULS do Oeste, condicionada pela forte restrição de recursos humanos, beneficiará com esta nova realidade organizacional, já que a resposta integrada fomentará a rentabilização dos recursos materiais e humanos.

Ambiciono que esta seja uma ULS comprometida com os utentes e seus profissionais, correspondendo às suas necessidades com rigor, trabalho interdisciplinar, qualidade e humanização, procurando atingir patamares superiores de diferenciação e inovação.

Por último, de salientar que, não obstante a perspetiva de criação da ULS do Oeste, mantém-se a necessidade de avançar com a construção do novo Hospital do Oeste, bem como de proceder à beneficiação e expansão de infraestruturas e à atualização do equipamento médico, dado que se pretende continuar a oferecer aos nossos utentes e profissionais as melhores condições tecnológicas.

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