Sessão Solene do Centenário da ENIDH

Um século de excelência na formação Marítimo-Portuária

No ano em que a Escola Superior Náutica Infante D. Henrique celebra 100 anos de legado, Vitor Franco Correia, presidente, destaca os momentos-chave que marcaram a evolução da instituição. Além das inovações no ensino e das iniciativas previstas para o futuro, reforça ainda a importância do recente reconhecimento como membro honorário da Ordem do Infante D. Henrique.

Perspetiva Atual: Em 2024, a Escola Superior Náutica Infante D. Henrique (ENIDH), única instituição de Ensino Superior dedicada à formação na área marítimo-portuária, comemora o centésimo aniversário. Nesta longa jor- nada de paixão pelo mar, que marcos destacaria?

Vitor Franco Correia: Inicialmente, em 1924, aquando da sua criação, foi designada por Escola Náutica e funcionava na Rua do Arsenal em Lisboa, na dependência da Escola Naval da Marinha de Guerra. Em 1936 a Escola Náutica autonomizou-se da Escola Naval, sendo esta transferida para o Alfeite.

Em 1972 foram inauguradas as atuais instalações em Paço de Arcos, pelo Presidente da República, e a instituição adotou a designação de Escola Náutica Infante D. Henrique.

Em 1989 a Escola Náutica Infante D. Henrique foi integrada no sistema de Ensino Superior Politécnico. Só alguns anos mais tarde, em 2008, alterou a sua designação para Escola Superior Náutica Infante D. Henrique, que atualmente mantém.

Ao longo dos anos as ofertas formativas da instituição foram dando resposta à evolução dos transportes marítimos e dos portos, com a criação de novos cursos, dispondo atualmente de uma oferta significativa de cursos de licenciatura, mestrado e também de cursos técnicos superiores profissionais.

Em 2022 foi inaugurado o novo Centro de Simulação Marítima com modernos simuladores marítimos nas áreas da navegação e das máquinas marítimas que permitiram um salto qualitativo importante na formação dos futuros diplomados nos cursos marítimos.

Em 2024 está em fase final de construção o Centro Internacional de Segurança Marítima que permitirá no futuro melhorar muito a qualidade da formação na área da Segurança Marítima incluindo, por exemplo, o treino em espaços confinados, e o treino em combate a incêndios em condições mais próximas das reais e de forma mais sustentável para o ambiente, entre muitas outras importantes valências. Em 2024 a Escola Superior Náutica Infante D. Henrique foi aprovada como membro da IAMU, International Association of Maritime Universities, o que abre perspetivas interessantes de colaboração com instituições fora do espaço europeu.

PA: Certamente, a celebração dos 100 anos da ENIDH é um momento de grande significado para a instituição. Dessa forma, pode falar um pouco sobre eventos, iniciativas ou atividades planeadas para assinalar a ocasião?

VFC: Preparámos vários eventos ao longo do ano de 2024, não apenas para assinalar a ocasião, mas também com o objetivo de aumentar o conhecimento da população em geral, e dos mais jovens em particular, sobre as excelentes saídas profissionais que os cursos da Escola Superior Náutica Infante D. Henrique proporcionam. As profissões marítimas não são apresentadas aos jovens no ensino básico e secundário como boas opções de carreira profissional. Queremos divulgar a Escola e os seus cursos, com testemunhos ao vivo de homens e mulheres que têm tido carreiras de sucesso nas profissões marítimas.

Assim, programámos diversas ações de divulgação junto dos jovens do ensino secundário fora da grande Lisboa, em Aveiro, Viana do Castelo, Porto, etc. Realizámos diversos Seminários e uma Conferencia Internacional Sustainable Initiatives in the Maritime Sector – SIM’24 – em colaboração com duas universidades da Noruega (NTNU e USN) dedica- da às iniciativas sustentáveis no setor marítimo. Vamos realizar em novembro de 2024, a Conferencia Internacional MESIS’24 Maritime Education, Shipping and Innovation Summit, sobre a formação marítima, a marinha mercante e a inovação no setor. Lançámos um livro sobre a história da marinha mercante portuguesa, editado pelos CTT, e duas emissões filatélicas dedicadas, uma das quais com os grandes navios e outra sobre o centenário da Escola Náutica.

PA: A ENIDH promove uma oferta formativa distinta e articulada nos diferentes ciclos de ensino. Assim, como é que os planos curriculares de cada curso têm sido atualizados, conforma a demanda do setor?

VFC: A Escola está atenta às novas necessidades de formação, nomeadamente considerando a transição energética do transporte marítimo e dos portos e a crescente digitalização. Igualmente está atenta às alterações que vão ocorrer ao nível das Normas Internacionais para a formação dos marítimos que são determinadas pela Organização Marítima Internacional (IMO), garantindo que os diplomados da ENIDH têm Certificações reconhecidas internacionalmente. Para garantir essa atualização o corpo docente participa em Conferências Internacionais na área e nas reuniões da IMO e da EMSA, a agência europeia de segurança marítima.

PA: Além disso, existem outras opções formativas, além das tradicionais, como, por exemplo, ciclos de estudos superiores não conferentes de grau académico. Qual é a importância desta variedade curricular?

VFC: Existem os cursos Técnicos Superiores Profissionais TeSP, que conferem certificação de nível 5, e permitem uma entrada direta no mercado de trabalho ou uma continuidade para os cursos de licenciatura, com equivalências diversas. Estes cursos têm 3 semestres letivos e um semestre que é um estágio numa empresa à escolha do aluno. A Escola tem protocolos com imensas empresas que disponibilizam estágios. Com frequência os diplomados são convidados para trabalhar nessas empresas após o estágio. No site da Escola Náutica estão descritos com detalhe os vários cursos disponíveis e as saídas profissionais que permitem.

Existem também cursos de curta duração para formação ao longo da vida, reconversão profissional e também para a obtenção ou renovação de diversas certificações marítimas.

PA: Quais são as estratégias adotadas pela ENIDH para promover a empregabilidade dos seus estudantes no mercado de trabalho nacional e internacional? Existem, atualmente em vigor, programas de estágio ou colaborações com entidades do setor?

VFC: A Escola estabeleceu diversos protocolos de colaboração com empresas, nacionais e internacionais, do setor marítimo, portuário e áreas afins com o objetivo de facilitar a inserção dos jovens diplomados no mercado de trabalho. O Serviço de Relações Públicas e Observatório Profissional promove a ligação entre os estudantes finalistas e as necessidades das empresas. Realizam-se seminários de divulgação das empresas no Campus da Escola e no próximo ano vamos fazer uma Feira de emprego com participação dessas empresas. Até lá, estão em funcionamento diversos protocolos com um número significativo de empresas que promovem a empregabilidade. A empregabilidade dos cursos da Escola Náutica é praticamente total, na marinha mercante nacional e internacional. A maior dificuldade poderá ocorrer nos embarques iniciais enquanto praticantes de oficial, mas os protocolos existentes com as empresas do setor pretendem justamente ultrapassar esse obstáculo.

PA: Por ocasião do centenário da ENIDH, o presidente da república condecorou a instituição com o título de membro honorário da Ordem do Infante D. Henrique. Qual é o sentimento prevalecente ao receber a condecoração?

VFC: A Ordem do Infante D. Henrique destina-se a distinguir quem tenha prestado serviços relevantes a Portugal, no país e no estrangeiro, assim como serviços na expansão da cultura portuguesa ou para conhecimento de Portugal, da sua História e dos seus valores. Ao longo destes 100 anos a Escola Náutica desempenhou um papel fundamental na formação de profissionais com qualidade reconhecida internacionalmente. Os diplomados da Escola Superior Náutica Infante D. Henrique têm deixado uma marca de competência em todos os cantos do mundo, contribuindo para a segurança marítima e para o desenvolvimento do transporte marítimo e dos portos e assim, e assim é com um enorme orgulho e também com um forte sentido de responsabilidade que recebemos esta prestigiante condecoração.

PA: Em que medida considera que este reconhecimento do Estado português contribuirá para a consolidação do prestígio e reconhecimento da escola, não só em Portugal, mas também além-fronteiras?

VFC: A atribuição do título de membro honorário da Ordem do Infante D. Henrique foi um reconhecimento muito importante. A Escola Superior Náutica Infante D. Henrique precisa de aumentar a sua visibilidade junto dos mais jovens. Ao nível do ensino básico e secundário as profissões marítimas não são apresentadas aos jovens como possíveis opções. Num país com uma rica história marítima isto não é aceitável. Os gabinetes de aconselhamento vocacional desconhecem as oportunidades que as profissões marítimas podem proporcionar, porque é um meio algo fechado. As carreiras marítimas, tanto ao nível da pilotagem como das engenharias marítimas, constituem excelentes opções para os jovens licenciados. Estas profissões têm hoje uma elevada procura a nível internacional e são extremamente bem remuneradas, quando comparadas com a maioria das oportunidades de trabalho para um jovem licenciado em Portugal. A Escola Náutica está a fazer um esforço grande para adquirir maior visibilidade e fomentar o gosto pelo mar junto dos mais jovens. Estão a ser realizados fortes investimentos em simuladores, laboratórios e equipamentos específicos para formação marítima. A Escola prepara-se para melhorar ainda mais a qualidade do seu ensino e formação e para fazer face aos desafios futuros do transporte marítimo, cada vez mais digitalizado e ambientalmente mais sustentável. Este reconhecimento do Estado Português foi muito importante porque fortalece o prestígio e reconhecimento da Escola Náutica.

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