O balanço de quatro anos desafiantes à frente da ESEnfC

Após um mandato com muitas surpresas e imprevistos, a ainda Presidente da Escola Superior de Enfermagem de Coimbra, Aida Mendes, está pronta para entregar o testemunho ao seu sucessor.

Perspetiva Atual: A Escola Superior de Enfermagem de Coimbra é reconhecida como uma das melhores escolas de enfermagem do país e do mundo, distinguindo-se pela qualidade do ensino e da investigação. Desde 2018, o seu papel enquanto Presidente foi garantir o reforço deste reconhecimento. Como foi ser o rosto à frente de uma instituição de ensino como a ESEnfC durante estes últimos quatro anos?

Professora Aida Mendes: Liderar uma instituição como a Escola Superior de Enfermagem de Coimbra é uma responsabilidade e um desafio muito grande. Responsabilidade porque há que honrar toda a história e património tangível e intangível que a Escola, ao longo dos seus 141 anos, alcançou e pelo que implica a representação da nossa comunidade académica – estudantes, docentes e investigadores e outros técnicos de diferentes carreiras e serviços – que todos os dias mostra o seu valor e se esforça para concretizar os objetivos comummente traçados, que se orgulha da marca ESEnfC e que olha para o futuro com a esperança e a motivação necessárias para fazer mais e melhor. Este reconhecimento do valor da nossa comunidade académica e da responsabilidade social que a Escola tem pela abrangência da sua missão nas áreas da educação, da investigação e da intervenção comunitária, se implica responsabilidade é, também, desafiador e motivador para o cumprimento deste cargo que assumi durante os últimos anos.

PA: Teve o infeliz acaso de apanhar toda a pandemia pelo meio do seu percurso, o que tenho a certeza que resultou num mandato muito diferente do que estava à espera.  Agora, com tudo mais calmo e com o funcionamento da escola perto do “normal” e com uma perspetiva mais alargada sobre este período, quais foram os grandes desafios para si enquanto Presidente, para os alunos e para a própria instituição?

AM: O eclodir da pandemia de COVID-19 e todo o período de grande instabilidade que se veio a gerar colocou-nos perante a necessidade de escolher o que fazer a cada momento, sem grandes certezas sobre a eficácia das medidas e da sua razoabilidade. Tomamos como lema “não deixar ninguém para trás e manter a comunidade segura”. Assim, preocupamo-nos em que os estudantes pudessem completar os seus anos académicos dentro dos prazos previstos, o que foi conseguido na finalização dos cursos em qualquer um dos anos, desde 2019 até ao de 2022. Por outro lado, tentámos que essa progressão escolar ocorresse nas melhores condições de segurança possíveis. Não foi fácil criar estas condições, em primeiro lugar, porque o início da pandemia gerou muita ansiedade e medo e os meios de segurança disponíveis eram escassos, e, depois, mais tarde, porque o prolongamento da crise pandémica tendeu a provocar algum cansaço e uma certa falta de espírito académico, tão essencial à aprendizagem bem-sucedida. Felizmente, penso que o balanço é sobejamente positivo. De facto, a pandemia também reforçou a nossa capacidade de lidar com a incerteza, gerou o desenvolvimento de outras estratégias de ensino-aprendizagem, possibilitou reforçar laços de confiança e incrementar a articulação com as instituições de saúde parceiras e, apesar de tudo, mostrou que a atividade científica se continuou a desenvolver e que a divulgação e a consolidação de redes internacionais foi possível.

PA: Da última vez que falou à Perspetiva Atual, em setembro de 2021, referiu que ainda tinha objetivos para alcançar enquanto presidente da ESEnfC, como era o caso do aumento do espaço de simulação, do aumento da unidade de investigação e da criação de uma biblioteca aberta ao Público. Todas as metas foram alcançadas? Em que ponto foram deixados estes três objetivos?

AM: A Escola tem crescido em desenvolvimento de projetos e na sua atividade tida como um todo. Para garantir que este desenvolvimento não fica prejudicado é essencial que a Escola cresça, também, no seu espaço físico. Temos feito uma boa gestão do património que temos, permitindo a sua plena ocupação e adaptando-o à medida das necessidades que vão surgindo, provocadas por acontecimentos previsíveis e/ou por nós suscitados, como também daquelas que surgiram sem aviso prévio, como o contexto pandémico que vivemos.

Prevemos que a Escola continue a assumir cada vez mais um papel relevante nas suas áreas de missão e, para tal, é necessário que as nossas infraestruturas, que hoje já se encontram no seu limite de capacidade, se possam expandir e multiplicar.

A construção destas novas infraestruturas, essenciais para a concretização desses objetivos enunciados, não se concretizam na sua plenitude num único ano. Demos alguns passos essenciais para a sua concretização, com a realização de todos os trabalhos preparatórios para submissão de parecer prévio à Câmara Municipal de Coimbra, incluindo uma reunião entre a ESEnfC e a CMC para apresentação de um primeiro estudo e recolha de sugestões da Sra. Vereadora Profa. Doutora Ana Bastos e da sua equipa técnica da área da Gestão Urbanística, que foram essenciais para agora termos muita confiança na sua futura aprovação. Este é, no entanto, um projeto que representa um grande investimento e para que se venha a concretizar será necessário garantir o financiamento adequado.

PA: Agora que está na reta final do seu mandato, como se sente ao ver os resultados desta direção? Que projetos sente mais orgulho de ter concretizado?

AM: Sinto-me tranquila. Tenho consciência de que não só eu, mas em conjunto com a equipa que me acompanhou, termos feito o melhor possível. Foi um mandato desafiante pelo contexto em que ocorreu e pela nossa persistência em manter os objetivos principais válidos, apesar de adaptados a uma situação imprevisível.

Dos objetivos que tinham sido traçados para este mandato realço a boa concretização nos programas de eficiência energética, da sustentabilidade ambiental e de desenvolvimento da rede de voluntariado e atividades de ligação à comunidade. Na área da educação e do desenvolvimento científico destaco o crescimento da Unidade de Investigação em Ciências da Saúde: Enfermagem (UICISA:E) e a excelente classificação obtida na última avaliação; a abertura do Curso de Doutoramento em Enfermagem, numa parceria com a Universidade de Coimbra; o lançamento de iniciativas de formações interdisciplinares na área da saúde, em projetos colaborativos com diferentes faculdades da Universidade de Coimbra; e, a redesignação do nosso Centro Colaborador da Organização Mundial da Saúde para a Prática e a Investigação em Enfermagem. Qualquer um destes projetos permitirão a continuidade da Escola numa posição de liderança, pois visam o desenvolvimento da ciência de enfermagem, da aprendizagem em ambiente interdisciplinar e em contribuição para uma agenda internacional de saúde.

PA: Pode já não ter planos enquanto presidente da ESEnfC, mas certamente terá expectativas para o futuro da Escola. Como gostaria de ver a ESEnfC num futuro próximo?

AM: Espero que um dia a ESEnfC possa ser uma Escola Universitária, integrada como mais uma das Unidades Orgânicas da Universidade de Coimbra. As Universidades são as organizações onde se desenvolve conhecimento e a(s) teoria(s) das diferentes áreas científicas. Ora, a enfermagem tem desenvolvimento teórico próprio, um objeto de trabalho específico e uma comunidade científica nacional e internacional, representada por diversas organizações científicas e com meios de difusão da ciência próprios que lhe confere a individualização necessária para ser considerada uma área científica específica. Foi a integração da enfermagem em universidades, em muitos países, que possibilitou a construção de modelos e teorias de enfermagem que orientam a prática profissional, que permitem um olhar diferenciado sobre a saúde e que enquadra a investigação, desde a formulação das questões a investigar até à interpretação dos resultados obtidos.

Este “olhar” próprio da enfermagem é um contributo importante para a saúde de todas as pessoas, ao longo do seu ciclo de vida e em todas as transições de saúde-doença. Será empobrecedor se os enfermeiros portugueses forem impedidos de fazer este caminho e contribuírem com a sua experiência e estudo para o conhecimento global. Apesar das colegas do mundo anglo-saxónico registarem um contributo inestimável para o desenvolvimento da ciência de enfermagem, outros países, com outras realidades, precisam de igual forma realizar estudos e construção teórica para a compreensão dos fenómenos da saúde e de como as pessoas lidam com estes.

PA: Tem alguma mensagem que gostaria de deixar para os estudantes que também verão a escola a entrar numa nova era?

AM: Aos estudantes desejo que encontrem e desenvolvam o gosto pelo conhecimento, que se deslumbrem e entusiasmem com a infinita diversidade do ser humano, e, que a cada momento do seu exercício profissional se lembrem de uma verdade antiga e simples: primeiro, não fazer mal; segundo, cuidar o melhor que souberem/puderem.

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