Um Oceano de descoberta e conhecimento

Em 2015, foi criado o Centro de I&D – OKEANOS, que se constituiu como a entidade interna de acolhimento do grupo de investigadores e técnicos que se dedicavam à investigação em Ciências do Mar no campus da Horta da Universidade dos Açores (UAc). Em 2020 e pela primeira vez de forma autónoma, o Centro OKEANOS foi acreditado e avaliado como excelente, no âmbito da avaliação periódica das Unidades de I&D pela FCT. Mais recentemente, em junho de 2022, com a publicação dos novos estatutos da Universidade dos Açores, o OKEANOS passou a ser considerado uma unidade orgânica separada, assumindo a designação de Instituto de Investigação em Ciências do Mar – OKEANOS. Esta é uma unidade de investigação na área das ciências do mar, relativamente eclética em termos daquilo que são as disciplinas científicas a que se
dedica, as quais contribuem para temáticas como as alterações globais, as tecnologias marinhas, a economia azul e governança ou a literacia dos oceanos. Neste artigo, são apresentados alguns exemplos de projetos em curso na instituição.

Projeto PESCAz

(ref. MAR01.03.02-FEAMP-0039)

O projeto PESCAz, iniciado em 2019, tem como principal objetivo contribuir para o cumprimento das obrigações internacionais do Estado, no âmbito do desenvolvimento sustentável, conservação dos recursos biológicos marinhos e gestão das pescas na Região Autónoma dos Açores. O projeto pretende examinar, em conjunto com outros stakeholders da pesca, se o conhecimento científico existente pode ser mais bem utilizado para reduzir as atuais incertezas das avaliações de unidades populacionais, realizadas pelo Conselho Internacional de Exploração do Mar, e avaliar as implicações para a gestão da pesca. A curto prazo, o objetivo é identificar os principais recursos pesqueiros monitorizados, o tipo de dados institucionais disponíveis para cada um desses recursos para a avaliação, o método de avaliação aplicado e o estado atual do conhecimento dos stocks. A longo prazo, o objetivo é desenvolver metodologias que aumentem a fiabilidade das avaliações do estado dos recursos, tendo em conta todo o conhecimento relevante disponível.

A investigação desenvolvida já permitiu:
• identificar uma lista de 22 stocks prioritários para monitorização nos Açores;
• melhorar o conhecimento e as bases de dados científicos existentes para espécies comercialmente importantes;
• publicar artigos científicos sobre a avaliação destes recursos (principalmente recorrendo a métodos para dados limitados);


• valorizar a integração do conhecimento dos pescadores/armadores em estudos científicos;
• produzir uma série de vídeos curtos que compõem uma ação de divulgação científica, direcionada a pescadores regionais sobre a avaliação e gestão pesqueira;

• colaborar com stakeholders para promover uma maior inclusão da comunidade piscatória nos processos científicos.


Até ao fecho do projeto, em dezembro de 2022, irá ainda decorrer uma reunião com os stakeholders relevantes da pesca, onde todos os resultados do PESCAz serão disseminados e discutidos. Estes resultados poderão contribuir para o apoio à decisão e promoção de boas práticas na pesca sustentável dos Açores, realçando aquilo que é urgente estudar dos pontos de vista biológicos, ecológicos e sociais.


Projeto AQUAINVERT
(INTERREG MAC 2014-2020, 2/1.1a/282 AQUAINVERT)

Cofinanciado pelo programa operacional de cooperação transfronteiriço Madeira-Açores-Canárias (INTERREG – MAC 2014-2020), o projeto AQUAINVERT assenta na cooperação e desenvolvimento conjunto de capacidades técnico-científicas que promovem a aquicultura sustentável de invertebrados marinhos na Macaronésia. O projeto foi iniciado no final de 2019 e, para além do Laboratório Experimental de Aquacultura (AquaLab) do Instituto de Investigação em Ciências do Mar – Okeanos, da Universidade dos Açores, conta com a participação do Centro de Maricultura da Calheta, através do Observatório Oceânico da Madeira (OOM/ARDITI) e do Instituto Universitário de Aquacultura e Ecossistemas Marinhos Sustentáveis (IU-ECOAQUA), da Universidade de Las Palmas de Gran Canaria. 

De uma forma geral, o projeto resulta das necessidades regionais de criar conhecimento e condições para a diversificação da produção de organismos marinhos, através de uma aquicultura sustentável. Daí que o projeto AQUAINVERT foque a sua atenção no cultivo de espécies de baixo nível trófico invertebrados marinhos e algas – o que irá permitir uma produção de baixo impacto ambiental e de baixa pegada de carbono. 

Os objetivos concretos do projeto são: 
• a criação de uma plataforma de intercâmbio conjunta para o desenvolvimento de técnicas de aquicultura sustentável em regiões ultraperiféricas; 
• fortalecer o conhecimento dos centros de investigação sobre técnicas de produção de invertebrados de interesse comercial para auxiliar na diversificação das atividades do setor;

• a avaliação do potencial para o desenvolvimento de técnicas de aquicultura multitrófica integrada (IMTA) na Macaronésia.

A investigação realizada no AQUALAB tem-se focado quer na adaptação e aperfeiçoamento das técnicas de cultivo de Haliotis tuberculata, espécie comummente conhecida como lapa burra ou abalone, quer no desenvolvimento de novas técnicas para o cultivo das espécies, localmente muito apreciadas, lapa brava e lapa mansa (Patella aspera e Patella candei). O desenvolvimento das técnicas de produção de lapas (Patella sp.) torna-se ainda mais importante se considerarmos que estas espécies, no ambiente natural, estão sujeitas a uma elevada pressão de pesca que, no passado, colocou em risco o seu estado de conservação.


Deep Rest – Conservation & restoration of deep-sea ecosystems in the context of deep-sea mining
(M2.2/DEEPREST/004/2022)

Longe da vista longe do coração, o mar profundo é o maior bioma do planeta, ocupando 92% dos oceanos e, no entanto, um dos mais desconhecidos e inacessíveis. Engloba vários ecossistemas, desde as fontes hidrotermais, os corais de águas frias e as esponjas de vidro até às vastas planícies abissais. Apesar de ser considerado pristino, já se observam impactos das alterações climáticas, das pescas e ameaças de futuras atividades antropogénicas, (exemplo: a mineração do mar profundo), colocando estes ecossistemas em risco.

O projeto DEEP REST desenvolverá uma nova abordagem para melhorar a capacidade de conservação e restauro em dois ecossistemas do mar profundo, ameaçados pela mineração: os campos de nódulos de manganês nas planícies abissais e as fontes hidrotermais nas dorsais oceânicas.

Tem como principais objetivos:
• investigar e comparar a diferentes escalas a biodiversidade, o funcionamento e a conectividade dos ecossistemas e relacioná-los com as condições ambientais;
• avaliar o potencial de restauro e a resiliência das comunidades de mar profundo a diferentes graus de perturbação, bem como identificar indicadores e pontos críticos;
• testar a eficácia de diferentes ações de restauro na recuperação das comunidades;
• proporcionar orientação científica não só às partes interessadas como também aos decisores políticos, a fim de assegurar uma melhor gestão dos recursos do mar profundo.

A novidade inerente do DEEP REST diz respeito à integração de dados ambientais e biológicos e à comparação de processos ecológicos entre dois ecossistemas distintos, a fim de identificar as principais características e funções que possam vir a afetar a resiliência das comunidades. Embora geralmente a conservação e a recuperação tenham bastante potencial para mitigar os impactos, é essencial investigar se esse método é suficientemente eficaz nestes ecossistemas, em concreto no caso da mineração.
A elaboração de ações de restauro adequadas e as estratégias de conservação abrangem também uma dimensão socioeconómica. Para além dos recursos minerais, os ecossistemas de mar profundo fornecem uma ampla gama de serviços, desde absorção de CO2 e de calor, reciclagem de nutrientes, entre outros, sendo urgente a implementação de uma estrutura de conservação antes do início da sua exploração.
Esta investigação é financiada pelo programa BiodivRestore ERA-Net COFUND através do concurso conjunto 2019-2020 Biodiversa & Water JPI, e com o financiamento das agências ANR; FWO; VDI/VDE-It; EPA; LNV; FCT; FRCT; AEI.


Projeto EcoDivePWN

Os Açores são, simultaneamente, um dos melhores laboratórios naturais para o estudo de megafauna oceânica e o melhor destino da Europa de ecoturismo marinho dirigido aos gigantes marinhos: tubarões, jamantas e cetáceos.
O projeto EcoDivePWN, do instituto de investigação Okeanos-UAc, foi desenhado para preencher lacunas importantes do conhecimento da ecologia de alguns destes grandes migradores oceânicos – tubarões e jamantas -, e os impactos de atividades antropogénicas num oceano em transformação.

Esta informação ecológica é essencial para apoiar a gestão inteligente e o uso sustentável destes recursos que, ao longo da última década, têm vindo a ganhar cada vez maior relevância económica e social, nos Açores e no mundo.

Paralelamente, o projeto desenvolveu tecnologia não invasiva inovadora a nível mundial, desenhada especificamente para jamantas e tubarões oceânicos, em alternativa aos métodos clássicos. Até agora, instrumentar estes animais implicava, normalmente, capturar e manipular, com impactos de curto e médio prazo que condicionavam o seu comportamento.
Por outro lado, a utilização de métodos não invasivos é aceite pela indústria do ecoturismo, focada num público especializado e exigente, com elevada consciência ambiental que valoriza o conhecimento e a sustentabilidade.
Atingir estes objetivos foi possível graças à parceria com o maior centro de engenharia do país, CEiiA, e outras instituições privadas e académicas de relevo internacional, com financiamento institucional, público e privado, sobretudo do programa PO Açores 2020, BBC e da fundação proWIN pro nature.


Nos últimos anos, realizámos centenas de missões, com foco nos Açores, para marcação do tubarão azul, de jamantas e do tubarão-baleia, com resultados inéditos que desafiam, em alguns casos, a imagem que tínhamos destes animais. Ao longo do caminho, e com uma pandemia pelo meio, desenvolvemos colaborações com outros investigadores que nos levaram a mergulhar entre tubarões e jamantas das Galápagos, Filipinas e Havai, já com a próxima missão prevista para o México.

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