“Academia CICS-UBI” vai inaugurar em 2024 com cursos e iniciativas sobre ciência para a comunidade em geral

Além de se encontrar no epicentro da investigação biomédica, o Centro de Investigação em Ciências da Saúde da Universidade da Beira Interior (CICS-UBI) é um catalisador de mudança na sociedade. Nesta entrevista exclusiva, Luís Taborda Barata, coordenador científico do CICS-UBI, apresenta os novos planos para 2024 e partilha os segredos da colaboração entre os 200 investigadores do Centro, a transferência de conhecimento para a indústria e o compromisso social que visa impactar a comunidade.

Podem começar por nos falar um pouco mais sobre a história e evolução do Centro de Investigação em Ciências da Saúde?

O CICS-UBI, cujo lema é “Gerar e transferir Ciência com impacto na sociedade”, foi criado em 2001. Ao longo dos anos, foi-se consolidando em recursos humanos e infraestruturas, nos pilares da sua missão e nos outputs de investigação, com aumento no número e qualidade das publicações, na inserção em colaborações e redes internacionais, no número de patentes e de projetos de investigação financiados, nomeadamente em termos internacionais.

Atualmente, o CICS-UBI tem 6 grupos de investigação: Biopharmaceuticals and Biomaterials (BB), Drug Discovery, Development and Safety (3DS), Hormones & Metabolism (H&M), Natural Products & Microbiology (NPM), Neurological Diseases (ND) e Respiratory & Allergic Diseases (RAD), que são a base da investigação translacional de elevada qualidade com foco em doenças com impacto na saúde humana e envolvendo o estudo de mecanismos moleculares subjacentes, a identificação de biomarcadores, e o desenvolvimento de ferramentas biotecnológicas e de fármacos/biofármacos mais inovadoras e eficazes na prevenção, diagnóstico, monitorização, tratamento ou prognóstico das doenças.

Finalmente, o CICS-UBI foi consolidando interações produtivas com a indústria e entidades clínicas, a academia, a governança e a sociedade, com componentes a nível internacional, nacional e regional.

O CICS-UBI concentra-se em diversas áreas de investigação, desde doenças neurológicas até às neoplásicas. Como é que o centro escolhe as áreas que deve priorizar e quais são os critérios para a seleção de projetos específicos?

O CICS-UBI escolheu estudar cinco grupos de doenças – neoplásicas (cancro), neurológicas, endócrinas, infeciosas e respiratórias, por terem um peso societário elevado. Dentro destas, foi dada prioridade àquelas em que há maior experiência e conhecimento dos investigadores deste Centro, e nas quais o papel do CICS-UBI pode ser mais inovador. Por exemplo, no cancro há um foco particular em certas formas de cancro cerebral, da próstata e da mama. Dentro de cada doença as áreas prioritárias são definidas pelos grupos de investigação existentes. Contudo, o papel da coordenação do CICS-UBI e da sua Comissão Executiva, envolve garantir que os critérios de seleção de projetos específicos têm a ver com as áreas prioritárias do Centro e que, preferencialmente, envolvem investigadores de dois ou mais grupos e incluem uma componente de internacionalização.

Com cerca de 200 investigadores, o CICS-UBI é uma comunidade significativa. De que modo a colaboração é promovida dentro do centro e quais os principais desafios enfrentados ao coordenar uma equipa tão diversificada?

No CICS-UBI, a estratégia para fomentar as colaborações internas inclui: a) reuniões regulares nas quais são apresentados trabalhos de todos os grupos e é possível fazer um levantamento de necessidades de colaboração; b) a atribuição de um prémio ao melhor artigo científico resultante da colaboração de investigadores de, pelo menos, dois grupos diferentes (“Best Annual Joint Paper Award”); c) a atribuição de um prémio ao melhor projeto envolvendo, pelo menos, dois grupos diferentes (“Collaborative Project Award”). Esta abordagem tem sido produtiva, mas coordenar uma equipa tão diversificada não é fácil e o principal desafio consiste na frequente tendência para a dispersão temática de investigação. Contudo, tem sido progressivamente criado um sentido de missão, o que tem permitido seguir o plano estratégico que visa tornar o CICS-UBI mais colaborativo, internacionalizado, inovador e com impacto científico e societário.

Além da investigação, o CICS-UBI também se compromete com a transferência de conhecimento e tecnologia para a indústria. De que forma essa transferência é facilitada e qual tem sido o impacto nas indústrias farmacêuticas e biotecnológicas, tanto a nível nacional como internacional?

O CICS-UBI tem várias áreas de investigação com forte potencial de transferência de conhecimento e tecnologia, o que se reflete no registo regular de patentes e interação com a indústria farmacêutica e biotecnológica nacional e internacional. Para facilitar estes aspetos, várias ações têm vindo a ser tomadas para com a indústria, de acordo com o Plano Estratégico: projetos conjuntos e protocolos; registo de potenciais novos parceiros; realização de doutoramentos em ambiente industrial; reuniões temáticas entre investigadores e representantes da indústria; colaboração com a UBIMedical, centro ligado ao empreendedorismo e inovação; e, ainda, a participação em redes como o Health Cluster Portugal ou a rede europeia EATRIS (translação). Assim, tem havido um impacto progressivamente maior, nacional e internacional, com estabelecimento progressivo de mais parcerias produtivas, com transferência de conhecimento e tecnologia.

É evidente que o CICS-UBI está profundamente ligado à Universidade da Beira Interior (UBI). Como é que essa parceria se manifesta no dia a dia das atividades de investigação e de que forma é que a universidade apoia os objetivos e iniciativas do centro?

O CICS-UBI é parte da UBI e comunga dos mesmos princípios de rigor, excelência e inovação na investigação. A parceria manifesta-se, entre outras formas, através da participação do CICS-UBI nas reuniões estratégicas do Instituto de Coordenação da Investigação (ICI) da UBI; de reuniões de análise e discussão, com a Reitoria e a Vice- -Reitoria para a Investigação, para resolução de problemas afetando a investigação na Unidade ID; e do envolvimento ativo do CICS-UBI em iniciativas de investigação envolvendo redes de universidades nas quais a UBI está envolvida (como a rede UNITÁ).

A UBI tem sempre apoiado todos os objetivos e iniciativas do CICS-UBI, tendo também um papel fulcral na submissão de candidaturas a financiamento de equipamentos e infraestruturas, bem como no recrutamento de recursos humanos.

No que diz respeito aos programas académicos, o CICS- -UBI oferece programas de doutoramento e cursos de curta duração em várias áreas das Ciências da Saúde. Como é que esses programas são integrados no contexto académico mais amplo da UBI e de que forma contribuem para a missão educacional da universidade?

O CICS-UBI organiza cursos de curta duração, sobre técnicas e aspetos de investigação que figuram no leque de oferta dos programas de doutoramento de Biomedicina, Ciências Farmacêuticas, e Medicina (da Faculdade de Ciências da Saúde) e de Bioquímica (da Faculdade de Ciências), entre outros cursos de formação técnica e de “soft skills”, não inseridos em programa de doutoramento. Estes cursos estão, de forma global, a ser reestruturados no âmbito da “Academia CICS-UBI” (em instalação), na vertente para investigadores. Por outro lado, os cursos estão, também, integrados na oferta formativa da UBI e das Faculdades envolvidas, e contribuem para a missão educacional da universidade ao promoverem qualificação de alto nível em termos de investigação.

Além das colaborações académicas, o CICS-UBI também se envolve em atividades de responsabilidade social em colaboração com a sociedade. De que maneira a UBI apoia essas iniciativas e qual é o impacto percebido na ligação entre o CICS e a comunidade local?

As atividades de responsabilidade social incluem ações na comunidade, bem como a organização de iniciativas no CICS-UBI para diferentes segmentos da sociedade. Em 2024, vai ser lançada a “Academia CICS-UBI” com diversos cursos e iniciativas sobre ciência, adaptados para a comunidade em geral (vertente comunitária). Mais ainda, o CICS-UBI quer promover uma intervenção ativa da comunidade na investigação através de uma estratégica de “Ciência Cidadã”. Por outro lado, o CICS-UBI também vai começar a promover, em 2024, reuniões e sessões de discussão temática sobre as doenças que o CICS-UBI estuda, e que irão envolver investigadores, clínicos, doentes e cuidadores. Finalmente, o CICS-UBI já estabeleceu, em 2023, uma colaboração com o Jornal do Fundão, para lançar uma coluna mensal de comunicação de ciência para a comunidade. A UBI tem apoiado todas as iniciativas que o CICS-UBI tem implementado neste contexto, pois está bem ciente do impacto que o CICS-UBI já tem na comunidade envolvente, mas que se quer aprofundar ainda mais.

Por fim, considerando a formação avançada e as carreiras científicas oferecidas pelo CICS-UBI, através de que meios o centro procura inspirar e preparar os jovens para seguir carreiras na investigação científica?

O CICS-UBI procura inspirar e preparar os jovens para seguirem carreiras na investigação científica neste Centro estimulante e inovador, através de iniciativas que incluem a colaboração com iniciativas da UBI, pela realização de cursos, exposições, palestras e visitas ao CICS-UBI, que têm como público-alvo alunos do ensino secundário e em fases escolares ainda mais iniciais, bem como através da colaboração ativa com alunos de mestrado e doutoramento do CICS-UBI, para organização de iniciativas e cursos de formação sobre aspetos ligados ao desenvolvimento profissional contínuo, preparando os jovens para uma carreira de sucesso em investigação.

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