O ontem, hoje e amanhã do Departamento de Química da Universidade de Aveiro

O Professor Armando Silvestre, Diretor do Departamento de Química da Universidade de Aveiro (DQUA) dá-nos uma visão daquilo que torna o DQUA num centro de ensino e investigação de excelência.

Perspetiva Atual: Começou por ser aluno da Universidade de Aveiro, depois Professor e agora é Diretor do DQUA. Qual é a perspetiva que fica de todo este seu percurso dentro do DQUA?

Armando Silvestre: Ao longo de todos estes anos, a grande qualidade da formação académica e da investigação desenvolvidas no DQUA, juntamente com a elevada motivação e empenhamento de todos os seus membros em contribuir para a sua missão, foram os aspetos determinantes que marcaram a minha formação enquanto aluno, a minha contribuição enquanto Professor e Investigador, e agora enquanto Diretor.

O DQUA só se tornou numa referência nacional e internacional nas áreas da Química, Bioquímica, Biotecnologia e Engenharia Química, no ensino, na investigação e na cooperação com a indústria, porque os seus membros souberam fazer as apostas adequadas nos momentos chave, tanto em termos de diversificação e atualização da oferta formativa, como na modernização das instalações e equipamentos, e no recrutamento de docentes e investigadores. Foi essa capacidade, sem dúvida, que fez do DQUA aquilo que é hoje. Foram mais de três décadas de uma evolução extraordinária, mas creio que o mais importante é mesmo a certeza de que, com as excelentes condições em termos de recursos para a investigação e ensino e com o grande potencial dos Professores, dos Investigadores e dos alunos do DQUA (de quem dependerá o futuro), temos condições para, futuramente, deixarmos ainda mais a nossa marca no panorama nacional e internacional.

Se a tudo isto acrescentarmos o ambiente multidisciplinar enriquecedor que se vive no DQUA, creio que os candidatos à Universidade que procuram formação de excelência nas áreas de Química, Bioquímica, Biotecnologia e Engenharia Química, encontram no DQUA o sítio ideal para fazer a sua formação.

PA: A atual oferta formativa do DQUA tem evoluído muito nos últimos anos. Quais são os motivos que levam a esta evolução?

AS: A primeira razão para a necessidade de rever regularmente a oferta formativa é obviamente a necessidade de acompanhar a evolução da ciência, oferecendo aos nossos alunos uma formação sólida e atualizada, que lhes permita, uma vez graduados, responder de forma efetiva às necessidades do mercado de trabalho em constante mudança, mas também, se for esse o seu desejo, prosseguir com sucesso estudos ao nível de Mestrado e Doutoramento. Por esse motivo, o DQUA oferece formação nas áreas de Química, de Bioquímica, de Biotecnologia e de Engenharia Química, e compromete-se a modernizá-la ao longo do tempo, nos três níveis de formação – Licenciatura, Mestrado e Doutoramento.

Para além das quatro grandes áreas (Bioquímica, Biotecnologia, Engenharia Química e Química), o DQUA oferece ainda alguns Mestrados e Doutoramentos mais específicos em colaboração com outras instituições nacionais e estrangeiras, que também são frequentemente modernizados.

Gostava também de salientar que, além de uma formação científica sólida e atual é igualmente fundamental dotar os nossos graduados com competências transversais ao nível da comunicação, da utilização de tecnologias de informação, etc., que são hoje requisitos muito valorizados pelo mercado de trabalho. Para além dessas competências, a experiência de trabalhar em contextos diferentes, nomeadamente em instituições estrangeiras, também é muito valorizada. A nossa oferta formativa responde a estas exigências, nomeadamente estimulando a mobilidade Erasmus dos alunos durante a licenciatura e mestrado e a realização de uma parte do trabalho de Doutoramento em laboratórios estrangeiros. Os ganhos que resultam destas experiências são muito importantes para o futuro dos estudantes.

O facto de os nossos cursos de Licenciatura terem um grande número de candidatos, com excelentes médias de entrada, mostra que esse esforço vale a pena. O mesmo acontece quando olhamos para as saídas profissionais dos nossos estudantes, por exemplo, mais de 50% dos nossos alunos de mestrado realiza a sua dissertação em ambiente industrial, o que tem elevado impacto na sua empregabilidade. Já os nossos Doutorados encontram facilmente colocação em empresas nacionais e internacionais.

PA: Como referiu anteriormente, os cursos do DQUA têm uma elevada procura, situando-se entre os com melhores médias de acesso a nível nacional. Esta procura está equilibrada com as necessidades do mercado de trabalho?

AS: Com um mercado de trabalho em constante mudança não é possível sequer pensar em equilíbrios caso a caso. Temos antes de formar graduados altamente qualificados, flexíveis e dotados de competências transversais que lhes permitam responder às mudanças e a novos desafios profissionais. Na realidade essa flexibilidade acontece muitas vezes ao longo do percurso formativo dos alunos do DQUA. É possível identificar muitos alunos que fazem, por exemplo, uma Licenciatura em Bioquímica, um Mestrado em Biotecnologia e um Doutoramento em Engenharia Química, ou outras combinações da oferta formativa do DQUA. Esta é uma das riquezas da formação no DQUA. Não tenho dúvida em afirmar que os alunos que fizeram este tipo de percursos estão entre os mais bem-sucedidos, em empresas portuguesas ou estrangeiras. Aliás, a perspetiva de uma carreira internacional é algo que deve ser tida em conta e, como já referi, procuramos estimular essa internacionalização na formação dos nossos alunos.

Além disso, e tendo em conta a evolução da ciência e da tecnologia, os profissionais, por maior que seja a sua qualificação, terão cada vez mais de considerar a necessidade de, ao longo da vida, voltarem à Universidade para enriquecerem e complementarem a sua formação. Também neste contexto, a UA e o DQUA estão a trabalhar no sentido de responder a essas necessidades.

PA: Para além do reconhecimento pelos programas de ensino do DQUA, a investigação é um dos fatores que permitiu a afirmação do Departamento no panorama nacional e internacional. Para além dos projetos de investigação em associação a outras instituições de grande prestígio, possuem também muitas parcerias com empresas. Como surgem estas parcerias e em que áreas geralmente se inserem estes projetos?

AS: A investigação é um pilar fundamental da atividade universitária e de um ensino de qualidade. São duas realidades indissociáveis. A divulgação da atividade de investigação, quer por publicação de artigos científicos, quer pela apresentação dos resultados em conferências internacionais, permite aos cientistas darem a conhecer o que fazem, discutir e partilhar ideias e criar oportunidades de colaborações fundamentais para o avanço da ciência. O

reconhecimento internacional da investigação desenvolvida no DQUA, a possibilidade de integrarmos grandes projetos internacionais, ou de cientistas de outras instituições desejarem integrar os nossos projetos nascem e crescem assim.

Os investigadores do DQUA têm tido enorme sucesso na participação e, mais importante ainda, na liderança de grandes projetos de investigação nacionais e internacionais e, nomeadamente neste último caso, de Projetos Europeus do programa Horizonte 2020 e dos prestigiadíssimos projetos do European Research Council (ERC).

No que concerne a projetos com a Indústria não é muito diferente: em primeira linha é a qualidade da investigação que atrai a indústria – primeiro a investigação fundamental e, com o tempo, também os resultados da investigação mais aplicada. O facto de os investigadores do DQUA terem depositado mais de 100 pedidos de patente nos últimos anos e terem criado várias spin-off é demonstrativo do potencial de aplicação do trabalho aqui desenvolvido. Esta dinâmica atrai naturalmente novas parcerias com a Indústria.

Além dos grandes projetos em curso com algumas das empresas nacionais mais importantes, o Programa de Recuperação e Resiliência (PRR) trouxe também grandes desafios e oportunidades ao DQUA, que vai estar envolvido em múltiplos projetos que se espera que tenham uma contribuição determinante no desenvolvimento futuro de Portugal. É uma enorme responsabilidade para com as gerações mais jovens e, por isso, estaremos igualmente à altura da responsabilidade.

PA: Já tem novos planos e objetivos pensados para o próximo ano letivo?

AS: Ao nível do ensino, estamos ainda em fase de consolidação dos planos de estudos implementados no último ano letivo e, paralelamente, a planear o arranque de uma oferta formativa que permita a formação de Professores de Física e Química para o ensino secundário. Temos de estar preparados para responder à previsível carência de professores, para podermos continuar a receber, nos nossos cursos, alunos bem preparados. Estamos também apostados em melhorar a nossa rede de parcerias internacionais de mobilidade de estudantes para favorecer a sua internacionalização e, na mesma perspetiva, reforçar o número de estudantes estrangeiros que recebemos no DQUA.

Continuamos também atentos às necessidades de modernização das nossas infraestruturas de ensino e investigação, nomeadamente no que respeita ao apetrechamento dos laboratórios. Está também em fase de construção, esperando-se que entre em funcionamento até ao final do ano, um novo edifício que irá albergar todas os equipamentos de Ressonância Magnética Nuclear do DQUA, alguns dos quais únicos no país.

Ao nível da investigação, a criatividade e iniciativa dos nossos Professores e Investigadores vai com certeza trazer novos projetos e resultados muito aliciantes, gerando novo conhecimento e procurando respostas para as necessidades da nossa sociedade.

PA: Enquanto diretor, como gostaria de ver o Departamento de Química daqui a 20 anos? Ainda há espaço para mais evolução?

AS: A ciência é evolução! Os desafios que a nossa sociedade enfrenta, desde as alterações climáticas, à escassez energética e alimentar ou às novas doenças, são imensos e vão exigir muito da ciência e dos cientistas. Estou certo que os professores e investigadores do DQUA, desde os mais seniores e reconhecidos aos mais jovens (que ainda cá estarão daqui a 20 anos), e aqueles que estamos a preparar (os nossos alunos), vão ter contribuições importantes para o progresso e o bem-estar da sociedade. Isso só se consegue com uma evolução que, em muitos momentos, será disruptiva; por isso, da mesma forma que quando entrei no DQUA era difícil de imaginar aquilo que o DQUA é hoje, acho que será ainda mais difícil perspetivar o que será daqui a 20 anos, mas será de certeza melhor, também com a contribuição dos nossos futuros alunos!

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