Luís Loures, Presidente do Instituto Politécnico de Portalegre

Uma Universidade Politécnica global, que é simultaneamente motor de desenvolvimento local e regional

A atuação das quatro escolas que constituem o Politécnico de Portalegre têm, desde o início da sua história, duas grandes preocupações: o desenvolvimento regional e o acompanhamento da inserção profissional dos seus alunos. É neste sentido que a Presidência do Politécnico de Portalegre, liderado pelo Professor Luís Loures, reúne os seus esforços.

Perspetiva Atual: Está neste momento a decorrer a primeira fase de candidaturas ao ensino superior. Qual é a expectativa em relação à percentagem de preenchimento de vagas?

Professor Luís Loures: As expectativas são sempre elevadas, especialmente depois de dois anos em que fomos uma das Instituições de Ensino Superior que mais cresceu relativamente ao número de estudantes colocados via Concurso Nacional de Acesso. De qualquer forma, não podemos escamotear o facto de que o modo como a tutela organiza a distribuição das vagas por instituição – via despacho de vagas – constitui um fator determinante para a manutenção do equilíbrio entre a “oferta e a procura” e por conseguinte para a própria coesão territorial. Infelizmente, este ano, o despacho produzido não teve em conta as preocupações evidenciadas por muitas instituições e acabou por introduzir um conjunto de “exceções” que, no meu entender, contribuem de forma direta para colocar em causa o equilíbrio na distribuição de vagas por instituição, que tinha sido conquistado ao longo dos últimos anos.  

PA: Como é constituída a oferta formativa do Politécnico de Portalegre para o ano de 2022/2023?

LL: Composto por quatro escolas superiores – Escola Superior de Educação e Ciências Sociais, Escola Superior de Tecnologia e Gestão, Escola Superior de Saúde e Escola Superior Agrária – o Politécnico de Portalegre aposta num ensino assente em critérios de excelência, responsabilidade e proximidade, em todas as suas ofertas formativas – 18 Licenciaturas, 18 Cursos Técnicos Superiores Profissionais e 16 Mestrados – para além de várias pós-graduações e cursos de curta duração.

O Politécnico de Portalegre tem, no alinhamento da sua oferta formativa, uma forte preocupação a nível regional e nacional centrada nos objetivos de desenvolvimento estratégico do território, razão pela qual a sua oferta formativa diversificada enquadra globalmente temáticas estruturantes, como sejam o desenvolvimento sustentável, a digitalização, a descarbonização, a responsabilidade social, e a economia circular, afirmando-se, cada vez mais, nestes domínios a nível nacional e internacional.

PA: Para além do ensino, existem duas vertentes cada vez mais valorizadas no ensino superior, a investigação e a internacionalização. Qual tem sido o segredo do IPPortalegre para a sustentabilidade destas áreas?

LL: De facto, a investigação e a internacionalização constituem dois pilares fundamentais para o crescimento e para a afirmação que se tem verificado ao longo dos últimos anos no Politécnico de Portalegre, considerando, por um lado, o aumento significativo do número de projetos financiados e, por outro, o crescente envolvimento de estudantes em atividades de investigação aplicada que, naturalmente, contribuem para um reforço das competências dos estudantes e para a valorização do seus percursos formativos.

O segredo, se é que lhe podemos chamar assim, tem passado por uma aposta sustentada no aproveitamento de fundos estruturais para a criação ou integração de um conjunto de estruturas científicas e tecnológicas, como sejam o Centro de Investigação para a Valorização de Recursos Endógenos – VALORIZA, o Fórum para a Energia e Clima (FEC) – que integra toda a CPLP, os Laboratórios Colaborativos BioRef e InnovPlantProtect, o Laboratório Circular do Alentejo ou a Academia para o Hidrogénio – A4H2, com capacidade para envolver os estudantes ao longo dos seus percursos formativos, mas também com potencial para acolher e empregar os diplomados do Politécnico, como aliás vem acontecendo ao longo dos últimos anos.

A afirmação destes setores está muito associada ao crescimento do VALORIZA, unidade de investigação de excelência nos domínios das energias renováveis, da produção sustentável e da valorização de territórios de baixa densidade, e da BioBIP, a incubadora de base tecnológica do Politécnico de Portalegre, atualmente em fase de ampliação – 1500 m2 -, que tem contribuído para a afirmação de um dos objetivos estratégicos do Politécnico, centrado na criação de emprego e na atração de recursos humanos qualificados para a região do Alentejo – fator que tem feito a diferença ao nível da captação de estudantes internacionais, que veem nesta infraestrutura uma oportunidade de criação do próprio negócio após a conclusão do curso.

PA: No mês de junho, foi anunciado que o PRR (Plano de Recuperação e Resiliência) iria financiar a formação do IPPortalegre com um valor de cerca de 686.000€. Como será utilizado este apoio?

LL: Esse apoio, integrado no financiamento global do Projeto MERIDIES – 7,46 Milhões de Euros – um projeto realizado em consórcio, liderado pelo Politécnico de Portalegre e que integra os Politécnicos de Beja, Santarém e Setúbal e a Universidade de Évora, será essencialmente utilizado para a atribuição de bolsas de estudo e bolsas de mérito, para todos aqueles que pretendam realizar uma das mais de 100 formações de qualificação ou requalificação integradas no projeto, entre as quais se encontram 12 CTeSP, mais de 20 Pós-Graduações e 74 Micro-Credenciais. Este projeto, contando com parcerias com mais de 100 instituições públicas e privadas, nacionais e internacionais, como são exemplo os protocolos estabelecidos com a IBM, a NOS, e a AIP – Associação Industrial Portuguesa, pretende contribuir para a qualificação e requalificação de mais de 600 profissionais nos domínios da digitalização, da descarbonização, das energias renováveis, da economia circular e da produção sustentável.

PA: Uma instituição de ensino influência muito no desenvolvimento da região em que está inserida. Como é a ligação do Politécnico com o tecido empresarial regional?

LL: O Politécnico de Portalegre tem como uma das suas grandes preocupações o desenvolvimento regional, tendo uma forte relação com a comunidade envolvente. Neste sentido, e tendo por base o percurso recente, o Politécnico de Portalegre é uma instituição que, pensando global, age localmente, promovendo o desenvolvimento regional e potenciando a sustentabilidade da instituição.

Numa sociedade cada vez mais globalizada, promotora de contextos progressivamente mais competitivos, onde pessoas e organizações competem por recursos de natureza diversa, temo-nos focado no desenvolvimento de respostas locais aos desafios globais, consubstanciando-nos como motor de desenvolvimento regional, capaz de criar condições para garantir a igualdade de oportunidades para todos e promovendo os objetivos do desenvolvimento sustentável (ODS), fomentando o fortalecimento da região.

PA: Foram aprovados, no Parlamento, os projetos lei do BE e do PCP que defendem a possibilidade de os Politécnicos passarem a incluir Doutoramentos na sua formação. Qual é a sua visão sobre este tema?

LL: A minha visão sobre o tema é muito objetiva. Esta aprovação constitui o reconhecimento de um trabalho que tem vindo a ser feito pelos politécnicos como um todo. É um trabalho longo, de grande impacto nacional e internacional, feito há mais de 40 anos. Por isso, enquanto cidadão português é para mim motivo de grande orgulho que esta iniciativa de cidadãos tenha conseguido: primeiro, que os politécnicos passem a outorgar o GRAU DE DOUTOR; segundo, que alterem a sua designação de instituto para UNIVERSIDADE POLITÉCNICA. Duas alterações que além de elementar justiça, apresentam um impacto muito positivo para o País como um todo, contribuindo de forma indelével para a coesão territorial.

Na realidade, penso que a relevância destes projetos lei – cujas propostas se prendem exclusivamente com o aproveitamento da capacidade instalada e com o reconhecimento do mérito do sistema, apesar de terem suscitado intervenções de vários quadrantes da sociedade, muitas delas quase poéticas, mas demonstrando total desconhecimento do sistema de ensino superior português e da realidade nacional – foi cabalmente respondida pelos representantes da democracia portuguesa, os deputados eleitos pelo povo Português que, por unanimidade, aprovaram os 3 projetos de Lei.

Não creio poder existir outro entendimento que não seja o de que factualmente o país está de acordo com as duas alterações apresentadas, em suma: QUE AS UNIVERSIDADES POLITÉCNICAS PASSEM A OUTORGAR O GRAU DE DOUTOR!

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